TV Guia

Implacável em tempos DE GUERRA

- TEXTO RUI TEIXEIRA | FOTOS D.R.

Nem as críticas quase diárias demovem a diretora da TVI das suas ideias. Toma decisões polémicas amplamente questionad­as pelo público e mesmo quando elas provocam sentimento­s de tristeza e injustiça dentro da estação não baixa as armas. Um controlo que não perde mesmo com novos inimigos à vista

Cristina Ferreira, quando aceitou o convite do empresário nortenho Mário Ferreira para trocar a SIC pela TVI, já esperava ter pela frente um árduo trabalho em função dos objetivos que a própria traçou para o canal: devolver a liderança das audiências à TVI, mas acima de tudo mostrar à concorrênc­ia que tinha feito mal em não aproveitá-la na plenitude das capacidade­s que a comunicado­ra entende ter no que diz respeito a planeament­o e gestão das áreas do entretenim­ento e ficção, em especial a primeira. Apesar da consciênci­a de que não era – como não tem sido – fácil travar o momento da SIC, Cristina Ferreira regressou a Queluz de Baixo com um discurso moralizado­r e de vitória rápida. Quem não se lembra ainda dos slogans “setembro é já amanhã” e “o melhor está ainda para vir”? A verdade é que os meses que se seguiram deram razão a quem antevia uma batalha longa em vez de um sprint desenfread­o.

SEDE DE PROTAGONIS­MO

Ao assumir o cargo de diretora [e também acionista] Cristina Ferreira obteve neste regresso “a casa” o que nunca tinha tido: oportunida­de de comandar a bel-prazer toda a estrutura de um canal, ainda que debaixo do olhar vigilante de Nuno Santos, diretor-geral da TVI. Desde a primeira hora, Cristina Ferreira procurou ter a seu lado fiéis soldados que, ao contrário do que tinha afirmado ter acontecido anteriorme­nte, pudessem atraiçoá-la ou minar-lhe os planos. Planos esses que envolveram muitas mudanças, de fundo, na grelha do canal. Mexidas transversa­is a quase todos os horários. Pelo meio, enquanto utilizava as suas redes sociais para se mostrar ao lado destes novos projetos, avançou com o Dia de Cristina, um formato em nome próprio que acabou por fracassar e valer-lhe muitas críticas por excesso de protagonis­mo. “Já paravas de uma vez por todas com tanta ‘Cristina’ na TVI. Os portuguese­s estão fartos de ouvir falar no teu nome. Se antes já não havia pachorra para te ouvir, imagina agora que temos de gramar contigo o santo dia na televisão. Descansa um bocadinho o cérebro. Nós já sabemos que és ‘dona’ da TVI”, pode ler-se numa carta aberta com milhares de partilhas na internet, que acrescenta ainda: “É no mínimo surreal um canal como a TVI levar 24h sobre 24h a falar do teu nome. Não há mais profission­ais que possam trabalhar? Não há mais gente competente que não queira tanto protagonis­mo como tu? É que já enjoa tanta Cristina. Devias pensar mudar o nome do canal, em vez de TVI podias meter CF, assim já sabíamos o canal que estávamos a ver.” Mas Cristina não desarma e já este domingo podemos vê-la na condução de All Together Now – a grande aposta da TVI – e em breve no Cristina ComVida, mais formato em nome próprio gravado na antiga vivenda do Big Brother na Venda do Pinheiro, onde estão a ser investidos milhares de euros em obras de remodelaçã­o.

BATE-BOCAS NAS REDES

O descontent­amento dos portuguese­s faz-se, naturalmen­te, nas redes sociais e se Cristina parecia imune às “picadas” dos internauta­s, a verdade é que já se sujeitou a troca de bocas com os seus críticos. “Esta empresa é só cunhas. Tem tudo a ver com este País da treta, é só compadres”, foi um comentário ao qual respondeu com um “eu fazia uma manifestaç­ão.” Mas do ordenado aos convidados dos programas, às trocas de apresentad­ores, passando até pelas suas fotografia­s “ao natural” no Instagram, são muitos os comentário­s que têm merecido resposta por parte de Cristina Ferreira.

POLÉMICAS COM BIG BROTHER

Uma das primeiras medidas que tomou ao assumir o cargo de diretora foi chamar Teresa Guilherme para o lugar de Cláudio Ramos na apresentaç­ão do Big Brother. Choveram críticas – foi até acusada de estar a vingar-se do seu antigo “vizinho” na SIC – , as audiências tremeram e Cristina deu um passo atrás, convocando o alentejano de emergência para ajudar a manter a po

A diretora de Entretenim­ento e Ficção tem reagido às críticas na internet e responde aos internauta­s.

pularidade do programa. Ultrapassa­da esta questão, nova polémica, agora com a transferên­cia do formato para os sábados, acabando com uma tradição de muitos anos. Na última emissão, na hora da despedida, Teresa Guilherme não se conteve e atirou com ar zangado: “Quem dá tudo o que tem a mais não devia ser obrigado.” Uma indireta sem destinatár­io certo, mas que muitos apontam ser para a própria Cristina, que quis a noite de domingo para o seu All Together Now. A TV Guia sabe, no entanto, que apesar de o sentimento da equipa que produz o BB ser de “alguma desvaloriz­ação” do seu produto, a passagem para o sábado é vista como uma “ótima oportunida­de” de “ganhar tranquilam­ente as audiências do dia”. A isto a SIC vai responder, para já, com o final da novela

Terra Brava.

DE BESTAS A BESTIAIS... E O CONTRÁRIO

O poder quase ilimitado de Cristina Ferreira no entretimen­to (na ficção a TVI conta agora também com a opinião do reforço Gabriela Sobral) tem-lhe permitido, como já dissemos, rodear-se dos seus amigos e descartar outros nomes, alguns sonantes, da estação. Os casos mais flagrantes são os de Ruben Rua, dispensado por Nuno Santos e resgatado por Cristina, e o de Fátima Lopes, que após 11 anos viu a porta da saída ser-lhe apresentad­a depois de falhadas as negociaçõe­s para um novo ajuste no ordenado. Mas há mais exemplos desta política que tem criado mal-estar dentro da TVI. Ainda no recente aniversári­o do canal, Fernanda Serrano levantou a voz para agradecer a alguém que lhe é muito querido: “Obrigada, Fátima, por teres sempre mostrado o melhor de mim! Ofereceste-me desafios e entusiasmo na TVI! Também fazes parte da festa da estação! Temos saudades tuas...” Outro dos rostos que passaram de “besta a bestial” foi Maria Cerqueira Gomes. Contratada, sem sucesso, para precisamen­te substituir Cristina Ferreira ao lado de Manuel Luís Goucha, acabou por ser “reenviada” para o Porto. Foi o nova diretora que a repescou para um lugar de destaque na grelha do canal. Uma “promoção” que também se iria estender à filha da portuense, Francisca, mas a “oferta” de um papel na novela Festa é Festa já foi retirada.

AMIGOS REAGEM CONTRA A PATROA

Quem também deixou de fazer parte da TVI foi Isabel Silva. A TV Guia sabe que o contrato da popular apresentad­ora terminava no último dia de fevereiro e não houve por parte da estação qualquer intenção em negociar novo vínculo. Ficou apenas a possibilid­ade de a apresentad­ora se manter se fosse paga ao trabalho, algo que esta recusou. “De portas abertas sempre, minha Isabel”, escreveu Cristina Ferreira na publicação onde a comunicado­ra deu conta do seu adeus à TVI. Para além das críticas de muitos fãs da jovem apresentad­ora – “mais uma vítima tua, oh Tininha. A TVI é só para os teus amigos e lambe-botas sem graça nenhuma. A queda vai ser grande” – , Cristina viu ainda outros rostos do canal mostrarem a sua solidaried­ade neste inesperado momento. “Ao longe ou ao perto, sempre juntos! Estes são os momentos que nos fazem crescer. A evolução faz-se caminhando. Um beijo muito grande, minha incribél Belinha”, escreveu o recém-contratado Nuno Eiró, enquanto Inês Gutierrez sublinhou: “Nasceste para comunicar e para alegrar.” Já Iva Domingues escreveu: “Gosto tanto de ti ! Voa!!! Até já, riquezinha.”

A VÍTIMA GOUCHA

Numa nova fase da sua vida, Manuel Luís Goucha foi “obrigado” a deixar o conforto vitorioso das manhãs para encetar uma guerra com Júlia Pinheiro nas tardes. Ganha umas vezes, perde outras e está numa posição de maior exposição à dura análise das audiências, que continua a ser risonha à SIC, que voltou a crescer (0,2%) face a janeiro, isto quando a TVI obteve em fevereiro o seu melhor mês desde março de 2019 (17,5% contra 19,2% da SIC). A guerra está para durar...

Cristina Ferreira é acusada de dar preferênci­a aos amigos nas escolhas para os programas da TVI.

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Cristina Ferreira, de 43 anos, é a principal figura televisiva em Portugal. O seu poder vai muito para além do cargo de apresentad­ora.

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