MULHERES FORTES

Eunice Muñoz escreve esta semana na TV Guia

Volvidos noventa e dois anos de vida e oitenta de carreira, tive a oportunidade de viver em mim a condição de ser mulher, de observar que o mundo se divide entre as mulheres e os seus filhos. Vivi num tempo dominado por homens, mas nem por isso deixei de lado a minha dignidade de mulher. Impus-me na minha condição feminina e fui condigna em tudo o que me propus, não me verguei nunca a nenhum machismo vil que humilhasse a condição da mulher e recusei-me sempre a abandonar a independência que era minha por direito natural. Vi como evoluiu o Mundo e como cada vez mais ser mulher é uma honra maior. Aprendi que o humano existe de dentro para fora, que começam na sua essência, nos seus sonhos e nunca nas marcas da sua cara ou na ponta dos seus cabelos. Observei que o homem tem a mesma essência que a mulher, a essência comum a todo o ser humano. Dizem de Portugal que é uma Pátria, prefiro chamar-lhe Mátria nesta minha condição de mulher. Este país que é o meu, uma terra de mães, de matriarcado, um país de solo fértil para poetizas, pintoras, artistas, Mulheres. Carmen Dolores, Natália Correia, Sophia, Agustina Bessa-Luís, Amália Rodrigues, Maria de Lourdes Pintassilgo, Amélia Rey Colaço e tantas outras, muitas anónimas, cujos nomes não ficaram na memória. De hoje direi que continuamos a precisar delas, das suas vozes dignas e ativas, de hoje direi ainda que precisamos de Garças, de Mulheres fortes.