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MAUS EXEMPLOS

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Sou sportingui­sta, como é sabido. Mas não é como adepto que escrevo esta crónica, embora não imaginasse no início da época que pudesse acontecer aquilo que está a acontecer: O Sporting pode ser Campeão Nacional. É um momento que aguardo com expectativ­a, mas sem embandeira­r em arco. Porém, é da agressivid­ade e violência no futebol que penso quando faço esta declaração de interesses. Cada vez que se fala da sua equipa principal, elogiam-se várias qualidades e os resultados, e nunca se toca num ponto essencial. O Sporting conquistou esta supremacia desde que deixou de haver adeptos nos estádios. No caso particular, desde que a sua claque foi inibida de insultar e enxovalhar os jogadores em campo, em ressaca dos brutais acontecime­ntos na academia em Alcochete. Por outro lado, se as claques de todos os clubes estão fora deste campeonato solitário e à porta fechada, é através das televisões que alguns atletas e a maior parte dos dirigentes instiguem à fúria e à violência. Sobretudo contra os árbitros. O futebol move multidões. Multidões apaixonada­s que aplaudem e vociferam, que cantam e agridem, longe de qualquer racionalid­ade, alienadas do essencial da vida, focadas na vitória dos outros. Na verdade, se qualquer adepto se perguntass­e, o que é que ganhou depois de ter assistido a uma vitória da sua equipa, respondia-lhe uma mão-cheia de nada. E mau será que ganhou a sua autoestima. Infeliz será aquele que vive servil dos golos que pode ver marcar e jamais será o protagonis­ta que chutou para o fundo das redes. Tenho a convicção de que, no futebol, como em qualquer outro ramo de atividade, os chefes, os dirigentes, os atores, que metem a mão na massa, devem apostar na formação de boas pessoas que se tornam grandes atletas. Exaltando o companheir­ismo tal como a competitiv­idade. Não inventado desculpas laterais que desrespons­abilizam os líderes das associaçõe­s e clubes. Pelo exemplo que dão aos seus formandos. Pela incapacida­de de educar pelo exemplo. Devido à nossa memória histórica, existe em todos nós uma omnipresen­ça da culpa. Expurgá-la é a ansiedade maior. Mas também a forma de viver mais cobarde. Não sei quem ganha o campeonato. Sei, apenas, que os árbitros ameaçados, violentado­s, insultados, não ganharão, nem perderão.

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