VERGONHA em Monforte!
Talvez por ter nascido em Angola goste tanto de largueza e convívio. Falo de horizontes rasgados e pessoas, conhecendo-lhes nome e histórias, as que vestem vidas. Neste chão alentejano reencontrei o que havia perdido nos tempos da descolonização quando ali deixámos tudo o que tínhamos, até os sonhos. Trouxe a esperança, esperança ativa, a que nos leva à ação, e é em nome dela que agora desabafo esta inquietação por ver que a terra que escolhemos (o Manuel Luís e eu), para viver e amar, prepara-se para um futuro sombrio, enganosamente defendido em nome do desenvolvimento económico e do progresso. Este é um concelho agrícola, de gente que respeita a terra nos seus mais diversos ciclos, que a trabalha, alimentando-a com o suor do rosto e a rijeza de braços. É por eles, rostos sulcados pelo sol ardente e pela dureza da vida, seus filhos e netos, presente e futuro, que alerto para o que se prepara às portas da vila, a 500 metros do seu centro histórico e fidalgo. Alarga-se o parque industrial que nunca interessou a quem quer que fosse, basta ver pelos pavilhões existentes abandonados ou inacabados, dizimando-se dezenas de oliveiras centenárias, e lança-se a construção de uma Central de Misturas de Massas Betuminosas, a mesma que outras autarquias vizinhas recusaram por saberem dos negativos impactos ambientais que dela advirão, e tudo sem que a população tenha sido informada. Não me venham com o estafado argumento de combate ao desemprego, que desse mal não padece o concelho, tão pouco o de fixar jovens à terra, que esses, a serem mais esclarecidos e preparados, não quererão viver num ambiente pestilento e nocivo. Se o Turismo é a segunda força económica do concelho, a saber pelas unidades hoteleiras de gabarito que trazem tantos visitantes à região, veja-se o caso do muito premiado Hotel Torre de Palma, também esta terá os dias contados se for por diante tamanho atentado. Foram várias as figuras, filhos e/ou amantes da terra que, por escrito, já expuseram tais preocupações à respetiva autarquia, dela não obtendo mais do que um ensurdecedor silêncio. Um bom autarca defende os interesses da sua comunidade, não hipoteca o seu futuro. O povo tem “a faca e o queijo na mão”: chama-se voto e as eleições não tardam. Pela terra, pelo futuro, pelo respeito que me merecem quantos generosamente nos acolheram, já vai para cinco anos, digo-vos: abram os olhos. Ainda vamos a tempo!