TV Guia

PAÇO DE ARCOS, YOU HAVE A PROBLEM...

- POR LUÍSA JEREMIAS DIRETORA DA TV GUIA

Digerido o primeiro impacto da estreia com fogo de artifício de Festa É Festa na TVI, chega o momento de parar, olhar para a ficção nacional que se está a fazer e tomar medidas em conformida­de – isto, digo eu, como espectador­a no meu sofá. Vejamos. O que trouxe de novo Festa É Festa? A novela não é bem uma novela. É uma espécie de sitcom, feita de sketches encarnados pelas diferentes personagen­s, que sai totalmente da lógica de escrita de novela. Ali não há dramalhões, filhas trocadas e perdidas, vinganças de faca e alguidar, vilões e heróis. Há uma história ligeira, que tanto podia começar assim como ao contrário e cujo grande objetivo é entreter e divertir o espectador em casa. Tem bons “bonecos” – tão eficazes quanto óbvios –, cujo expoente máximo é o Bino (Pedro Alves). Tem também alta comédia, interpreta­da com distinção por Inês Herédia. E resulta. Ou seja, parecendo que não tem nada, sem se mostrar pretensios­a, tem o que é necessário para agarrar o espectador em qualquer horário – no fim do dia, em acesso ao prime time, seria igualmente um êxito. Porque é leve e não obriga a pensar.

No que é que Festa É Festa afeta a SIC? Em tudo. Em primeiro lugar, vem chamar a atenção para os objetivos do produto. A saber: se se quer uma novela fácil, com um tema popular, esta não pode ser escrita e interpreta­da de uma forma elitista. O maior problema de Amor Amor é esse: a confusão entre a ideia e a concretiza­ção. Se o núcleo dos “bombeiros”, protagoniz­ado por

José Fidalgo, Luciana Abreu e

Renato Godinho, está “no ponto”, os protagonis­tas – desde a saída de Rita Blanco – perderam-se numa história que se quer popular. Ter graça não é sinónimo de tornar caricato o “universo pimba”: é fazer parte dele. Porque é que Daniel Oliveira está com um problema em mãos no que toca à ficção? Embora com produto melhor, tem uma grande confusão de identidade de texto. Já não chega ter núcleos cómicos e dramáticos nas novelas. Mudou. E numa novela com história – e já toda gravada – reeditar episódios pode ser ainda pior. Para isso já basta o que faz a TVI com

Amar Demais, em que os episódios são mastigados à exaustão e a história há muito se perdeu. O melhor é parar e pensar, para não repetir erros.

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