SAUDADE, palmas e medos
A despedida à atriz foi carregada de emoção. Muitos recordam os melhores momentos nas novelas, outros a falta que ela vai fazer. No final do velório bateram-se palmas durante 20 minutos. Amigos alertam para a situação difícil em que ficam os dois filhos
Ovelório de Maria João Abreu, convocado por João Soares para a Igreja São João de Deus, começou antes das 11 da manhã, hora que estava marcada. Às 9h45 já alguns populares se juntavam perto da porta do templo à espera de prestar uma última homenagem à atriz de 57 anos. O viúvo João Soares chegou apoiando a mãe da atriz, Cândida Abreu, a entrar igreja. No interior já estava José Raposo que chegou muito cedo. Pouco depois começaram a chegar familiares, com exceção dos filhos. Ricardo e Miguel Raposo viram-se privados de assistir ao último adeus à mãe. A mulher de Ricardo, Rita, explicou que a culpa era foi da Covid-19. “Vivemos tempos mais do que tristes e injustos. Fomos mandados para um lugar que não tinha que existir. Hoje vivemos num luto isolado. Devido ao Covid, não iremos estar presentes na despedida do corpo da Joãozinha. Não poderemos abraçar os amigos, já. Sentimos, porém toda a vossa avalanche de amor virtual.”, escreveu nas redes sociais. Certo é que centenas e centenas de pessoas foram dizer o último adeus à atriz, com a fila de espera a percorrer a Praça de Londres, com tempo de espera que no auge chegou aos 90 minutos.
REGRESSO DOLOROSO
A morte de Maria João Abreu apanhou todos desprevenidos. “Havia sempre uma réstia de esperança”, confessou António Pedro Cerdeira no velório, triste com a perda da amiga de longa data. Alguém que ele vai tentar honrar quando regressar às gravações da novela A Serra – que foram interrompidas a 13 de maio devido à morte de Maria João. “Vamos recordá-la com ela a dizer para fazermos todos os disparates que temos direito. Porque a vida é muito curta. Ela era uma pessoa muito especial. Mãe de todos. E se há pessoa que não merecia esta partida tão cedo era ela, porque era de facto boa pessoa”, sublinhou o ator que prometeu que a partir de agora as gravações da novela A Serra vão correr ainda melhor: “Vamos fazer isto para ela.” Laura Dutra, que juntamente com Ana Marta Ferreira, Catarina Rebelo e João Maneira chegaram lavados em lágrimas, não sabia como se ia sentir. “Está a ser muito difícil desde o dia que ela se sentiu mal. O estúdio não vai ser o mesmo sem a João. Não vai ser fácil gravar sem ela. E vai levar o seu tempo. E vou sempre pensar que ela vai estar connosco porque a Maria João, acima de tudo, era uma pessoa muito especial”. De resto, palavras que iam ao encontro das de António Camelier (outro dos filhos de Maria João na novela) que estava também inconsolável. “Para mim será muito difícil continuar
neste projeto. Vai ser difícil entrar no estúdio. Mas tenho a certeza que ela queria que nós seguíssemos”. Todo o elenco da novela A Serra esteve presente, alguns chegando a entrar primeiro que muitos familiares, como Bárbara Lourenço, João Reis, José Mata, Isabela Valadeiro ou Carolina Carvalho.
JOÃO NÃO SE PREOCUPAVA COM ELA
Muitos achavam que ela estava em paz, especialmente depois dos últimos anos terem sido marcados pelo sucesso profissional e amoroso, mas também por desgostos com amigos (a burla da mãe de Sara Barradas) e maleitas que pareciam não a largar (como a fibromialgia). Contudo, João seguia em frente sem hesitar. “Ela esquecia-se muitas vezes dela. Tinha um instinto maternal alargado, que cobria todos. Era daquelas pessoas que não tinha asas mas espalhava amor. Tinha o condão de tomar conta dos outros mesmo que não tivesse nem um minuto para ela” disse Luís Aleluia à TV Guia. Palavras idênticas às de Io Appolloni. “Ela era boa pessoa. Tudo isto aconteceu porque ela estava sempre preocupada com tudo: o marido, os filhos, os netos, as novelas... não tinha tempo para pensar nela. Não cuidava de si porque não tinha tempo. Por isso é que aconteceu o que aconteceu”, vaticinou a atriz que na última vez que tinha falado com João tinha achado que ela “não era” a mesma: “A morte do pai, o desemprego dos filhos, a vigarice que ela foi alvo, tinha demasiado trabalho, havia sempre algo primeiro que ela, e isto levou-a.” António Pedro Cerdeira também já se havia apercebido que a amiga não estava bem: “Tinha falado com ela dois dias antes. Ela estava muito magra. Tinha-lhe dito para ela parar, ir de férias, largar isto tudo, porque ela andava sempre a correr de um lado para o outro. Ela falou-me da fibromialgia, mas isto é horrível.” A grande preocupação para Rosa do Canto são os filhos. Quer Miguel quer Ricardo Raposo, ambos têm tido pouco trabalho e agora a atriz só pede que não os esqueçam. “Esta homenagem que lhe estão a fazer deve ter continuidade ao trabalho dos filhos.” De facto, Miguel está neste momento na série A Rainha e a Bastarda, mas face ao drama que está a viver foi libertado para poder recuperar desta perda.
PALMAS SEM FIM
O último adeus a Maria João Abreu acabou por ser muito doloroso para a mãe da atriz, Cândida Abreu. Lavada em lágrimas, mal se apercebeu que a filha foi aplaudida durante 20 minutos sem parar por atores, populares e familiares. O mesmo se repetiu no Alto de São João, cemitério onde a atriz foi cremada.