TV Guia

UM PAI DESTROÇADO

- POR PAULO ABREU

Enorme momento de televisão, aquela conversa entre Manuel Luís Goucha e Tony Carreira, segunda-feira, 17, na TVI. Não me interessa se foi um exclusivo da estação, fruto de uma amizade de aço entre o cantor e Hugo Andrade, diretor de Conteúdos e Inovação – foi-o, claro, e ajudou-a a aproximar-se da rival SIC. A fazer a diferença. Não me interessa também se esmagou nas audiências – foi o programa mais visto do dia, com 1 milhão e 691 mil espectador­es. O que fica são as palavras de um homem marcado pela dor, mágoa, revolta, tristeza e angústia. De um pai destroçado, que perdeu a filha, aos 21 anos, num trágico acidente de viação. “Tenho duas certezas na vida: uma delas é que nunca mais volto a ver a minha filha; e a outra é que nunca mais voltarei a ser o mesmo”; “Eu já não conto. Já deixei de pensar em mim… Quando a minha filha partiu, foi de uma violência extrema. Morri por dentro. Estou a tentar encontrar a minha vida cá dentro. Não tenho problemas em dizer que bebi mais do que devia. Andei ali uns tempos… Parecia um zombie. Depois, veio alguma violência. Fui injusto com pessoas que amo muito, fui agressivo com o mundo inteiro, revoltei-me com o mundo inteiro”; “Vou diariament­e ao cemitério à procura de respostas”; ou “A noite é terrível, mas pior ainda é o acordar. O acordar é acordar na minha casa, porque já pouco saio daqui, e acordar sem saber onde estou, que dia é. Um vazio total. Adormecer é adormecer a chorar agarrado a uma almofada.” Goucha superou o desafio, bem difícil, perante os olhos de um País inteiro, e provou que foi – de facto, era – a única óbvia opção para conversar com Tony Carreira. As lágrimas, a dor cúmplice com o cantor, os silêncios respeitado­s e, depois, aquele abraço, no final, roçam um quadro (quase) perfeito. Fátima Lopes, numa grande entrevista à TV Guia – que pode ler nesta edição, a partir da página 22 –, considera-o “brilhante”, justifican­do que “faz bem qualquer coisa”.

Eis mais uma oportunida­de para constatarm­os que a apresentad­ora, mesmo magoada e desiludida com o que viveu em Queluz de Baixo nos últimos três anos, é uma mulher com “M” grande, cuja história da TV em Portugal não pode ser feita sem ela. A SIC tem aqui (mais) ouro...

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