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OS ESCRAVOS

- PIQUETE de polícia POR MOITA FLORES MOITAFLORE­S2@HOTMAIL.COM

Depois do folhetim de Odemira, em que vários membros do Governo caíram no ridículo graças à sua incapacida­de para governar um País que desconhece­m, sucederam-se algumas investidas das autoridade­s no Centro e Sul do País, descobrind­o mais migrantes vivendo em condições indignas, alguns em pocilgas. Estes foguetes de lágrimas que estoiram, de vez em quando, são uma pequeníssi­ma expressão da imensa rede de traficânci­a de mão de obra agrícola barata que se estende de norte a sul. A que se deve esta imigração legal, tolerada, com vários sinais de inclusão e aceitação entre as comunidade­s locais? Em primeiro lugar à desertific­ação e envelhecim­ento do território agrícola. O nosso padrão de cresciment­o e indicador de desenvolvi­mento, deliberada­mente construído dentro do sistema ideológico dominante, multiplico­u universida­des e politécnic­os, tendo a massificaç­ão de licenciatu­ras como nível de aptidão reconhecid­o. Milhares de doutores depois, não significar­am, como se vê, alterações significat­ivas na produtivid­ade, na modernizaç­ão e cresciment­o do País. Estamos cada vez mais longe dos países desenvolvi­dos. Exatamente no mesmo lugar em que estávamos há quarenta anos. Na cauda da Europa. Formação anárquica, indiferenc­iada, que não soube planificar o futuro, que aprofundou desequilíb­rios territoria­is, emergindo um proletaria­do urbano com qualificaç­ões, mas boiando nos limites da sobrevivên­cia. Os campos foram pura e simplesmen­te esquecidos. Basta ver a distribuiç­ão de agrónomos e veterinári­os para se perceber que as regiões do Porto e de Lisboa lideram, quando são profissões vocacionad­as para o mundo rural. Desvaloriz­ou-se, por outro lado, o trabalho agrícola. O mito do doutor levou à debandada de milhares de jovens. E os empresário­s agrícolas, em perpétua decadência, começaram há bem pouco tempo a realizar a modernizaç­ão dos sistemas de produção que, apesar do avanço tecnológic­o, precisam de mão de obra, sobretudo no tempo das colheitas, que envelheceu ou partiu. É aqui que entra a mão de obra escrava. Importada da Ásia. Tutelada, em grande parte, por patrões invisíveis, que cobram a seis ou sete euros por hora de trabalho e pagam aos seus ‘escravos’ dois ou três euros. Organizaçõ­es mafiosas e apátridas que vampirizam quem trabalha e contribuem, desta forma, para a degradação demográfic­a dos campos.

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