TV Guia

FICÇÃO: QUEM TE VIU E QUEM TE VÊ…

- NO MEU SOFÁ POR LUÍSA JEREMIAS DIRETORA DA TV GUIA

Para homenagear Maria João Abreu no momento em que se chorava o seu desapareci­mento prematuro e trágico, a SIC decidiu, no passado fim de semana, repor um episódio especial de Golpe de Sorte. E foi a pior ideia que podia ter ocorrido a Daniel Oliveira. Não pela homenagem em si: essa é maravilhos­a e merecida. Mas porque ao recordarmo­s esta série longa (a estação nunca quis chamá-la novela, embora o fosse) assinada pela Coral e que estreou a 20 de maio de 2019) pudemos comparar com o que é feito hoje. E esse é o momento em que temos vontade de chorar. Não só por termos perdido a brilhante Maria João – que aqui interpreto­u como mais ninguém o teria feito a euromilion­ária Maria do Céu – mas pela degradação do produto ficção nacional em apenas dois anos.

Vejamos. Por que razão Golpe de Sorte fica na História? Não é só por causa de Maria João Abreu que, assuma-se, carregou a “série” nos ombros, e de forma mestra, durante as várias temporadas – com destaque evidente para a primeira. É pelo cuidado com que foi produzida, realizada e, sobretudo, editada, e a qualidade da história e das suas personagen­s. Aqui, a comédia é, de facto, comédia. Daquela que faz sorrir e pensar. Não da óbvia, como vemos hoje. O drama é interpreta­do de forma real, sem palhaçada e as personagen­s não são simplesmen­te boas ou más. Podem ser tudo, porque são escritas como “humanos”, não como bonecos. Rever Golpe de Sorte é acreditar que é possível fazer produtos de ficção com qualidade no nosso País. A SIC, aliás, repetiu a proeza no último Natal ao apresentar Esperança, também brilhantem­ente interpreta­da por César Mourão, mas atirada para o ainda elitista streaming da OPTO. A estação está no seu direito de querer rentabiliz­ar os seus melhores produtos do género, promovendo as subscriçõe­s. Mas a pergunta que se impõe é: então o que sobra para a TV aberta? O refugo? O óbvio? Ainda há lugar para um Golpe de Sorte nesta nova realidade? Dá que pensar para onde caminhamos…

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