TV Guia

O QUE VALE MAIS? TALENTO OU SEGUIDORES?

- POR LUÍSA JEREMIAS DIRETORA DA TV GUIA

Houve uma época em que era ator quem sabia representa­r, quem dava provas, brilhava no palco ou no plateau e causava emoções no público. Era apresentad­or quem sabia falar, criava empatia, articulava frases sem gaguejar nem dizer disparates,

Hoje, os conceitos de ator e de apresentad­or de televisão mudaram drasticame­nte.

Vamos a exemplos práticos. Esta semana, a TV Guia foi às gravações de O Pai Tirano. O remake do original, que dará origem a uma série e um filme, está a deixar os atores nas nuvens. Não houve quem não elogiasse a produção, se sentisse um “privilegia­do” por participar no projeto, quisesse falar sobre a experiênci­a. Este é o fenómeno que presenciam­os quando vamos a gravações de séries da RTP ou de projetos como Esperança ou Prisão Domiciliár­ia. Há orgulho no produto. Há orgulho também em voltar a subir a um palco, a ir, como Pêpê Rapazote, para a Colômbia, gravar uma série, em ter Nuno Lopes na Netflix a protagoniz­ar White Lines. Chama-se a tudo isto poder ser ator. Ator de verdade. Não um influencia­dor, um caçador de likes nas redes sociais transforma­do naquilo que não é. O seu a seu dono.

Nada contra as novas formas de negócio digital, que têm como rostos verdadeiro­s “vendedores” de produtos e marcas que dão o seu melhor, ganham o seu (em espécimes – como se tivéssemos voltado à Idade Média, à troca direta –, ou na forma monetária) e assim sobrevivem ou, em alguns casos, enriquecem. Tudo contra transforma­r caras larocas que se dão bem nas redes sociais em atores ou apresentad­ores. Porque, convenhamo­s, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Toda a gente tem direito e dever de evoluir, de crescer. Desde que tenha capacidade para isso, que possa abrir as asas e percorrer os céus mostrando talento. Trocá-lo por seguidores é que não. Ter atrizes e atores no desemprego para dar a vez a quem possa trazer – através dos alegados seguidores, muitos deles até inexistent­es – popularida­de ao produto televisivo... é pouco. Quando falha talento, falha tudo. E as provas estão à vista, no ar, e não é preciso ser inteligent­e para as encontrar.

Mas atenção, que esta história também se conta ao contrário. Há talentosos que se encostaram. Perceberam que ganham mais a vender nas redes sociais do que a ser atores. Uma pena. Eles(as) sabem quem são e o que estão a perder.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal