“Tiraram-me TUDO”
O artista viveu durante um ano com sede de palco. E, sem o carinho e apoio do público, foi-se psicologicamente abaixo. “Não ter as pessoas à minha frente foi como me tirarem o ar”, assume à TV Guia
Pedro Tochas, de 49 anos, deixou o curso de Engenharia para ser artista de rua e fazer malabarismos com fogo. É talvez o mais conceituado em Portugal. Sobrevive do dinheiro dos espetáculos e, também, das palmas do público, que, devido à pandemia, esteve mais de um ano sem ouvir. Agora, com um brilho nos olhos, o jurado do Got Talent (ver caixa) assume à TV Guia que, mais do que as dificuldades financeiras, o mundo artístico passou por uma grave crise cultural. E que isso teve consequências psicológicas: “Vivemos mal, e por uma coisa que, se calhar, as pessoas nem têm noção: nem é tanto a parte financeira, mas nós precisamos do público. Ele é o nosso ar, a nossa razão existir. Já viu o que é ter uma profissão à qual dedica tantas horas, investiu dinheiro na formação, algo que o define como ser humano, e, de repente, é ilegal? Mexe connosco, psicologicamente fomos abaixo. Era ilegal juntar pessoas!”
SACRIFÍCIOS PELO PÚBLICO
O artista natural de Avelar relembra ainda à nossa revista esses momentos angustiantes na sua vida recente: “Não ter as pessoas à minha frente foi como me tirarem o ar, as coisas de que mais gosto. Passamos meses a trabalhar para aquela hora em que a pessoas nos veem no palco. Senti-me perdido.” Orgulhoso do seu trabalho, e do que faz pela sociedade, Pedro Tochas enaltece o trabalho dos artistas junto do público: “Não temos horários normais, trabalhamos quando os outros estão a curtir. Não temos fins de semana... O pessoal está na borga e nós estamos a trabalhar para os divertir, mas não interessa! O nosso contrato social é esse! Ao tirarem-me isso, tiraram-me tudo, porque é disso que eu gosto.”