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OS FILHOS

- MOITAFLORE­S2@HOTMAIL.COM POR MOITA FLORES

Oa aventura, o desafio, a cultura do microcosmo­s onde alimentam ilusões, verdades absolutas e inatacávei­s. Aqueles que por aqui seguem, tornam-se donos do mundo, e os pais não passam de “cotas” de boomers que não sabem nada de nada e estão fora de prazo. Foi o caso do Rui. Um jovem promissor. Dono de um telemóvel que o fazia sentir parte de uma imensa família virtual que lhe garantia a segurança e a liberdade. De súbito, nem os pais sabem como, assumiu-se como o dono da verdade absoluta. Até lhe achavam graça porque era o puto das causas. Marchou s filhos são o grande amor das nossas vidas. Por eles entregamos tudo, damos tudo, somos incondicio­nalmente atenciosos, donos de um amor sem limites que apenas tem como retribuiçã­o sabermos que estão bem. O contrário já não é um valor absoluto. São capazes de magoar, de frustrar, de serem violentos, desnudados do respeito e da consideraç­ão por quem tanto os ama. Sobretudo quando estão na chamada “idade do armário”. São os donos do mundo. Esvai-se o espírito crítico. A companhia dos amigos é o grande modelo de inspiração para viver em nome de várias bandeiras, uma delas contra as vacinas e a negação da Covid. Gozava a liberdade de não usar máscara e provocava a irmã e os familiares mais próximos que se submetiam aos ditames da segurança sanitária. No início de julho, adoeceu. Parecia uma gripe. Mas era uma doença respiratór­ia grave. Era Covid. Foi hospitaliz­ado e seguiu o caminho das pedras. A última vez que o viram, foi quando entrou na Unidade de Cuidados Intensivos. O Rui tinha 20 e poucos anos e estava morto. Estive com os pais naquele momento tão brutal. O seu amor infinito fora destroçado pela doença. Ele já não pode pedir desculpas pelos disparates que fez, em nome do seu convencime­nto de todas as verdades. E eles vão viver dolorosame­nte o resto dos seus dias. Abandonei o cemitério, recordando aquela mãe que, há anos, ao ser interpelad­a sobre o que falhara no percurso de toxicodepe­ndência do seu filho, felizmente recuperado, nos disse. “Faltou-me o amor firme!” E dei comigo a dar-lhe razão.

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José Gonçalves, Amadora
piquetemoi­tatvguia@gmail.com AS SUAS PERGUNTAS E PREOCUPAÇÕ­ES NÃO FICARÃO SEM RESPOSTA. José Gonçalves, Amadora

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