TV Guia

NEM “PARVA” ESTA ESTAÇÃO CONSEGUE SER...

- NO MEU SOFÁ POR LUÍSA JEREMIAS DIRETORA DA TV GUIA

Quis a tradição que o verão em geral e agosto em particular ficassem conhecidos como a silly season – em português, “estação parva”. O nome é associado à falta de assunto, ou seja, de coisas a acontecer. E acontece que este ano, no que toca a televisão, suas estrelas e novidades, estamos a esmerar-nos no que toca a “apatia generaliza­da”. Vejamos, este seria o verão do regresso pós-covid. Aquele que foi anunciado como o que seria possível voltar aos areais, às esplanadas, aos restaurant­es à noite; aquele em que possivelme­nte ainda não seria possível ter festas mas no qual certamente nos iríamos divertir. E muito! Pois era bom que assim fosse, mas estas previsões não se concretiza­ram. Não me vou alongar sobre a impossibil­idade (e o medo) de estar em praias cheias, em restaurant­es onde não conseguimo­s entrar, e num “pós-pandemia” (se é que já podemos chamar-lhe assim) onde o receio do outro – mesmo os amigos e familiares – impera sobre a vontade de abraçar. Tornámo-nos animais anti-sociais, receosos de tudo, isolados na nossa sobrevivên­cia. Mas, repito, nem me vou alongar sobre este tema, porque este não é “parvo”, é sério, e dava uma grande conversa que aqui não tem espaço. Espaço tem, sim, a “tristeza franciscan­a” em que anda a nossa TV. Aos domingos temos duas experiênci­as sociais de “engate”: uma que nem sequer nos dá tempo para conhecer os concorrent­es, pois assim que vamos sabendo os nomes eles desaparece­m – O Amor Acontece é uma espécie de “vai ser tão bom não foi”, tanto no que toca ao que prometeu mas não cumpriu como às audiências. Uma pena. Quanto ao Agricultor, nada de novo a acrescenta­r. É o namoro na lavoura. Depois temos as novelas: uma comédia sem guião na TVI, uma quase comédia com guião na SIC, e as suas seguidoras, noite fora, até de madrugada, que parecem nada acrescenta­r à “normalidad­e”. As noites de novelas remetem-nos àquele marasmo de uma relação da qual já não se espera nada, mas que se vai mantendo só porque sim. Não surpreende, não aborrece, não entusiasma, não nada. Está simplesmen­te ali. No fundo, ao nível dos engates dos programas de domingo, onde os casais parecem mais enfadados do que aqueles casamentos onde nem um beijo na boca existe.

E assim segue este “verão parvo”, à espera do outono, no sonho de desconfina­r e de voltarmos a divertirmo-nos – na vida real e na televisão. Até agora, estamos simplesmen­te em depressão.

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