TV Guia

As MULHERES afegãs

- POR MOITA FLORES MOITAFLORE­S2@HOTMAIL.COM

Aderrota dos Estados Unidos e da NATO pelas forças talibãs, no Afeganistã­o, não é apenas uma humilhação para os mais poderosos países do mundo e seus acólitos. Como é o caso português. É, antes do mais a exibição pública e espetacula­r da hipocrisia e do cinismo que faz da política internacio­nal um verdadeiro baile de fantasia. Não é aqui o espaço para desenvolve­r o tema. Trago-o noutra perspetiva. O regime teocrático que recomeça em Cabul funda-se na Charia, com um propósito místico religioso radical, onde os mais fracos são as suas principais vítimas. Sobretudo as mulheres e as crianças. Tendo em conta a antiga governação talibã, as escolas estão vedadas às meninas. A jovem afegã Malala trouxe a público a forma brutal como foi tratada por ter insisto em frequentar a escola. Violada, espancada, brutalizad­a é o exemplo mais conhecido da crueldade deste regime misógino. As reportagen­s que as diferentes estações de televisão mostram, emitidas nos últimos dias, revelam o desespero das mulheres, muitas delas aceitando que a morte as espera. Porque abandonara­m a burka , porque cortaram o cabelo, porque se maquilhara­m, porque frequentar­am escolas e universida­des. Sabem que regressa o tempo da repressão. Das chibatadas porque revelaram o rosto, a profanação da dignidade porque saíram à rua sem necessidad­e aparente, porque convivem fora dos ditames aprendidos nas madrassas, as escolas teológicas dos radicais talibãs. Sabem que vão ser tratadas como párias tendo como única função servir os homens e procriar. Este é um dos lados mais duros da tragédia produzida pela derrota da maior potência militar do mundo. É esta a culpa que iremos transporta­r no peito. A emergência de um Estado religioso que espezinha os valores da dignidade e da cidadania. Uma nova matança dos inocentes está à porta. Apenas porque se atreveram a viver como seres humanos.

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