As MULHERES afegãs
Aderrota dos Estados Unidos e da NATO pelas forças talibãs, no Afeganistão, não é apenas uma humilhação para os mais poderosos países do mundo e seus acólitos. Como é o caso português. É, antes do mais a exibição pública e espetacular da hipocrisia e do cinismo que faz da política internacional um verdadeiro baile de fantasia. Não é aqui o espaço para desenvolver o tema. Trago-o noutra perspetiva. O regime teocrático que recomeça em Cabul funda-se na Charia, com um propósito místico religioso radical, onde os mais fracos são as suas principais vítimas. Sobretudo as mulheres e as crianças. Tendo em conta a antiga governação talibã, as escolas estão vedadas às meninas. A jovem afegã Malala trouxe a público a forma brutal como foi tratada por ter insisto em frequentar a escola. Violada, espancada, brutalizada é o exemplo mais conhecido da crueldade deste regime misógino. As reportagens que as diferentes estações de televisão mostram, emitidas nos últimos dias, revelam o desespero das mulheres, muitas delas aceitando que a morte as espera. Porque abandonaram a burka , porque cortaram o cabelo, porque se maquilharam, porque frequentaram escolas e universidades. Sabem que regressa o tempo da repressão. Das chibatadas porque revelaram o rosto, a profanação da dignidade porque saíram à rua sem necessidade aparente, porque convivem fora dos ditames aprendidos nas madrassas, as escolas teológicas dos radicais talibãs. Sabem que vão ser tratadas como párias tendo como única função servir os homens e procriar. Este é um dos lados mais duros da tragédia produzida pela derrota da maior potência militar do mundo. É esta a culpa que iremos transportar no peito. A emergência de um Estado religioso que espezinha os valores da dignidade e da cidadania. Uma nova matança dos inocentes está à porta. Apenas porque se atreveram a viver como seres humanos.