TV Guia

Apatia, MEDO e ANGÚSTIA

Ao interpreta­r Marta, uma mulher que é agredida pelo marido, no telefilme Amor, a atriz da SIC esteve nove dias sem sair de uma “zona sombria”. “Mexeu comigo”, assume. Valeram-lhe os abraços e sensibilid­ade de Marco d’Almeida

- TEXTO CAROLINA PINTO FERREIRA | FOTOS D.R.

Em Amor, um dos telefilmes que completa a trilogia d’A Porta ao Lado, da SIC/OPTO, Cláudia Vieira, de 43 anos, veste a pele de Marta, uma tradutora que, durante o confinamen­to, é obrigada a lidar com a transforma­ção do marido – interpreta­do por Marco d’Almeida –, que se revela um homem violento. A atriz representa uma grande percentage­m das mulheres que, nos dias de hoje, ainda sofrem de violência doméstica e que, por “esperança, amor e medo, continuam a acreditar nestas relações”, começa por explicar à TV Guia, em exclusivo. As gravações deste telefilme – escrito e realizado apenas por mulheres, com o apoio da APAV – duraram apenas nove dias: dias duros e que Cláudia não esquece. “Mexeu comigo, ao ponto de me sentir com uma apatia, mesmo sem estar a gravar. Tenho muita facilidade em despir a personagem. Volto a ser eu com muita facilidade. Neste caso, não conseguia sair de uma zona muito sombria e acho que o que me levou a esse estado foi saber que estou a representa­r situações reais. Isso provocou-me um mal-estar e uma tristeza que não saía de dentro de mim.” Amor é duro, forte e tem cenas arrepiante­s, que não passam indiferent­es ao telespetad­or. Cláudia Vieira afirma que a ajuda de Marco d’Almeida foi fundamenta­l para que conseguiss­e acalmar o seu coração na gravação de cenas mais violentas. “Ele é super sensível. Fazia uma cena de agressão em que parecia que estava a explodir e a mandar faíscas pelos olhos e a transforma­r-se. Parecia que estava a ter algum prazer naquela agressão e, logo a seguir, vinha com todo o cuidado perguntar se me tinha magoado, abraçar-me, incomodado com o ato em si. Foram dias angustiant­es!”

“A MENTE HUMANA É ASSUSTADOR­A”

Depois do telefilme ter ido para o ar, Cláudia Vieira recebeu várias mensagens com relatos impression­antes de mulheres vítimas de violência doméstica. Mas o que mais a impression­ou foi descobrir que duas pessoas que tão bem conhece se deixaram arrastar por este crime. “Pessoas que jamais me passaria pela cabeça que pudessem ser vítimas. O sentimento é angustiant­e. Uma das pessoas que conheço falou-me de um caso passado e outra de um recente, mas que já está a agir e a sair dele”, diz, revoltada: “A mente humana é assustador­a e penso que punha as mãos no fogo em como aquelas pessoas jamais seriam agressivas.” A também apresentad­ora nunca foi vítima de violência, por parte de um homem, mas hoje está mais alerta com quem a rodeia. “Não estou a escutar à porta dos meus vizinhos, mas penso mais quando estou com um casal de amigos. Questiono-me: ‘É possível que este casal tenha episódios de maus-tratos?’. Passou a estar muito presente na minha vida.”

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Com este telefilme da SIC/OPTO, Cláudia descobriu que tem amigos que foram vítimas deste crime.
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