TV Guia

DUAS CARTAS DE ESPERANÇA

- POR LUÍSA JEREMIAS DIRETORA DA TV GUIA

1. Querido Pedro, eu sei que não é fácil, nem está fácil. Recordo-me dos alertas que foste deixando e aos quais deveríamos todos ter dado mais importânci­a. É esta mania de desvaloriz­ar, sabes? De acharmos que somos todos super-homens e supermulhe­res e que tudo se resolve e não nos podemos pôr com mariquices porque os outros esperam sempre que sejamos fortes e não meros humanos. Mas somos. Figuras de carne e osso, não Messias. Temos fraquezas, medos, muitos sonhos que vão ficando por realizar. E depois, a certa altura, do nada (tantas vezes) pomos tudo em questão, incluindo nós próprios. E caímos, sem dar por isso, sem rede. Os outros, os verdadeira­mente nossos, estão lá, sempre estarão. Mas no momento de sobreviver ou cair de vez, a luta é connosco e não é nada fácil. Talvez agora passemos a dar mais importânci­a a estas questões da saúde mental, de que tanto se fala, mas sobre as quais pouco se sabe.

Quis dizer-te isto. Não é para leres agora. Só depois, quando já tiveres voltado às tuas coisas, aos teus, às tuas músicas, aos teus desejos, que irás realizar, acredita. Estamos todos à tua espera, Pedro. Os teus amigos da televisão, da bola, da Eurovisão. Vê se ficas fresco porque fazes falta. Até já.

2. Meu caro Zé, sabes que eu sou uma cética. Acho fantástico dar um empurrão à produção nacional de ficção, acho fundamenta­l fazê-lo a bem de todos nós e dos espectador­es. Às vezes acho que há grandes abismos: que se produzem coisas boas e outras grandes porcarias. E que a televisão pública não pode ser o saco onde tudo cabe. Não cabe. Só pode acolher o melhor porque o resto não merece. Falava eu sobre as séries que produzes em grandes doses e que, se umas se destacam, outras passam ao lado sem ficar para a História. Acontece que aceitaste apostar num produto, ao qual se chamou mininovela – o Pôr do Sol, já percebeste – e que é uma pedrada no charco na produção nacional. A série – deixa-me chamar-lhe assim – está ao melhor nível BBC, rainha do nonsense, das piadas secas, do humor cáustico e inteligent­e. Parabéns aos atores, aos autores e a ti – que não tiveste medo porque percebeste que isto, sim, também é televisão de serviço público: uma televisão que “abre a cabeça”, que sabe brincar e que não tem de ser óbvia. Pôr do Sol corre o risco de não ser compreendi­da por todos, mas marca uma viragem. E isso é bom, Zé.

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