Apostas DE RISCO
“A televisão plastifica tudo. O que pode ser um sucesso no digital, chega à TV e pode ser um flop”
Os diretores dos canais generalistas estão de olho nos fenómenos das redes sociais e acreditam que seja a nova geração de apresentadores... mas podem falhar. Helena Coelho e Bruno Nogueira, por exemplo, não corresponderam às expectativas e a TV Guia explica porquê
Cada vez mais se assiste a uma fusão entre o digital e o mundo televisivo. Atentos às novas tendências e aos novos públicos, os diretores dos canais apostam em influencers que são verdadeiras referências para largas centenas de milhares de seguidores. Helena Coelho, de 40 anos, e Mafalda de Castro, de 27, são dois desses grandes exemplos. Começaram por ser fenómenos no Instagram e sua popularidade levou-as ao pequeno ecrã. A atual apresentadora do Em Família – e agora mais recentemente dos diários do Big Brother – conta com 621 mil seguidores. Mafalda de Castro é igualmente um sucesso no mundo digital. Com cerca de 351 mil fãs, começou por traçar o seu percurso com a sua paixão pela moda. Mas... será que a mesma fórmula funciona na televisão? O que é que lhes falta para se tornarem estrelas para o grande público? A TV Guia falou com um especialista em marketing digital que explica, ponto por ponto, as grandes diferenças dos dois mundos.
PERDA DE IDENTIDADE
Não nos podemos esquecer também de Bruno Nogueira. O ator e humorista de 39 anos foi um sucesso com os seus diretos no Instagram durante a pandemia, tornou-se um rosto exclusivo da SIC mas as audiências deixaram a desejar. “O Bruno Nogueira pode ser um mega sucesso no digital, o maior fenómeno do ano, mas chega a televisão e tem que jogar as regras que esta impõe e pelo público. É outro campeonato. Não quer dizer que a televisão seja mais exigente. Mas basta pensarmos: se falarmos no trabalho com a mesma linguagem que falamos com os nossos amigos, se calhar não vamos ser bem interpretados”, começa por referir o especialista. Mas as grandes diferenças explicam-se exatamente pela falta de identidade. As pessoas seguem estas personalidades por se identificarem com elas, pelas tendências... e na televisão tudo muda. “A televisão tem um formato muito próprio. Pega em várias vozes, narrativas e trabalha para que elas sejam iguais.
Basta ver um Somos Portugal, por exemplo. As pessoas que estão lá usam a mesma linguagem, olham para a câmara… há ali um formato e isso é o que a televisão vende. O digital é completamente diferente. No digital as pessoas podem ser elas a 100%: podem dizer palavrões, ser incongruentes, podem ter uma personalidade com que as pessoas se identifiquem mais. A televisão plastifica tudo e, num sentido prático, o que pode ser um mega sucesso no digital chega à televisão e pode ser um flop.”
MAS HÁ CASOS DE SUCESSO...
Mafalda de Castro tem conquistado os telespectadores, mas não só. Há grandes estrelas que brilham nas duas vertentes. É o caso, por exemplo, de Rita Pereira e Lourenço Ortigão. Os dois atores fizeram o percurso inverso. Da televisão passaram para duas “marcas” de referência na internet e juntam “o útil ao agradável”. “No entanto, tentar passar as estrelas do digital para a televisão podem não ser apostas erradas. Por exemplo, para telenovelas. Se uma Rita Pereira for altamente rentável, acho muito bem que a coloquem sempre como protagonista e isso não a faz melhor ou pior atriz que outras. O mesmo se passa com um Lourenço Ortigão. Se traz audiência para um canal e lhe dá lucro é uma aposta bem pensada. O dinheiro tem é que chegar de alguma forma.” É disso exatamente que se trata... de dinheiro. E na televisão ele chega mais depressa aos canais quando há bons resultados nas audiências.