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Ricardo Castro Os 52 quilos “É perdidos, uma o divórcio e a nova paixão DÁDIVA estar vivo”

- TEXTO HUGO ALVES | FOTOS VÍTOR MOTA

Preocupado com a sua saúde, o ator mudou radicalmen­te de estilo de vida, com vários horrores vividos. Hoje, muito mais magro, faz de tudo para mostrar os benefícios de se estar bem fisicament­e, ajudando quem precisa. Numa entrevista sem tabus, fala ainda da perda dos pais para o cancro, da separação, da filha, da paixão por uma colega e da novela Amar Demais

Há três anos, o Ricardo desaparece­u publicamen­te para surgir 50 quilos mais magro... São 52 quilos a menos! E fiz por um questão de saúde. O que se passou? Começou com um acidente que tive quando ia a caminho das gravações de Bem-Vindos a Beirais. Adormeci ao volante. Tinha apneia do sono e não sabia. Fazia apneias de 40 segundos. Na altura, foi-me receitado o CPAP, uma máquina para nos manter vivos durante a noite, de modo a não ter nenhuma paragem cardiorres­piratória. Entretanto, com a minha filha muito pequenina, tudo aquilo fez-me repensar o que realmente dependia de mim para mudar. O meu médico em Santarém disse-me que devia perder uns quilos e decidi que o ia fazer, sem usar comprimido­s. Nada disso. Porquê?

Porque, quando era gordo, fiz todas essas dietas e decidi que, desta vez, ia fazer uma só a depender de mim. Hoje, não como nada com aditivos, nada processado. Faço uma alimentaçã­o saudável, exercício...

E hoje sente...

[Interrompe] Que é uma dádiva estar vivo.

Como é que foi o processo de perda de peso?

Solitário. Cerca de um ano e meio, com muito exercício físico – do qual hoje sou fã, a ponto de ir todos os dias treinar. O resto foi mais fácil, exceto a privação de açúcar. Nos primeiros 15 dias, fiquei com vontade de matar alguém! Foi uma privação horrível, com suores frios e tudo... Agora, já não preciso. Faço tudo com frutas. É a alimentaçã­o dita paleolític­a...

Porque é que se deixou engordar? Os anos 70 e 80 não foram os melhores para uma pessoa emagrecer [risos]. Lembro-me de que, em pequeno, a minha mãe me comprava um bolo de arroz e me dava um copo de leite com chocolate, com duas colheres de açúcar. E depois, com o tempo, fui engordando... Eu não me dava muito importânci­a. Acho que não gostava de mim para me querer bem. Mas isso já vinha de novo, quando ia à médica de família e ela dizia: “Ai, que pena estar tão gordo, que pena.” E fui acumulando isso... Isso e estarem-se sempre a referir a mim como obeso. Talvez por isso, hoje, vá muito a escolas falar de alimentaçã­o saudável, de bullying, porque, afinal, sou um ex-gordo que também sofreu a sua parte... E da consciênci­a que ganhei com a alimentaçã­o que faço. Hoje, ajudo pessoas que não têm posses e que querem emagrecer, arranjando ginásios gratuitos, psicólogos. Sinto que ajudo mesmo as pessoas! E faço por consciênci­a, daí ter escrito um livro [Superação] para as pessoas que acham que já não têm hipótese. Há sempre hipótese!

Apesar de tudo, teve sempre trabalho... Sim, especialme­nte teatro, pelo qual sou fascinado, pois comecei no Avilez. Comecei muito novinho, com 16 anos, a fazer de filho da Maria do Céu Guerra. Mas, pegando na sua pergunta, acho que hoje as televisões não sabem bem o que fazer comigo. No início, quando perdi peso, até senti que não me conheciam. Achavam que não era a mesma pessoa. Mas sou a mesmíssima pessoa! Amo o que faço – e já lá vão 25 anos. Mas foi rejeitado, alguma vez? Quando era gordo, sim. Tive desgostos. Faz parte! Não vou dizer qual foi o canal, mas fui. Lembro-me de que fiz testes de imagem, mas, depois, nunca mais me chamaram. Mais tarde, vim a saber que não me queriam porque não ficava bem um gordo naquele núcleo. São erros das televisões...

Como assim?

As pessoas têm de ser reais. Há pessoas gordas, magras... Para se estar na televisão, não é preciso ser todo traçado, cheio de músculo. As meninas não têm de ter maminhas OPTO... Parece que temos de ser todos iguais. Não somos! Mas o Ricardo era uma pessoa normal e agora... tem um corpo trabalhado! Não... O que eu mostrei, com o que fiz, é que podemos lutar pelo nosso corpo, daí até ter feito capa de uma revista de fitness. Não é preciso sermos todos musculados e traçados, mas podemos ser todos saudáveis, algo decisivo no caso de termos algumas doenças.

COMO TUDO COMEÇOU

Diz que começou a trabalhar com 16 anos. Mas sem a aprovação da sua mãe, certo?

A minha mãe odiou que eu fosse para o teatro. Disse que eu ia viver a vida toda na rua, com cães a fazer malabares. Com 19 anos, pôs-me a roupa à porta de casa para me ir embora. Ela tinha-me mesmo em pouca consideraç­ão. O meu irmão era bancário, gestor, e eu era maluco! Ela não percebia por que é que eu queria ser ator: era gordo, não tinha cunhas, ela achava que eu não ia a lado nenhum. E assim resolveu chocar-me para ver se eu desistia. Não conseguiu. Até ao dia em que ela me foi ver ao teatro e percebeu... Viu que eu ganhava muito mais do que ela [sorriso]. Chegou uma altura em que o ela ganhava em seis meses eu ganhava num mês. Aí percebeu, juntamente com o facto de eu ser bom aluno, que havia futuro.

E o seu pai?

Só queria que eu estudasse. E queria o melhor. E como o melhor era o Carlos Avilez, foi para lá que fui. Infelizmen­te, já perdeu a sua mãe...

A minha família é muito pequena. Não tenho tios, nem primos, e o meu pai e a minha mãe partiram ambos com cancro. A minha avó e o meu avô também. Os últimos 10 anos foram duros nesse aspeto. Não o fez ser mais vigilante consigo mesmo? Sim, porque tenho a noção de que há esta doença na minha família há algumas gerações. Tenho de lutar contra a genética.

DIVÓRCIO E PAIXÃO

A novela Amar Demais termina esta semana, na TVI. Gostou?

Foi dos projetos mais difíceis da minha vida. Começámos em grande forma, parámos por causa da pandemia, depois perdemos um colega que pôs fim à própria vida [Pedro Lima] e com quem eu tinha estado a falar no dia anterior. A seguir, perdemos a Fernanda Lapa [faz uma pausa]. No meio disto tudo, fiz uma novela sem muitas vezes poder tocar nos meus colegas. Arrastou-se tudo! Estávamos sempre com medo. Acho que fiz 80 zaragatoas no espaço de um mês, na altura em que fiz cenas de beijocas com a Carla Vasconcelo­s e a Susana Arrais. Fico com a sensação de que não gostou... Gostei muito, mas chegou a uma altura em que as pessoas não queriam problemas. E aquela era uma história pesada, com corrupção, intriga... Acho que teve a infelicida­de de não passar no momento certo. Se tivesse chegado ao público sem pandemia, teria outro tipo de êxito. As pessoas queriam coisas mais leves... E para si, pessoalmen­te, como foram estes últimos 18 meses?

Fui voluntário, juntamente com um grupo de pessoas, a entregar cremes, máquinas, o que foi possível, a enfermei

“O meu pai e a minha mãe partiram com cancro. A minha avó e avô também. Os últimos 10 anos foram duros. Tenho de lutar contra a genética”

ros, médicos... Arranjámos máquinas para [o Hospital] São José, em Lisboa, para limpar tudo. Tentei ser útil à sociedade, até porque estava muito afastado da minha filha, que já tem 9 anos, e que estava no Porto com a mãe.

Já percebi que foi duro a separação... Duríssimo! Aliás, ainda hoje é.

Como assim?

Quando me juntei, achei que era para sempre... Há cinco anos...

Como é que o Ricardo e a Liliana resolveram a situação?

Felizmente, tenho uma filha que é muito para a frente, percebe que o pai é ator, que está longe, mas que quando pode, vai ter com ela. E é como se tivéssemos estado juntos na noite anterior. Temos essa relação. De tal forma que, se me apetecer, lá vou eu ter ao Porto com a minha

filha. Eu sou presente...

Mas podia ter guarda partilhada?

Não, porque estamos distantes por muitos quilómetro­s. Como é que era a escola? Tivemos de pensar nisso. A mãe foi colocada no Porto e eu tive de perceber isso...

É o mais difícil quando se acaba uma relação amorosa?

É! Ninguém se espera separar, porque

pensa-se quem é para sempre. Na altura, quando me separei, a situação foi complicada, porque percebi que não ia estar sempre com a minha filha. Eu sou um pai de cheiro, agarrar, de abraçar, ouvir... Depois, transmiti-lhe certas coisas, como a alimentaçã­o saudável, fazer desporto, o gosto pelas artes... Ela toca piano e lê pautas. Temos uma relação muito bonita.

Está preparado para que ela comece a namorar?

[Risos] Ela diz que tem namorado e eu já disse que queria saber quem é o rapaz [mais risos]. É que miúdos ao pé de nós são precoces. Nós, para eles, somos uns atados [outros risos].

Voltemos a si: já refez a sua vida amorosa?

Sim, estou muito apaixonado pela Bruna Andrade, que é uma belíssima atriz. Tanto que, em primeiro lugar, me apaixonei por ela pelo talento. Ela canta e dança maravilhos­amente. Mas se achava que ia acontecer? Nada! Para mim, éramos amigos e achava que ela nem me achava muita graça. Aliás, ela apaixonou-se por mim quando eu era bem gordo. Não foi quando emagreci, foi mesmo quando era gordinho. E como não devia nada a ninguém e estava divorciado...

Mas estava à procura de algo?

Não, não. A malta, quando se divorcia, às vezes, fica com a cabeça no ar, mas, no meu caso, não. Começámos a apaixonar-nos... E, olhe, ainda estamos um com o outro.

É uma relação fácil?

Muito! O facto de sermos dois artistas facilita tudo. No passado, os horários da minha vida foram um problema. Agora, a Bruna percebe... As pessoas não entendem, mas é muito difícil viver com atores, porque temos horários estranhos. E quando estamos numa fase de procura da personagen­s, estamos muito ausentes. E há pessoas que não entendem isso. A Bruna ajudou-o no processo de emagrecime­nto? Muito, até porque ela é uma desportist­a nata, tem um corpo de personal trainer, ao contrário de mim que, se não treinar, engordo. Tenho de estar sempre a treinar e ela não precisa [risos]. Eu vivo atrás do prejuízo. Pensa em ter filhos com a sua namorada?

Prefiro não fazer projetos, até porque, da última vez que fiz, correu mal e divorciei-me. Mas, se acontecer, aconteceu. Estou cá, até porque adoro ser pai. Falávamos há pouco dos tempos duros da Covid-19. A sua carteira sentiu os efeitos?

Não, porque estava a trabalhar com a Plural, e eles tiveram uma atitude muito nobre de continuar a pagar. 

“Primeiro, apaixonei-me pelo talento da Bruna. Ela canta e dança maravilhos­amente. Mas se achava que ia acontecer, após o divórcio? Nada”

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Ricardo Castro, de 42 aos, esteve com Pedro Lima nas gravações de Amar Demais um dia antes do seu suicídio,
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O ator diz que o que mais lhe custa na separação é estar longe da filha, Matilde, de 9 anos, que vive com a mãe no Porto.
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Com 42 anos o ator não se vê para já a ser pai novamente mas não coloca d elado essa hipótese.

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