Que se faça ALGUMA COISA
Carlos M. Cunha escreve esta semana na TV Guia
Não sei se o facto de eu ter aberto um bar, vocacionado para a música ao vivo, durante o fatídico ano de 2020, com as consequentes regras da DGS a obrigarem ao fecho compulsivo, abriu a minha mente para a situação em que vivem os músicos, mas, de certeza absoluta, fez-me despertar para a sua dura realidade. Como é óbvio, não falo dos músicos de primeira linha, ou seja, dos Araújos, Zambujos, Velosos, Deslandes, etc… Falo dos músicos que os acompanham e que fazem acontecer os seus concertos, ou os seus discos, e que têm nos bares o complemento para a sua sustentabilidade financeira. Acontece que cada vez há menos espaços onde estes músicos possam tocar, pois cada dia se torna mais difícil aguentar uma casa onde as taxas, para ter música ao vivo, são tão elevadas e desprovidas de lógica. O que se paga para a SPA, Passmusica, licença de ruído, etc, mais uma vez vai beneficiar as grandes figuras, os grandes autores, cabendo aos restantes, caso isso aconteça, um parcela ínfima. São os bares como o Drop, Templários e Knock Out, entre outros, que providenciando meios técnicos, como som e luz, e dando-lhes palco para divulgarem a sua Arte, que estão a ajudar à sobrevivência destes músicos, apesar do Estado os tratar como meros mercantilistas, exploradores da classe artística. Quando olhamos para o panorama britânico ou americano, de onde mais consumimos música, vemos que os bares ou clubes de música ao vivo são tidos como parceiros da indústria, e não o contrário. Os bares querem partilhar a Arte da Música, os músicos querem tocar, o público quer ter acesso a tudo isso. É imperioso que se faça alguma coisa deveras diferenciador do estado atual, ou corremos o risco de muitos músicos, pura e simplesmente, mudarem de atividade, por ser insustentável a sua situação. E se isso acontecer, perderemos todos. Acho até que os grandes nomes da indústria musical deveriam ser mais solidários com essas casas, dando a sua cara, ou até fazendo mini-concertos ou show cases, pois também é lá que os músicos de suporte desenvolvem a sua praticidade musical, e a sua própria postura ao vivo, das quais vão beneficiar esses mesmos cabeças-de-cartaz.