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DE QUER O DESTINO A FESTA É FESTA. O QUE TEM MUDADO NA NOVELA?

- POR LUÍSA JEREMIAS DIRECTORA DA TV GUIA

O anúncio da nomeação para os Emmy Awards de Quer o Destino

não surpreende­u. A novela da TVI assinada por Helena Amaral, a partir do original chileno Amanda, é das últimas produções do género em Portugal a obedecer aos padrões que presidem a estas nomeações para o prémio. Estava bem escrita, mais bem interpreta­da, com ritmo, suspense, história. Era uma novela estruturad­a, com princípio, meio e fim.

Os prémios Emmy – os mais importante­s galardões da indústria de televisão mundial – premeiam novelas na categoria com o mesmo nome. Portugal já arrecadou três: Meu Amor

(2010, TVI, autoria de António Barreira), Laços de Sangue (2011, SIC, de Pedro Lopes), Ouro Verde (2018, TVI, Maria João Costa). Se nos lembrarmos de cada uma delas, identifica­mos que se trata de “dramalhões” e se enquadram perfeitame­nte entre o que recebe os favores da indústria. Como é que Quer o Destino se transforma na única novela elegível? Muito simples: porque a forma de fazer novela em Portugal tem sofrido muitas mudanças, entre elas transforma­r as produções, de uma forma geral, em produtos em que a comédia ganha cada vez mais força. O maior exemplo é Festa É Festa, a novela que se transformo­u num fenómeno de popularida­de graças ao seu estilo leve, às personagen­s que são caricatura­s de Portugal – todos nós conhecemos Binos e Aidinhas e

Tomés “paus-mandados”... A novela que conquistou o público não é suficiente­mente boa para os prémios internacio­nais? A questão não é a qualidade, mas sim o tom e a necessidad­e de seguir padrões a que o género tem de obedecer. Ora, Festa É Festa é tão pouco ortodoxa na forma como é escrita que dificilmen­te se poderá enquadrar. Não é a única: do mesmo “mal” sofre Amor Amor,

da SIC, que caricatura personagen­s e transforma um drama numa comédia com os bastidores da música pimba como cenário, ou Nazaré – tão leve, tão leve que não poderia ser levada a sério pelo júri destes prémios. Qualidade e boas audiências são conceitos que dificilmen­te caminham de mãos dadas. Por isso, torço por Quer o Destino, que junta ambas.

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