O DIREITO E O DEVER de votar
Acabámos de votar para as autárquicas. Ou melhor, metade de nós votou e a outra metade abdicou da voz. Sim!, não votar é mudez. E também é indiferença. Aquela contra a qual não nos calamos nas redes sociais. Passar os olhos pelas cronologias da moda e de anónimos, é ver fotos e ler textos de gente indignada com tudo e mais alguma coisa.
Mais de meio Portugal anda preocupado com o que se passa no Afeganistão. Com as crianças que passam fome, com os meninos que não podem ir à escola, com as mulheres que andam a mando de pais, maridos e irmãos. “Não pode ser!”, gritam tantos portugueses nas suas histórias e publicações.
E quantos desses indignados vão votar? Aqui! Onde ainda há crianças que passam fome e meninos que não podem ir à escola, mas onde a junta de freguesia, o presidente da câmara, o Governo e o Presidente, todos eles eleitos, trabalham para que esses números batam no zero. Aqui! Onde ainda há mulheres que andam a mando de pais, maridos e irmãos, mas podemos denunciar o caso na Polícia, ou acionar o Ministério Público. Porque há leis, votadas no parlamento, eleito por quem foi às urnas mesmo debaixo de chuva forte ou num belo dia de sol, que protegem os direitos de todos os portugueses, independentemente do género, credo ou cor. Os direitos humanos, no Afeganistão, são ultrapassados pelo extremismo religioso e tribal. Facto que tanto enerva influenciadores e detentores de opinião. Gente que até sai à rua, debaixo de chuva ou sol, se um qualquer movimento convocar uma concentração no Marquês, numa publicação partilhada em segundos por milhões de perfis das redes sociais. Talvez fosse bom pensar na quantidade de afegãos que, neste momento, preferia que o país fosse a votos. Mas estão mudos por causa do “regime”. Eu voto. Sempre. E podia invocar dezenas de outras razões para o voto ser, mais do que um direito, um dever. Basta-me uma: penso sempre no “regime” que aqui caiu para eu poder votar.