PORTUGUÊS DE HONRA
Gouveia e Melo Momento de glória do vice-almirante marcado por conluio para manchar a sua carreira
Numa altura em que vê terminada a sua missão à frente da task force contra a Covid-19, sai com o sentimento de dever cumprido. Deseja regressar à Marinha para revolucionar o ramo das Forças Armadas, mas foi envolvido numa crise entre o Governo e o Presidente da República. Depois de ganhar o Globo de Ouro, o povo quer vê-lo a mandar no País
A “pareci com naturalidade, desaparecerei com naturalidade.” A frase é de Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo, 60 anos, no momento em que deu por terminadas as suas funções como coordenador da task force para o plano de vacinação contra a Covid-19. Depois de oito meses de enorme pressão e responsabilidade à frente desta missão, talvez fosse esta a ideia genuína que passasse na cabeça deste natural de Moçambique com 1,93 metros, mas os acontecimentos dos últimos dias são o sinal que contradiz o desejo do “almirante das vacinas”, como lhe chama o povo.
VÍTIMA DE CONSPIRAÇÃO
Ainda não tinha retirado os seus pertences do gabinete com vista para o mar instalado no antigo edifício do comando naval, em Oeiras, já Gouveia e Melo estava involuntariamente metido numa grande confusão entre o primeiro-ministro e o Presidente da República. Tudo porque surgiu a informação de que Governo iria exonerar de imediato o almirante António Mendes Calado, promovendo Gouveia e Melo para o cargo de Chefe de Estado-Maior da Armada (CEMA). Marcelo Rebelo de Sousa abespinhou-se com a “decisão” que cabe somente ao Presidente da República e chamou António Costa a Belém para um puxão de orelhas. Ficou esclarecido o assunto que nasceu de uma fuga de informação falsificada. Segundo revela o jornal Nascer do Sol, os dois militares que se encontravam na linha de sucessão, numa manobra para eliminar Gouveia e Melo da lista, enviaram informação enviesada a Marcelo. São eles os vice-almirantes Luís Carlos de Sousa Pereira (chefe da Casa Militar) e Jorge Novo Palma (vice-CEMA).
POSSE ANTES DA RESERVA
Este episódio, que quase abriu uma crise política, não beliscou o nome de Gouveia e Melo, numa altura que tem o reconhecimento e agradecimento de todos os portugueses, que neste último domingo ganhou o Globo de Ouro de Mérito e Excelência. O militar já está escolhido para o cargo de CEMA desde o início do ano, tomando posse logo depois da saída de António Mendes Calado, que está a ser acordada com o Governo e a seguir os trâmites legais. Gouveia e Melo tem de ocupar o cargo mais alto da Marinha portuguesa antes de atingir a idade da reserva, em novembro de 2022.
PEDIDO PARA PRESIDENTE
É na Marinha que Gouveia e Melo pretende passar o resto dos seus dias como militar no ativo. Uma Marinha que pretende revolucionar. Mesmo que diariamente lhe sejam lançadas pontes para uma carreira política. Os portugueses sentem que têm uma dívida de gratidão para com o vice-almirante, mas mais do que isso. Sentem confiança e segurança. E querem-no ver na presidência da República. São vários os movimentos de apoio com milhares de internautas a sugerir uma
Gouveia e Melo tem de ser nomeado para o cargo de CEMA antes de atingir a idade da reserva
candidatura a Belém... ou São Bento, para o cargo de primeiro-ministro. “Dedico-me à causa pública através da minha profissão, que é ser militar, não tenho nenhum interesse em tirar esta farda. Não tenho jeito para político. Fecho essa porta. Qualquer ser que apareça como o salvador da pátria é mau para a democracia”, responde Gouveia e Melo, pouco interessado em capitalizar a simpatia e o protagonismo que amealhou nos últimos meses. “Não sou obrigado a fazer seja o que for com esse capital. Sou uma pessoa simpática por natureza, portanto hei de continuar a ser simpático”, disse à Notícias Magazine.
MORTE NO MAR
Religioso, obsessivo e abstémio, Gouveia e Melo pegou no desafio de vacinar Portugal – enfrentando até grupos negacionistas – sem ligar demasiado à sua própria condição física, marcada pelo uso de um pacemaker. Em 2002, sofreu um acidente (um choque elétrico) na Esquadrilha de Submarinos tendo ficado paralisado. Cinco anos depois foi forçado a usar o aparelho que gere os batimentos cardíacos. Nunca mais apanhou um susto e a morte gostava de a encontrar no mar, de preferência em África, onde nasceu. Não sem antes ver cumprido o sonho de ter netos dos seus dois filhos, um médico e um engenheiro naval.