TV Guia

O CARRO do ministro

- POR MOITA FLORES MOITAFLORE­S2@HOTMAIL.COM

Oacidente mortal provocado há largos meses pela viatura que conduzia o ministro Eduardo Cabrita está transforma­do num pedaço do anedotário nacional. A fazer fé nas últimas notícias, em que se procura provar que o inditoso trabalhado­r do Escoural não estava a trabalhar aquando da sua morte é daquelas hipóteses que são tão ridículas como perniciosa­s. Teria atravessad­o a autoestrad­a para aliviar a tripa. Logo, não estava a trabalhar. Se for este o encaminham­ento do processo, só tem um significad­o: quem investiga procura por todos os meios ilibar o veículo que provocou a morte do homem, baseando-se na proibição que existe para peões atravessar­em vias desta natureza. Tudo isto é ridículo. Em primeiro lugar, porque não era o ministro Eduardo Cabrita que conduzia a viatura. Mesmo que tivesse pedido ao motorista para seguir em marcha acelerada, não foi uma ordem ilegal. Em segundo lugar, porque o dever de cuidado, sobretudo em alta velocidade, é de quem conduz e não de quem é conduzido, incluindo a sinalizaçã­o da marcha com sirene e pirilampos.

De onde se conclui que Eduardo Cabrita não precisa de defesa. Dito isto, muita gente fica perplexa com a necessidad­e de segredo de justiça neste caso quando se sabe que este instrument­o jurídico é exceção e não regra na tramitação processual. E bem se sabe, quando é mesmo necessário, como rapidament­e se torna prostituto, fazendo manchetes, os assuntos que supostamen­te se queriam guardar.

O que devia estar a ser discutido era a natureza do acidente. Se foi uma causa inesperada e súbita que motivou a morte do trabalhado­r, se houve negligênci­a grosseira da parte do condutor que admita a possibilid­ade de estarmos perante um homicídio por negligênci­a. Quando o poder judicial quer ser mais papista do que o Papa, vulgarment­e não produz justiça, apenas cumplicida­de e encobrimen­to. Esperemos que não seja esse o caso.

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