TV Guia

SÃO SÓ TRISTEZAS

- POR PAULO ABREU

1. A guerra na Ucrânia vai para 100 dias. Quase sempre no Jornal da Noite, a SIC continua a insistir em ter em estúdio, com Clara de Sousa ou Rodrigo Guedes de Carvalho, José Milhazes e Nuno Rogeiro, dois comentador­es da velha guarda que alinham pela mesma ideia, que defendem argumentos e posições políticas iguais neste conflito no

Leste da Europa. Variam apenas no registo, no tom: um – numa linguagem mais refinada e cerebral – diz “esfola”; o outro – num discurso inflamado e mais ou menos tosco – diz “mata”. Uma tristeza, esta falta de pluralismo em antena na estação do democrata Ricardo Costa, muito bem aproveitad­a pela TVI, no Jornal das 8, quando decide apostar numa dupla com visões completame­nte antagónica­s, como aconteceu na quarta-feira passada, com a analista de relações internacio­nais Helena Ferro Gouveia e o major-general Agostinho Costa. Sem dúvida, ganha o espectador, ganha a democracia. Só José Alberto Carvalho, dono de uma voz única, não consegue fazer perguntas com pontos de interrogaç­ão. Isto é, perde-se nas suas longas observaçõe­s, com cheirinho a opinião, e, no final, não sabemos muito bem qual é a questão que acabou de colocar aos convidados. Esta é a outra tristeza, agora em Queluz de Baixo.

2. Chefs da Nossa Terra, entregue aos popularuch­os Isabel Silva e João Paulo Rodrigues, é a nova aposta da RTP1 para os domingos à tarde. Ao fim de duas semanas, já se percebeu que, com uma ou outra rubrica nova, é uma cópia barata do que existe na concorrênc­ia, à mesma hora. Bem pode a apresentad­ora, eufórica com uma nova oportunida­de na televisão após a dispensa na TVI, apregoar que este “é um programa para todas as famílias portuguesa­s”, que não é. Infelizmen­te. A estação pública tem de fazer mais e melhor, porque o País não pode estar destinado às Rebecas desta vida, a carregar-nos com música pimba a toda a hora, a ver um palco montado numa vila ou cidade com meia dúzia de pessoas a assistir, a pôr uns repórteres na rua a fazer as perguntas do costume e a distribuir uns prémios. A sentença dos números, para já, é arrasadora: apenas uma média de 275 mil espectador­es, em dois episódios.

É a (minha) última tristeza.

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