SIDNEY & NÉLIDA
Corriam os anos trinta do século passado, ressacados pela Grande Depressão, quando, entre muitos bandos de criminosos que agiam nos Estados Unidos, surgiu um grupo capitaneado pelo par amoroso Bonnie Parker e Clyde Barrow. Assaltaram bancos, muitos postos de combustíveis, casas comerciais. A imprensa mitificou-os. O casal apaixonado, e criminoso desassombrado, tornou-se numa lenda para o público americano. Bonnie e Clyde romantizaram o crime e o cinema, através do realizador Arthur Penn, deu corpo ao casal através de Warren Beauty e Faye Dunaway, garantiu-lhe a imortalidade. Na verdade, o filme é uma composição dramática delirante sobre a vida do casal de bandidos. A realidade foi bem mais simples e menos grandiosa, acabando por serem abatidos pela Polícia em 1934. Seja como for, entraram definitivamente na galeria dos célebres criminosos americanos, o verdadeiro par romântico que matou e morreu ligado por um amor profundo. Quase 90 anos depois da odisseia de Bonnie e Clyde, acabamos de viver uma situação análoga, embora sem os adereços e lantejoulas deste mítico casal. Nos últimos meses, um casal, ao que se presume apaixonado, terá desencadeado uma série de assaltos à mão armada em postos de combustível, estabelecimentos comerciais, talvez homicídios, em Portugal e Espanha. Tal como os antigos heróis, as suas fotos surgiram por toda a comunicação social, numa intensa caça movida pelas autoridades. Repetiram-se notícias, foram exibidas imagens dos ataques criminosos que consumaram, foram divulgados os esforços policiais durante a caçada. Sidney e Nélida, assim se chamam os protagonistas, deram luta, escapando-se várias vezes aos avanços da Polícia, até que acabaram detidos na cidade de Zamora. Não houve tiros, nem derramamento de sangue. Que se saiba, Nélida não tinha talento poético como Bonnie, nem Sidney possuía qualquer admiração particular pelos carros que roubaram, ao contrário de Clyde que admirava os Ford. Foi tudo à nossa maneira. Mais pelintra. Mais rasca, embora de acordo com um final mais justiceiro do que a barbárie do assassinato dos outros ilustres heróis.