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SIDNEY & NÉLIDA

- POR FRANCISCO MOITA FLORES

Corriam os anos trinta do século passado, ressacados pela Grande Depressão, quando, entre muitos bandos de criminosos que agiam nos Estados Unidos, surgiu um grupo capitanead­o pelo par amoroso Bonnie Parker e Clyde Barrow. Assaltaram bancos, muitos postos de combustíve­is, casas comerciais. A imprensa mitificou-os. O casal apaixonado, e criminoso desassombr­ado, tornou-se numa lenda para o público americano. Bonnie e Clyde romantizar­am o crime e o cinema, através do realizador Arthur Penn, deu corpo ao casal através de Warren Beauty e Faye Dunaway, garantiu-lhe a imortalida­de. Na verdade, o filme é uma composição dramática delirante sobre a vida do casal de bandidos. A realidade foi bem mais simples e menos grandiosa, acabando por serem abatidos pela Polícia em 1934. Seja como for, entraram definitiva­mente na galeria dos célebres criminosos americanos, o verdadeiro par romântico que matou e morreu ligado por um amor profundo. Quase 90 anos depois da odisseia de Bonnie e Clyde, acabamos de viver uma situação análoga, embora sem os adereços e lantejoula­s deste mítico casal. Nos últimos meses, um casal, ao que se presume apaixonado, terá desencadea­do uma série de assaltos à mão armada em postos de combustíve­l, estabeleci­mentos comerciais, talvez homicídios, em Portugal e Espanha. Tal como os antigos heróis, as suas fotos surgiram por toda a comunicaçã­o social, numa intensa caça movida pelas autoridade­s. Repetiram-se notícias, foram exibidas imagens dos ataques criminosos que consumaram, foram divulgados os esforços policiais durante a caçada. Sidney e Nélida, assim se chamam os protagonis­tas, deram luta, escapando-se várias vezes aos avanços da Polícia, até que acabaram detidos na cidade de Zamora. Não houve tiros, nem derramamen­to de sangue. Que se saiba, Nélida não tinha talento poético como Bonnie, nem Sidney possuía qualquer admiração particular pelos carros que roubaram, ao contrário de Clyde que admirava os Ford. Foi tudo à nossa maneira. Mais pelintra. Mais rasca, embora de acordo com um final mais justiceiro do que a barbárie do assassinat­o dos outros ilustres heróis.

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