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SABER OLHAR

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Cruzo-me, bastantes vezes, com vários tipos de pessoas que, invariavel­mente, se revelam como um tipo, ou género, de espectador­a ou espectador. O enamoramen­to pelo ser humano que à minha frente se apresenta, passa inevitavel­mente por aquilo que anda a ver, a ler, a ouvir ou aquilo que revela gostar ou ser fã. Será um sintoma, talvez, semelhante ao de Woody Allen quando revela, na sua biografia, que em criança e adolescent­e odiava ler. Ler era um tormento, até ao dia em que percebeu que a leitura lhe dava melhores e mais certeiras armas na altura de conhecer uma mulher por quem se sentia atraído. No final, tudo se resume a um dos pilares mais vezes esquecido da nossa sociedade: a educação: que espectador­es, que leitores, que melómanos, que amantes do teatro, do cinema, da pintura, da música estamos a plantar, cuidar, ou ver crescer nas nossas escolas? Serão as escolas de hoje (tão ultrapassa­das como as de há 20 anos, na sua ideia de enclausura­r crianças em salas para saberem de cor um texto, ou a tabuada) as mais certas para fazer nascer os artistas de que precisamos, e os seus admiradore­s devotos? Saiba a leitora, ou o leitor, que vive num País que conta com um plano nacional de leitura, lecionado nessas mesmas escolas, que tem parentes iguais noutras artes, como o plano nacional de cinema que, infelizmen­te, raramente se vê ser passado para as alunas e alunos, a não ser, talvez, por algum professor que seja mais “fora da caixa”. Que triste caixa esta onde reina a norma. Poderá ser impressão minha, mas as visitas de estudo das escolas, limitam-se 90 por cento das vezes a museus convencion­ais, e não a espectácul­os de teatro, concertos ou mesmo idas em grupo ao cinema, para que se fomente a discussão crítica sobre um produto artístico. Espantamo-nos pois que nos famigerado­s rankings, que de maneira vampiresca pairam sobre as decisões educativas neste e noutros países, haja depois pouco apreço pela leitura, pela música, pela arte. “Ajuda-me a olhar!”, escrevia Eduardo Galeano, no conto do menino que, perante o assombro do mar, olhado pela primeira vez, se agarrava ao pai, pedindo-lhe sôfrego que acalmasse os olhos cheios de magia. Saibamos aprender a olhar.

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 ?? ?? O realizador com dois grandes amigos e autores de Pôr do Sol, Henrique Dias e Rui Melo.
Em família, ao lado da mulher, Andreia Esteves, e de Francisco, de 11 anos. Ema, o segundo filho do casal, nasceu há mês e meio.
Manuel Pureza, de 38 anos, feliz, durante as gravações da série da RTP1, entre Paulo André Ferreira e Manuel Cavaco.
O realizador com dois grandes amigos e autores de Pôr do Sol, Henrique Dias e Rui Melo. Em família, ao lado da mulher, Andreia Esteves, e de Francisco, de 11 anos. Ema, o segundo filho do casal, nasceu há mês e meio. Manuel Pureza, de 38 anos, feliz, durante as gravações da série da RTP1, entre Paulo André Ferreira e Manuel Cavaco.

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