TV Guia

O TALENTOSO SENHOR CÉSAR MOURÃO

- POR LUÍSA JEREMIAS DIRETORA DA TV GUIA

No último episódio de Terra Nossa, emitido sábado à noite na SIC, César Mourão terminou, como habitualme­nte, tocando uma música composta de propósito e a propósito do local onde esteve. No caso, o tema não foi sobre a ilha de São Miguel, cenário do programa, foi antes sobre a localidade perdida e esquecida no Norte da ilha, Rabo de Peixe. As palavras e os acordes tocados então por César são tão bons que, naquele momento em casa, frente ao televisor, paramos e pensamos: este gajo é talentoso para caraças! (“caraças”, atenção, é uma expressão típica de César no programa Terra Nossa. César é caso raro em televisão. E não me refiro só às composiçõe­s que lhe dizem muito – como a que fez sobre Rabo de Peixe –, mas a todo o trabalho que tem desenvolvi­do na estação que representa. Começando por Terra Nossa, um dos programas mais democrátic­os das generalist­as em canal aberto, em que todos, ricos e pobres, desdentado­s e bem trajados, gente do Norte e do Sul, da cidade e do campo, da pesca e da lavoura, todos, mas mesmo todos, são iguais. E derretem-se com o jeito “Vasco Santana” do César, em calções, camisa de fora, microfone na mão, sem medos do “politicame­nte correto” ou “incorreto”. Tudo simples e real, caraças!

E a juntar a esta descontraç­ão desconcert­ante e verdadeira há que acrescenta­r o talento de produtor e ator. Esperança (Opto) continua a ser um marco na ficção nacional, tal o grau de sensibilid­ade que implicava (sobre o novo projeto, Volto Já, não vou falar porque ainda não vi). Conheci o talentoso senhor César Mourão no início dos anos 2000, ainda era um rapaz, quando parava pelo Café da Ponte, nas Docas de Lisboa, e dava nas vistas com o seu trio de stand-up comedy, Commedia a la Carte. Na época, fazer esse tipo de humor era uma novidade em Portugal. Não quer esta crónica fazer a defesa de Mourão em detrimento do restante humor e talento que se encontra entre vários nomes da estação, como Ricardo Araújo Pereira ou Bruno Nogueira. César tem um extra, porém: é multifacet­ado, interessa-se por várias artes em paralelo e desempenha bem (ou muito bem) o que faz. Daí o aplauso. E que viva a criativida­de – e Rabo de Peixe, que, de facto, é um local único.

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