Que futuro têm OS VELHOS?

P“Saramago ganhou o Nobel aos 76 anos... O que significa que já então não estaria apto a concorrer ao prémio que leva o nome dele”

discriminadas, a mais discriminada de todas é essa que nem é tão minoria assim (em alguns países chega a ser maioria): a dos idosos. A discriminação, seja de que tipo for, é muito criativa. Ela se oficializa e se autoafirma através do insulto puro e simples. Mas, em relação aos idosos, nem precisa seguir este caminho. Basta ver o papel a eles reservado na publicidade, por exemplo: aos velhos o que se tenta vender são aparelhos de surdez, fraldas geriátricas, óculos capazes de dar aos olhos cansados a ilusão das cores da juventude, pós e unguentos para as dores próprias da idade, ou planos de saúde inacessíveis à maioria dos mal-aposentados. Claro, a culpa disso tudo também é dos idosos, que aceitam a discriminação como irremediável ou um “bónus” da idade. Pois se tem uma coisa que esta proporciona é o direito de fazer e dizer o que se quer sem medos ou remorsos. Assim, se alguém me perguntasse que conselho eu daria aos velhos para lutar conta o preconceito, eu diria: “rejuvenesçam!” Deixem bem claro que a experiência de vida é um bem precioso. Não renunciem a ele, nem se deixem expulsar do lugar que – até que a morte os leve – por direito é de todos os velhos neste nosso mundo cada vez mais envelhecido e caquético.  rémios literários destinados a recompensar possíveis méritos de escritores são cada vez mais raros. Portugal ainda é pródigo quanto a isso – aqui existem vários. E o regulamento de um deles, o Prémio Literário José Saramago, me leva ao tema que vou abordar aqui: a discriminação aos idosos. Uma de suas cláusulas, cito, “distingue obras inéditas de ficção de autores da lusofonia até os 40 anos”. Se o escritor tiver até 40, poderá concorrer e abiscoitar o prémio de 40 mil euros. Mas, se tiver 41, por mais talentoso que seja, não terá permissão para isso. Pois, para efeito de criatividade, ao que tudo indica já deverá ser considerado tecnicamente morto. Os promotores do Prémio José Saramago dirão que não existe nenhuma intenção discriminatória nessa única cláusula restritiva... E eles estarão certos. Mas os escritores de mais de 40 insistirão em dizer que estão errados. E que essa é uma forma elegante de discriminar os mais velhos. Afinal, José Saramago ganhou o Nobel de Literatura aos 76 anos... O que significa que já então não estaria apto a concorrer ao prémio que leva o nome dele. Por isso, e baseado na minha própria experiência – farei 80 anos no ano que vem –, afirmo que de todas as minorias

Aguinaldo Silva, de 79 anos, num almoço de domingo com dois grandes amigos: a consagrada atriz Betty Faria e Rui Vilhena, autor de vários sucessos de ficção da TVI. O dramaturgo, escritor, jornalista, cineasta e novelista brasileiro – Tieta ou são da sua autoria – ama Renata Sorrah, um dos vultos da cultura do País Irmão. O vencedor de dois Emmys, com as novelas Laços de Sangue e Império, vive em Lisboa há já vários anos. Roque Santeiro