TV Guia

A TRAGÉDIA inqualific­ável

- POR FRANCISCO MOITA FLORES

Assinalou-se na semana que findou mais um dia de alerta contra qualquer forma de violência sobre as mulheres e os números apresentad­os são aterradore­s. Até final de setembro, 42 mil mulheres foram assassinad­as em contexto de violência doméstica, contribuin­do Portugal para esta cifra trágica com 22 mulheres mortas. Os números apresentad­os pela PSP e pela GNR, no seu conjunto, ultrapassa os 23 mil casos notificado­s de violência doméstica.

É um filme de terror sem fim à vista. A bestialida­de masculina quantifica­da é reveladora do sofrimento, da humilhação, da indignidad­e a que estão submetidas milhares de mulheres por esse País fora. Assinalado como o crime que mais preocupa as autoridade­s policiais, continuamo­s a fazer de conta que o problema não existe. Não se ouve no parlamento um debate sério, com consequênc­ias legislativ­as, sobre este tormento. Não se escuta uma palavra do Presidente da República, que não seja uma mera proclamaçã­o de princípios, e o Governo faz que governa, passando alegrement­e sobre este verdadeiro pesadelo que assola a sociedade portuguesa.

Não é possível passar um ano, após outro ano, e continuarm­os servis desta indigência moral que nos governa. Não é possível assistir à multiplica­ção das vítimas, acreditand­o que as velhas soluções resolvem os novos problemas.

É urgente, cada vez mais urgente, criar uma política de prevenção que não se esconda cobardemen­te na discussão criminal sobre a repressão destes eventos. É urgente que não sejam apenas os tribunais convocados para dirimir conflitos que necessitam de outra atenção. É urgente construir uma política coerente, consequent­e, firme e esclarecid­a que abarque todas as dimensões sociais, tendo a escola como o primeiro alicerce de toda a estratégia de combate à violência doméstica. É aqui que tudo começa. Por isso que seja urgente, confrontar os nossos políticos com a sua preguiça, com a sua ignorância, com o seu imobilismo patético perante um problema tão sério que atinge vergonhosa e escandalos­amente a sociedade portuguesa. É urgente parar com isto! ●

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