A TRAGÉDIA inqualificável
Assinalou-se na semana que findou mais um dia de alerta contra qualquer forma de violência sobre as mulheres e os números apresentados são aterradores. Até final de setembro, 42 mil mulheres foram assassinadas em contexto de violência doméstica, contribuindo Portugal para esta cifra trágica com 22 mulheres mortas. Os números apresentados pela PSP e pela GNR, no seu conjunto, ultrapassa os 23 mil casos notificados de violência doméstica.
É um filme de terror sem fim à vista. A bestialidade masculina quantificada é reveladora do sofrimento, da humilhação, da indignidade a que estão submetidas milhares de mulheres por esse País fora. Assinalado como o crime que mais preocupa as autoridades policiais, continuamos a fazer de conta que o problema não existe. Não se ouve no parlamento um debate sério, com consequências legislativas, sobre este tormento. Não se escuta uma palavra do Presidente da República, que não seja uma mera proclamação de princípios, e o Governo faz que governa, passando alegremente sobre este verdadeiro pesadelo que assola a sociedade portuguesa.
Não é possível passar um ano, após outro ano, e continuarmos servis desta indigência moral que nos governa. Não é possível assistir à multiplicação das vítimas, acreditando que as velhas soluções resolvem os novos problemas.
É urgente, cada vez mais urgente, criar uma política de prevenção que não se esconda cobardemente na discussão criminal sobre a repressão destes eventos. É urgente que não sejam apenas os tribunais convocados para dirimir conflitos que necessitam de outra atenção. É urgente construir uma política coerente, consequente, firme e esclarecida que abarque todas as dimensões sociais, tendo a escola como o primeiro alicerce de toda a estratégia de combate à violência doméstica. É aqui que tudo começa. Por isso que seja urgente, confrontar os nossos políticos com a sua preguiça, com a sua ignorância, com o seu imobilismo patético perante um problema tão sério que atinge vergonhosa e escandalosamente a sociedade portuguesa. É urgente parar com isto! ●