PORTUGAL ENVERGONHADO
A vida por uma oportunidade. Assim podia ser o guião, em sentido figurado, do livro de uma carreira dedicada ao Desporto, especialmente ao futebol: finalmente ia acompanhar Portugal na fase final do Mundial, o primeiro (e único) na Ásia, numa altura em que já corriam rumores de que, na FIFA, Blatter e amigos tinham uma relação “especial” com tudo o que dizia respeito a milhões, como mais tarde se confirmou. Fui otimista, regressei dececionado.
Portugal viaja para Seul consciente de que tinha capacidade para conseguir um brilharete, pois o grupo de futebolistas era notável, mas cumprida a primeira fase regressa a casa… em lágrimas. Muitas delas começaram a brotar desde cedo, em Macau, local de estágio controverso. Podia uma equipa preparar-se com 35 graus de temperatura e 80 por cento de humidade? Claro que não. Ainda por cima, na chegada à Coreia… chovia.
Pior do que isso, nos primeiros dias na antiga colónia lusa rebenta a primeira bomba: Kennedy acusa doping e é trocado por Hugo Viana. Dias depois, a segunda e com peso no rendimento do grupo: Luís Figo, Bola de Ouro dois anos antes, não está fisicamente a 100 por cento – lesão no tornozelo direito, que o obriga a calçar uma bota dois números acima do habitual – e sem ele completamente apto…
Apesar da confiança de António Oliveira, o selecionador – uma das suas orientações era “se estiverem aflitos metam a bola no Figo…” –, o craque do Real Madrid não está mesmo no seu melhor, a equipa ressente-se disso, apesar de outros grandes nomes que a compunham, como João Vieira Pinto, Rui Costa, Sérgio Conceição ou Pauleta (os “cinco violinos”, como dizia o treinador, que tinha um instrumento avariado, o “pastilhas”), e daí até à eliminação foi um foguete. Eliminação marcada por mais um episódio que deixa Portugal em lágrimas, envergonhado: JVP dá um beliscão ao árbitro do decisivo jogo com a Coreia do Sul, é expulso e atrás dele veio a Seleção… para casa.
Portugal voltou, mas no final da competição falou-se em português. Lembram-se de ter escrito que voltaria a Ronaldo, o fenómeno? Pois bem: recuperado da saúde foi a figura da competição. Melhor marcador, com oito golos, dois deles na final com a Alemanha. E foi nessa final que Gilberto Madaíl, o então presidente da FPF, escolheu o futuro selecionador nacional: Luiz Felipe Scolari.