Nélson Pereira escreve esta semana na TV Guia CRISTIANO em pessoa
Eras um miúdo acabado de chegar da Madeira quando te conheci, franzino e um pouco tímido, mas de alegria contagiante. Lá estávamos nós na sala de imprensa António Capela do velhinho e saudoso Estádio José Alvalade a gravar as lições do menino Nelson Necas. Nesse dia, deu logo para perceber que eras uma criança diferente, humilde e educada, mas com valores muito assentes na família. O tempo foi passando e repentinamente estavas a partilhar balneário comigo na equipa principal do Sporting CP. Destacavas-te pela tua qualidade futebolística, também pelo caráter e personalidade, querias ser o melhor, mas sempre com respeito por todos, apenas focado naquilo que era o teu trabalho, algo em que acreditavas muito. Ainda me lembro de brincarmos contigo e logo respondias: “Estou aqui para ser o Melhor do Mundo!” Foste e continuas a ser, mas, infelizmente, muitas vezes esquecem-se de que por detrás do atleta está o Ser Humano e, nesse “campo”, posso afirmar com conhecimento de causa que também figuras no lote dos melhores. És um homem de família, amigo dos teus amigos e solidário em muitas mais causas do que se imagina, sempre com a tua boa vontade e um sorriso no rosto. Tudo isto faz de ti uma pessoa especial, e sabes porquê? Porque te tornaste numa das pessoas mais populares do Mundo e nem por isso deixaste de ser o Cristiano que jogou no Andorinha, aquele rapaz brincalhão que vê na família o seu porto seguro e nos seus amigos a mesma confiança. Pois é, Cris, essa relação familiar que manténs e a educação que hoje estás a transmitir aos teus filhos vem ao encontro daquilo que testemunhei enquanto fomos colegas de equipa e tive a oportunidade de conhecer os teus pais numa celebração do meu aniversário. O estrato social não define a nossa essência nem os nossos valores, apenas as nossas origens. Isto, para te dizer que nenhuma instituição pode estar acima daquilo por que reges a tua vida, tentando denegrir a imagem de um ser humano exemplar e um futebolista de excelência que, num momento delicado da sua vida pessoal, precisava era da solidariedade institucional para com a tua família e viraram-te as costas. Acredita, amigo: no teu lugar teria feito exatamente o mesmo que fizeste, porque, neste mundo empresarial em que o futebol se tornou, perdeu-se a noção de que os ativos dessas empresas são as PESSOAS. ●
“Conheci os teus pais numa celebração do meu aniversário. O estrato social não define a nossa essência nem os nossos valores, apenas as nossas origens”