“Estás com PRESSA”
Eis o segredo do futebol: consegue juntar 5 milhões de espectadores à frente de uma só partida. Ora, 5 milhões de audiência total representa exatamente metade da população portuguesa. Foi esse o recorde batido no jogo da Seleção Nacional contra o Uruguai. Todos os que previram a morte da televisão generalista têm nas transmissões futebolísticas um poderoso adversário. Só os jogos de futebol são suscetíveis de juntar em frente ao ecrã, de uma forma irrepetível, as várias gerações que se cruzam numa família. O Mundial no Qatar tem uma estrela única, global e que ameaça apagar todas as outras (pelo menos até haver campeão). Essa estrela é um jogador português chamado Cristiano Ronaldo, que chegou ao torneio rodeado pela atenção dos media de todo o mundo por causa de um simples conflito laboral, com o clube que o empregava, o Manchester United. Esse efeito centrípeto de Ronaldo, esse ponto focal que engole todos os holofotes, voltou a fazer-se sentir no último jogo da Seleção na fase de grupos, quando um desabafo do jogador por estar a ser substituído (“estás com uma pressa de me tirar...”) se transformou na notícia principal relativamente à vida da Seleção. Hoje em dia, não haverá outro local no mundo ocidental tão escrutinado e coberto por tantas câmaras como um campo de futebol. CR7 devia saber bem qual o efeito potencial de um episódio deste género, depois de, há 12 anos, ter sido apanhado numa situação semelhante ao recomendar aos jornalistas que fossem falar com Carlos Queiroz. ●