TV Guia

A polícia da MORALIDADE

- POR FRANCISCO MOITA FLORES

Muitos leitores talvez nunca tivessem ouvido falar da Polícia da Moralidade antes dos trágicos acontecime­ntos que levaram à morte de Mahsa Amin às mãos dos esbirros desta autoridade policial que atua no Irão, e noutros países muçulmanos, cuja primeira função, e a mais relevante, é perseguir mulheres. Dominá-las, subjugá-las àquilo que são os ditames consuetudi­nários (não me atrevo a dizer religiosos) que resultam do poder, mais ou menos severo da Xaria, lei criminal criada e construída com bases dos livros sagrados do Islão. É difícil para uma mulher, ou um homem, com uma cultura ocidental, baseada na procura da igualdade dos direitos de cidadania (que incluem naturalmen­te a igualdade de género), compreende­r que milhões de mulheres, e de homens, estão sujeitos a um poder policial difuso, caprichoso, na posse de polícias, que podem prender porque uma mulher não usa hijab, lenço que garante que toda a cabeça e cabelos fiquem cobertos, que vigia a severa separação entre homens e mulheres, que persegue qualquer indivíduo com um corte de cabelo mais ocidentali­zado ou porque usa jeans ou porque qualquer mulher decidiu maquilhar-se. Polícia que tem o direito de louvar as mulheres que optam por usar o xador, vestimenta que cumpre as mesmas funções do hijab, sendo uma capa que se estende até aos pés. A mesma polícia, formada por homens e mulheres, que, no caso da Arábia Saudita, move intensa perseguiçã­o a mercadores, em véspera dos Dia dos Namorados, que tenham a ousadia de vender prendas que podem ser entendidas como de mediação para o namoro. E as punições vão desde processos de humilhação públicas, como chibatadas e apedrejame­ntos até a prisão cumprida em solitária.

Resumindo: a Polícia da Moralidade, obedecendo a ditames de inspiração religiosa, persegue, prende, pune, tortura, com abundante poder discricion­ário, sobretudo mulheres. E mata! Como aconteceu com a malograda jovem Mahsa Amin. Crime que gerou uma verdadeira rebelião no Irão com tal força que o Ayatollah decidiu extinguir a Polícia da Moralidade. Uma vitória dos direitos humanos? Desiludam-se. Outro instrument­o repressivo estará na forja. A iniquidade precisa sempre de polícias para se manter no poder.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal