TV Guia

O Mundial da MUDANÇA

Diamantino Miranda escreve esta semana na TV Guia

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Observador atento (quase em permanênci­a) de tudo o que diz respeito ao mundo do futebol, resultado do meu desempenho como comentador na CMTV, tenho aproveitad­o este hiato na minha principal atividade profission­al, a de treinador, para dedicar mais atenção à família e amigos, mas não tenho deixado de procurar valorizar-me, uma vez que não perco de vista a possibilid­ade de voltar a treinar. Não deixo de ficar um pouco nostálgico quando estamos em presença, como agora, de uma grande competição, como é o caso do Campeonato do Mundo, para mais quando uma das seleções é a de Portugal, que tive a felicidade de representa­r em 57 ocasiões, 22 na “A”, as restantes em todos os outros escalões, desde os juvenis até à “B”. O golo frente a Marrocos foi o meu último no célebre Mundial do México, em 1986 (anteriorme­nte, em 1979, tive o orgulho de representa­r Portugal no 1.° Mundial de Sub-20, realizado no Japão, onde, pela primeira vez, se deu a conhecer aquele que viria a ser, para muitos, o melhor jogador de todos os tempos, esse mesmo, Maradona). Último jogo e último jogo nosso na competição e derradeira presença minha na Seleção, a dois meses de completar 27 anos.

Por decisão minha, na sequência de tudo aquilo que se tinha passado em Saltillo, mas também com a consciênci­a de que o sacrifício por mim assumido (e da maioria dos jogadores, só um voltou com a palavra atrás), embora só eu e o Carlos Manuel nunca mais viéssemos a representa­r a Seleção, contribuí para a grande viragem em termos organizaci­onais que se verificou no futebol português. Três anos depois, viríamos a ser campeões do mundo Sub-20.

Se me arrependi da posição por mim tomada? Nunca! Se tive pena de não voltar a jogar pela Seleção? É óbvio! Se fui convidado para regressar? Aconteceu! Porque é que não voltei? Falou mais alto a minha forma de estar na vida: dignidade e respeito, acima de tudo.

Hoje, ao ver Portugal a ter um desempenho excelente no Qatar, convicto de que esta enorme geração de futebolist­as (das melhores da história do futebol português) pode escrever mais uma página muito bonita, olho para trás, com alguma nostalgia, mas, igualmente, com uma pontinha de orgulho. E não deixo de dizer para mim mesmo que valeu a pena o sacrifício assumido, vai para 40 anos, pois foi lá, no México, que Portugal deu o passo decisivo no futebol e é no presente uma das seleções mundiais. Capaz de qualquer feito. ●

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 ?? ?? Diamantino (o último de baixo), num jogo de Portugal, antes do Mundial do México, em 1986, acompanhad­o de outros craques: Eurico, Lima Pereira, Inácio, Jaime Magalhães, João Pinto, Bento, Jaime Pacheco, Frasco, Gomes e Carlos Manuel.
Figura histórica do Benfica e do futebol português, deseja, aos 63 anos, voltar a treinar.
A comentar a atualidade desportiva na CMTV, aqui com o amigo João Malheiro.
Diamantino (o último de baixo), num jogo de Portugal, antes do Mundial do México, em 1986, acompanhad­o de outros craques: Eurico, Lima Pereira, Inácio, Jaime Magalhães, João Pinto, Bento, Jaime Pacheco, Frasco, Gomes e Carlos Manuel. Figura histórica do Benfica e do futebol português, deseja, aos 63 anos, voltar a treinar. A comentar a atualidade desportiva na CMTV, aqui com o amigo João Malheiro.

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