Aguenta, CORAÇÃO
Numa sociedade mesquinha, provinciana, conspurcada de corrupção, Eça de Queirós relata o amor entre um jovem padre libidinoso e uma donzela casta, desejosa de cair em tentação. O Crime do Padre Amaro chega segunda à RTP1 AÇÃO E INTIMIDADE
Padres corruptos e depravados, em especial no que toca à sexualidade, foram dois dos muitos ingredientes que Eça de Queirós juntou para cozinhar, em 1875, o romance naturalista O Crime do Padre Amaro. Ora, 148 anos depois, foram esses mesmos condimentos que o cineasta Leonel Vieira, de 53, repescou para realizar a série homónima, fielmente baseada na obra do mestre da literatura. O texto original tem tanto erotismo que foi preciso os protagonistas da nova versão televisiva – que a RTP1 estreia segunda-feira, dia 16, pelas 22:30 – explicarem que “O Padre Amaro não é só sexo”. Bárbara Branco, de 23 anos, na pele da doce Amélia, é a primeira a protagonizar cenas de nudez no primeiro episódio (são 6) e até de se masturbar, pela calada da noite, com o auxílio de uma almofada.
José Condessa, de 25 anos, que encarna o papel do padre Amaro Vieira, e que por um acaso contracena com a namorada da vida real nesta série, confirma que nudez não vai faltar, mas tenta acrescentar mais sumo à história. “As pessoas associam muito O Crime do Padre Amaro a cenas de nudismo, que existem. Só que este trabalho não é só sexo, ao contrário do que 99 por cento das pessoas pensam logo. Vocês sabem qual é o crime dele? Eu vou-vos dizer”, promete, sendo de imediato travado por Bárbara: “Não digas! Pára, não sejas spoiler (desmancha-prazeres). O crime não é esse. A obra é uma crítica social a uma sociedade que na época estava conspurcada. Toda a gente fazia sexo, mas o que vemos com estas duas personagens é que há mais do que sexo, há um amor. Não é só o quebrar de um voto de celibato religioso, há um amor que se constrói.”
Acabado de visionar, pela segunda vez, o primeiro episódio, o casal estava entusiasmado com o resultado final, e, ao mesmo tempo, dividido entre desvendar mais uns detalhes da série e cumprir a promessa de nada avançar. Mas avançaram. José Condessa foi quem mais deu o contributo para o que vamos poder ver a partir de segunda-feira, dia 16, e durante seis semanas. “Este é o primeiro episódio, mas, nos seguintes, o padre vai começar a sofrer mais e a perder o controlo das suas emoções”,
conta o lisboeta com raízes alentejanas. Simpática, Bárbara Branco acrescenta:
“Há uma progressão da história. O primeiro episódio é mais explicativo e a partir daí vai começar a mexer.”
O que também mexeu com o casal foram as cenas íntimas. José Condessa explica porquê:
“Ao contrário do que se pensa, o facto de sermos namorados não ajuda. Quando conheces um colega com quem tens de contracenar, seja com um beijo ou com uma cena mais íntima, tens de quebrar uma barreira. É normal, mesmo que conheças a pessoa, há uma barreira na intimidade. As personagens não se conhecem. Não estamos a construir um casal que namora há quatro anos, como nós.” ●
“Ao contrário do que se pensa, o facto de sermos namorados não ajuda. (...) Não estamos a construir um casal que namora há quatro anos, como nós”