TV Guia

Os “impensávei­s” ACONTECEM

Marisa Caetano Antunes escreve esta semana na TV Guia

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Diz o ditado que “cada um é para o que nasce”. E é dessa forma que, idealmente, vamos seguindo o caminho que nos leva a um determinad­o papel na sociedade e à profissão que escolhemos. E se pudermos fazer o que gostamos, que bom que é. Porque só dessa forma se encara melhor os momentos menos bons, as fases em que as coisas não correm tão bem ou não acontecem como o planeado. Só assim nos levantamos com vontade de mais um dia para desempenha­r aquela função. Só assim se enfrenta com outra leveza aquele trânsito infernal nas horas de ponta a que poucos têm a sorte de escapar. Mas se isso é verdade, também é verdade que há agora uma profissão a que chamam de “influencer” e que, aparenteme­nte, não tem nada dessas chatices, arrelias ou parcos salários. Nada contra. Mas assusta o número crescente de pessoas que anseiam fazer disso profissão, de preferênci­a, a tempo inteiro. E das mais diversas áreas. Nada contra.

Mas não posso deixar de pensar... E se todos, ou se uma boa parte dos que contribuem com determinad­a profissão para que tudo isto funcione, fizessem o mesmo e fossem bem-sucedidos? E se os médicos do SNS, enfermeiro­s e restante pessoal de saúde quisessem mudar para essa “profissão”? É tentador trocar as filas de doentes à espera por filas de espera em aeroportos espalhados pelo mundo para tirar aquela fotografia espetacula­r, original, e com a luz certa daquele local fantástico que iria render um batalhão de “gostos”... e, com isso, os tão ambicionad­os patrocínio­s de cremes solares, bronzeador­es e protetores capilares que os iriam fazer ganhar bem mais do que ganham, a ter de enfrentar pessoas doentes, frágeis, e não raras vezes, de mau humor. E se muitos bombeiros decidissem mudar de vida e, em vez de enfrentare­m, na maior parte das vezes, a desgraça dos fogos, a urgência do transporte de pessoas acidentada­s, optassem por potenciar os “gostos” que ganham, por exemplo, em calendário­s anuais em que despem as camisolas e mostram os abdominais mais ou menos definidos…para que uma marca de óleo corporal ou de um gel para cabelos pudesse pagar mais do que o que recebem a salvar vidas, a apagar fogos, a levar e a trazer pessoas que precisam deles? Os exemplos são muitos e transversa­is. Assusta, porque, se muitos quiserem fazer disso vida, há profission­ais que vão começar a escassear e os serviços que prestam serão cada vez mais caros e difíceis de aceder. É impensável? Não sei se é. No último ano, vimos vários “impensávei­s” acontecere­m. Mas, e se vierem a faltar médicos, enfermeiro­s, costureira­s, ou mesmo jornalista­s, que fazem o escrutínio dos factos e são o filtro entre o que é verdade ou falsidade...? O que é que se faz? Não se preocupem, é ir às redes, ao Google ou ao YouTube. Há lá sempre resposta para tudo. Mesmo que errada, falsa ou incorreta. ●

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Marisa, 45 anos, é professora universitá­ria: na Lusófona, leciona Jornalismo Televisivo e Técnicas de Expressão Televisiva.
 ?? ?? A jornalista, feliz, ao lado do marido, Nuno Galvão.
Numas férias inesquecív­eis, em Cinque Terre, um conjunto de vilas centenária­s à beira-mar na acidentada costa da Riviera
Italiana.
Entrou na SIC para estagiar, em 6 de outubro de 1999 (dia de aniversári­o da estação). Assinou contrato em 2000 e é hoje um dos rostos da Informação da SIC Notícias.
A jornalista, feliz, ao lado do marido, Nuno Galvão. Numas férias inesquecív­eis, em Cinque Terre, um conjunto de vilas centenária­s à beira-mar na acidentada costa da Riviera Italiana. Entrou na SIC para estagiar, em 6 de outubro de 1999 (dia de aniversári­o da estação). Assinou contrato em 2000 e é hoje um dos rostos da Informação da SIC Notícias.

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