Visão (Portugal)

Roberto Cavalli Génio, luxo e extravagân­cia

- — M.B.M.

Foi uma das grandes figuras da moda italiana e internacio­nal dos últimos 50 anos e sabia-o. Não tinha, aliás, papas na língua. “Copio a roupagem de um animal, porque adoro copiar Deus. Acho que Deus é o designer mais fantástico”, explicou o estilista, em 2013, numa conferênci­a na Universida­de de Oxford, agora recordada na página oficial de Instagram da marca Cavalli. Sem qualquer modéstia, era assim que Roberto justificav­a e explicava aquele que terá sido, logo no início da carreira, o maior segredo do seu sucesso: a forma como soube desenvolve­r técnicas de estampagem inovadoras que lhe permitiram criar peças de roupa inconfundí­veis, nas quais imprimia motivos animais e da Natureza em materiais tão diversos quanto seda e pele. Um estilo luxuoso, exuberante e inovador, tal como a “invenção”, já nos anos 1990, da técnica de desbotar a ganga com areia, que viria a tornar-se moda mundial.

“A minha moda tornou-se um sucesso porque os outros designers tornaram-se muito chatos”, explicou numa entrevista à revista People, numa afirmação que encontra eco no invejável leque de celebridad­es e figuras da moda e das artes mundiais que se deixaram encantar, ao longo das últimas décadas, com as criações de Cavalli: de Sophia Loren a Brigitte Bardot, Naomi Campbell e Cindy Crawford, passando por Jenišer Lopez, Sharon Stone, Lenny Kravitz e Gwyneth Paltrow, entre tantas outras. Uma autêntica feira de vaidades que encantava um homem que não podia deixar de viver entre Ferraris, charutos caros, camisas abertas até ao umbigo e um bronzeado permanente.

As origens de Roberto Cavalli ajudam a compreende­r o seu trajeto. Nascido a 15 de novembro de 1940 no seio de uma família aristocrát­ica de Florença, foi no avô que encontrou a sua grande fonte de inspiração. Giuseppe Rossi fazia parte do movimento Macchiaiol­i, um grupo de pintores que surgiu na Toscana na segunda metade do século XIX e rompeu com as convenções artísticas tradiciona­is, preferindo pintar ao ar livre por forma a captar a verdadeira essência e as cores da Natureza. Foi para seguir as pisadas do avô que Roberto ingressou, em 1957, na Academia das Artes de Florença. No entanto, em vez de telas, começou a pintar coloridos motivos florais em camisolas e camisas, o que chamou a atenção de alguns estilistas da época. Ao perceber o sucesso, Cavalli fixou-se no estudo das artes e técnicas de impressão em têxteis e cabedais, criando um método revolucion­ário (que teimou em nunca desvendar) que o levou a trabalhar para algumas das grandes marcas da época, nomeadamen­te a Hermès e a Pierre Cardin.

Em 1972, depois de se ter estreado, aos 30 anos, no Salão de Prêt-à-Porter de Paris, Roberto abriu a sua primeira loja, em Saint-Tropez, Sul de França, partindo daí para a construção de uma marca e de um nome que se destacaram no panorama da moda mundial até aos nossos dias. Uma carreira acompanhad­a por uma vida pessoal apaixonada, durante a qual se casou três vezes. Primeiro, com Silvanella Giannoni, em 1964, com quem teve dois filhos, Tommaso e Cristiana. Em 1980, voltou a casar-se, desta vez com a estilista e ex-Miss Áustria Eva Maria Duringer, com quem teve mais três filhos: Robert, Rachele e Daniele. Finalmente, em 2014 iniciou uma relação com Sandra Nilsson, da qual teve o sexto filho, Giorgio, há pouco mais de um ano. Não o verá crescer, pois o estilista morreu na quinta-feira, 12, na sua casa em Florença, com 83 anos.

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