Visão (Portugal)

PELOS FIOS DA MEADA

A lã continua a servir de guia para se conhecer o passado e o futuro desta cidade criativa da UNESCO

- — POR FLORBELA ALVES

Estava o País a viver os últimos anos de ditadura, e a Covilhã somava uma centena de empresas de lanifícios. A cidade conhecida como a Manchester portuguesa, situada a 20 quilómetro­s da Torre, na serra da Estrela, era o principal centro desta indústria, e isto muito se devia à lã dos rebanhos de ovelhas, os quais, à época, eram o motor da economia familiar. Dessa centena restam três ainda em laboração. Outras, como o caso da Fábrica de Lanifícios António Estrela/ Júlio Afonso, que funcionou de 1853 até 2002, transforma­ram-se em polo turístico e de dinamizaçã­o cultural. “Trabalhei aqui toda a minha vida. A abertura ao público foi uma forma de não deixar morrer isto”, conta Francisco Afonso, de 66 anos, mentor do New Hand Lab e filho do último proprietár­io desta fábrica tornada associação cultural, que acolhe performanc­es, exposições ou concertos e sete ateliers de criadores em permanênci­a. Muitos deles vão buscar ao espólio da velha fábrica – ainda com uma coleção de tecidos, novelos de lã e milhares de debuxos (desenhos) – a matéria-prima para a criação de peças de decoração ou de roupa (como o burel, utilizado pelo designer Miguel Gigante). O interior foi mantido como era antes: desde as máquinas dos anos 40 do século passado à ribeira da Carpinteir­a, que atravessa a fábrica e cuja força da água alimentava as fornalhas para tingir a lã. A cada visita guiada (de terça a sábado), “as pessoas entram curiosas para ver como era. Querem tocar nos materiais e sentir o cheiro. Ainda se sente o cheiro da lã”, diz Francisco Afonso, com orgulho.

Foi também este passado industrial que motivou a arquiteta Lara Seixo Rodrigues, nascida e criada na Covilhã, juntamente com o irmão Pedro e a cunhada Elisabet Carceller, a organizar o festival de arte urbana Wool, que, desde 2011, tem tingido

de cores e artistas uma cidade, até então, cinzentona. Hoje, são 48 os murais de arte urbana que se podem observar de forma autónoma, quando se passeia pelo centro histórico ou com a ajuda da plataforma Talk2Me, num roteiro que serviu de embrião para outros lugares no País. “O projeto foi pensado para a comunidade. É uma pescadinha de rabo na boca. Hoje temos proprietár­ios que nos procuram para pintarmos as paredes, e paredes onde os artistas gostariam de intervenci­onar”, salienta Lara. Certo é que o Wool (que terá na 12ª edição, de 6 a 16 de junho, a maior de todas) em muito contribuiu para a integração da Covilhã como cidade criativa da UNESCO, na área do design.

— DORMIR

Puralã – Wool Valley

Hotel & Spa

> Alam. Pêro da Covilhã >

T. 275 330 400 > a partir €70 Pena D’Água – Boutique Hotel & Villas

R. de S. Francisco Álvares, 25 > T. 275 334 168 > a partir €107

— COMER

Taberna A Laranjinha

R. 1º Dezembro, 10 >

T. 275 083 3586 > seg-sex 12h30-14h30, seg-sáb 19h30-22h

Chef Magalhães

R. das Amoreiras > T. 96 273 7574 > qua-sáb 12h30-15h, 19h30-22h, dom 12h30-15h Alkimya

Av. Frei Heitor Pinto, 1 > ter-sáb 12h30-15h, 19h-23h, dom 12h30-15h > T. 275 334 174

— EXPLORAR

New Hand Lab

R. Mateus Fernandes, Trav. do Ranito > T. 96 269 7493/96 361 4774 > ter-sáb 14h30-18h > €10

Museu de Lanifícios da Universida­de da Beira Interior > T. 275 241 411 > ter-sáb 10h-13h, 14h30-18h > €9, visitas guiadas por marcação

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Arte urbana O festival Wool tem tingido a cidade de cores e de artistas

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