Visão (Portugal)

GUIADOS PELA ÁGUA

Da nova praia do Alqueva e estação náutica até à Herdade da Contenda, com Espanha à vista

- — POR SUSANA LOPES FAUSTINO TEXTO LUÍS BARRA FOTOS

Junto ao muro que dá acesso ao Castelo de Moura, a água corre livre e fresca da fonte de Santa Comba. Um pouco mais adiante, volta-se a ouvir o marulhar do valioso líquido na monumental fonte das Três Bicas, com cantaria de mármore, localizada entre a biblioteca municipal e o edifício onde em tempos funcionara­m as termas, junto ao Jardim Dr. Santiago. Muito antes de existir o Alqueva, o maior lago artificial da Europa, foi a água que aqui fixou e trouxe gente de todos os lados. A partir de 1 de junho, mais visitantes hão de por aqui passar, quando se inaugurar a praia fluvial, que se chamará do Lago, e a Estação Náutica Moura-Alqueva, com piscina flutuante, restaurant­e e bar, operadores turísticos, cais, ancoradour­o e zonas verdes.

Vanessa Gaspar, arqueóloga do município, é guia do percurso Do Castello até Pisões, um dos passeios pedestres ligados à água, que se podem fazer em Moura. “As duas nascentes existentes na alcáçova do castelo ainda hoje abastecem as fontes. No século XIX, foram estas mesmas águas, à data considerad­as curativas pela ausência de doenças de estômago e de bexiga de quem aqui vivia, que levaram à criação de um hotel termal e um estabeleci­mento de banhos, incluídos na exploração da concessão da água Castello”, explica. É no castelo que se dá a partida, no cerro mais alto da cidade, onde havia abundância deste recurso natural e onde nasceu, em 1899, a primeira unidade de exploração. A aventura começa junto aos painéis da exposição que assinalara­m, em 2019, os 120 anos da água Castello, passa por um olival tradiciona­l, típico da paisagem da região, e termina com uma visita ao museu da empresa, na localizaçã­o atual, em Pisões. Através de fotografia­s de época, garrafas, rótulos, publicidad­e, máquinas e outros objetos,

conhecem-se várias curiosidad­es, nomeadamen­te a primeira garrafa, parecida à de um espumante e com rolha de cortiça. Para se ter uma ideia, é do sistema aquífero Moura-Ficalho, com cerca de 177 km², área semelhante à ocupada pelo regolfo de Alqueva, que vêm estas águas. O centro de Moura percorre-se a pé, entre bicas, cuidados jardins verdejante­s e uma das zonas mais bonitas, a Mouraria, de ruas caiadas de branco e muito floridas, onde encontramo­s a Casa dos Poços. Aqui expõem-se três bocais destas estruturas datadas dos séculos XIV-XV, existentes nas habitações deste bairro. Em poucos passos, estamos na Taberna do Liberato, fundada pela família de Jorge Liberato, em 1946, nas suas mãos e da mulher há 34 anos. À imagem das tabernas antigas, é um local de convívio para uma reunião à volta de um copo de vinho e de um petisco. “Pode ser uma lata de conserva, queijos, enchidos, uns cogumelos do campo ou algum prato de caça, depende da época”, diz à VISÃO. Mas não é tudo, há um clube de vinhos, promovem Jantares com História e tertúlias.

Manuel Luís também herdou da família a centenária Casa Cavalheiro. Fundada junto ao Hotel de Moura, esta mercearia especializ­ada encontra-se agora no Largo da Latoa, com Manuel Luís e a mulher, Gina, a terceira geração, no comando. “Quisemos transforma­r um pouco o negócio e passar a representa­r todos os produtores de Moura e do concelho. Temos azeitona, azeite, vinho, mel, queijos, biscoitos e, nas traseiras da loja, o fumeiro, onde ainda fazemos os enchidos de forma artesanal”, conta Gina. Ao cliente, dão a provar um pouco de tudo, “a melhor maneira de divulgar os produtos”. Quem daqui sai normalment­e não vai de mãos a abanar e volta.

Em Moura, está instalado o único museu português dedicado à joalharia contemporâ­nea, o Museu Alberto Gordillo. O espólio foi doado pelo artista e conta com 226 peças, 12 das quais esculturas, esclarece Ana Mafalda, uma das funcionári­as. A dimensão é pequena, mas mostra bem o trabalho artístico e extravagan­te, à época, do joalheiro mourense, que, em prata, latão e cobre, criava peças com recurso a acrílico, porcas, parafusos e elementos elétricos.

A subida à torre do Núcleo de Armaria, depois de se vencer os 67 degraus da escada em caracol da Torre de Menagem do Castelo, dá outra visão da paisagem, entre olivais e o paredão do Alqueva. Moura está na margem esquerda do Guadiana, mas no concelho há outros rios e ribeiras, por onde passear, pescar e ver vestígios antigos, como a Atalaia de Porto Mourão, junto ao rio Ardila. Em Santo Amador, uma visita ao Núcleo Museológic­o do Rio Ardila revela as artes tradiciona­is da pesca deste curso de água, incluindo a pateira, o barco de fundo chato utilizado nas lides. Mas é preciso ir quase até à fronteira com Espanha, junto à serra Morena, para deslumbrar a riqueza e biodiversi­dade da paisagem da Herdade da Contenda, em Santo Aleixo da Restauraçã­o. Com 5 267 hectares, 21 quilómetro­s de fronteira e 800 anos de História, nesta propriedad­e fazem-se passeios para se observar os abutres e ouvir a brama dos veados, explora-se a rota do contraband­o ou um percurso entre a ribeira do Murtigão e a ribeira de Pais Joanes. Uma viagem assim só pode deixar boas memórias.

— DORMIR

Hotel de Moura

Instalado num edifício histórico, tem 36 quartos e três apartament­os de várias tipologias.

Pç. Gago Coutinho, 1, Moura > T. 285 251 090 > a partir de €89

Monte da Estrela – Country House and Spa Agroturism­o com sete quartos e uma suíte, piscina, pomar e zona de bem-estar

Courela das Antas, Aldeia da Estrela, Moura

> T. 91 937 3733 > a partir de €160

— COMER

O Trilho

Caldo de espinafres, feijão guisado com peixe frito e sopa de cação são algumas das especialid­ades

R. 5 de Outubro, 5, Moura > T. 96 848 3023 Cantinho da Mouraria

Pç. Sacadura Cabral, 41, Moura > T. 96 957 8789 Adega e restaurant­e Piteira

Cozinha alentejana para saborear numa adega de talhas centenária­s

R. da Fábrica, 2, Amareleja > T. 96 578 7024

— EXPLORAR

Lagar de Varas do Fojo Neste edifício de 1810, conta-se a história do fabrico de azeite no concelho, ainda com a maquinaria original R. S. João de Deus, 20, Moura > T. 285 253 978

Igreja de São João Batista Na fachada, destaca-se o portal manuelino trabalhado com colunas torsas; no interior, o púlpito quinhentis­ta em mármore e os azulejos sevilhanos da capela-mor. Pç. Sacadura Cabral, Moura

Jardim das Oliveiras Miguel Hernández

Espaço lúdico-pedagógico, onde se dão a conhecer a oliveira e o olival

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Estado líquido Em Moura, guiados por Vanessa Gaspar, seguimos o som da água, do Castelo a Pisões. Em baixo, a mouraria e, na página ao lado, o Alqueva
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