MUITO MAIS DO QUE UMA PRAIA
Geossítios, ecossistemas, paisagens naturais e aventuras marítimas enriquecem esta ilha vulcânica, em tempos o celeiro da Madeira
Ogrande chamariz de Porto Santo é, sem dúvida, o extenso areal com nove quilómetros, resultado de uma história geoglaciar que, numa ilha vulcânica, permitiu a criação de uma praia de grãos amarelos com propriedades terapêuticas. Há 18 milhões de anos surgia uma ilha esculpida pelo vento, com muito sol e pouca chuva, o clima seco e estável, ideal para receber visitas durante o ano inteiro.
Os hotéis de frente para o oceano, e com entrada direta para a praia, deixam qualquer um a desejar uns dias de puro descanso e banhos de mar com a água a 24 ºC. As dunas dinâmicas, graças ao vento e à ondulação do mar, também merecem proteção na ilha integrada, em 2020, na Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO.
Para melhor conhecer Porto Santo, pode-se partir numa aventura marítima, e até subaquática, em duas extremidades da ilha. Da Ponta da Calheta até ao Ilhéu de Baixo ou da Cal (referência à extração de pedra calcária que ali decorria), demora-se entre nove a 11 minutos a remar o caiaque da empresa Porto Santo Destination Tours, capaz de ir dentro da gruta e depois permitir o desembarque numa praia. Na marina, junto ao porto (onde diariamente atraca o Lobo Marinho, navio que faz a ligação ao Funchal), o centro de mergulho Rhea Dive leva-nos a explorar a vida marinha do Ilhéu de Cima. Uma saída de barco, num trajeto de sete minutos, num mar com a água mais clara, o fundo mais claro, condições mais comuns no Mediterrâneo do que no Atlântico.
Lá no alto, o Miradouro da Portela – um dos pontos mais a leste da ilha, sobranceiro ao cais de embarque – é um sítio privilegiado para se obter uma panorâmica. Ali, mantêm-se réplicas dos moinhos de vento, prova de que a ilha já foi “o celeiro da Madeira”, com os campos de cereais adaptados aos solos áridos. O tradicional bolo do caco, que se come em todos os restaurantes da ilha, terá nascido da abundância de matéria-prima. Uma receita de água, sal, fermento e farinha que Teresa Melim continua a amassar há quase 30 anos.
Continue-se no mesmo lado da ilha para chegar a Porto dos Frades, geossítio onde se acredita terem desembarcado Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, em 1418, os primeiros descobridores portugueses da Madeira. Encostadas às arribas da serra de Fora, surgem construções naturais de areias marinhas fossilizadas, com 30 mil anos, esculpidas pelo vento e pelo mar. Verdadeiras peças de arte que parecem saídas de um filme de ficção científica.
De regresso à zona do aeroporto e da Calheta, a grande atração é o Pico de Ana Ferreira, a 283 metros acima do nível do mar, o ponto mais alto da metade ocidental da ilha. Uma antiga pedreira, cujas diferentes colunas de mugearito (magma consolidado da erupção vulcânica) estão alinhadas como se de um órgão de tubos se tratasse. Imponente, no mínimo.
O vaivém no centro da vila é feito a pé, com facilidade e rapidez, em caminhadas planas, sempre com o mar por companhia. Impossível não encontrar o Fava Rica, quiosque de madeira simples, na entrada da praia do Ribeiro Salgado, em que a poncha à pescador está constantemente a encher os copos. Uma receita preparada pelo senhor Guido, antigo chefe de bar do Hotel Porto Santo, durante 29 anos. Com a poncha são servidos amendoins, tremoços e uma fava seca, especial, refogada e com muito sabor. Perto da Casa de Cristóvão Colombo, antiga residência do navegador genovês transformada num museu, os gelados Lambecas provocam generosas filas de espera, um clássico na vila há mais de 60 anos.
Recentemente, a Companhia de Vinhos dos Profetas
AREIAS MILAGROSAS COM PROPRIEDADES TERAPÊUTICAS, SÃO UTILIZADAS NA PSAMOTERAPIA, TERAPIA DE AREIAS QUENTES
e dos Villões, de António Maçanita e de Nuno Faria, pegou nas rasteiras videiras plantadas nas dunas para revitalizar a viticultura atlântica. São várias as particularidades que tornam a ilha de Porto Santo tão especial para a produção de vinho, a partir de castas autóctones como a Caracol. Dentro dos muros de crochet – semelhantes aos currais de basalto negro erguidos no Pico –, as videiras são tratadas com pinças, de forma artesanal. Até agora, são cinco os brancos atlânticos feitos e engarrafados em Porto Santo.