O PORTO QUE ELES AMBICIONAM
A VISÃO enviou as mesmas seis perguntas às candidaturas que vão discutir quem comanda os destinos do FC Porto nos próximos quatro anos. António Oliveira respondeu pela Lista A, de Pinto da Costa, e André Villas-Boas pela B, que lidera
Se for eleito, quais serão as três primeiras medidas que gostaria de anunciar?
ANTÓNIO OLIVEIRA (candidato a vice-presidente): A primeira medida é que esta candidatura assuma de imediato a sua intensidade e a sua dedicação para unir com mais determinação o clube, ao contrário da outra candidatura que agora até deixou pelo caminho Jorge Costa para ir buscar a Espanha um internacional desse país. Os sócios, neste momento, estão desunidos com o ambiente criado por aqueles que se dizem “portistas”, mas que não se importam de prejudicar o clube, para ver se conseguem algum apoio ou simpatia de quem tenta arranjar um lugar sem a qualidade humana que deviam defender. O FCP merece um apoio incessante e o presidente também, pois foi quem conseguiu colocar o clube no prestígio europeu e mundial. Depois, entre outras medidas, pretendemos envolver os mais jovens para que sejam peças-chave na tomada de decisões do FC Porto e para o acompanhamento do seu crescimento wescolar e desportivo.
ANDRÉ VILLAS-BOAS: Destaco três medidas estruturantes a que a minha direção se vai dedicar desde o primeiro dia, projetadas para fortalecer a estrutura e a sustentabilidade do clube. Primeiro, estabelecer uma direção desportiva de elite, que será o coração da sustentabilidade do clube, responsável por um programa de scouting rigoroso que irá procurar talentos em todos os níveis, da equipa sénior à formação. Em segundo lugar, um forte foco na estabilidade nanceira. Dada a nossa situação atual, com um passivo superior a 500 milhões de euros e dívidas nanceiras superiores a 300 milhões, além de prejuízos operacionais anuais signicativos nos últimos 12 anos, é urgente uma gestão nanceira rigorosa. Teremos de desenvolver estratégias especícas para otimizar recursos, reduzir dívidas e aumentar receitas. Por último, é obrigatório fortalecer o associativismo e a ligação com os nossos adeptos. É essencial que intensiquemos a comunicação e a ligação com os sócios para garantir que se sintam ouvidos e valorizados. Urge implementar iniciativas que aumentem a participação dos sócios nas decisões e atividades do clube, reforçando o sentido de comunidade e pertença. Para mim, é triste e preocupante que 88% dos nossos sócios estejam concentrados apenas nos distritos de Porto, Braga e Aveiro. Vamos trabalhar para expandir este alcance.
Quais são os valores que, na sua opinião, devem distinguir o FC Porto aos olhos dos adeptos do desporto, independentemente da sua cor clubística?
ANTÓNIO OLIVEIRA: Aquilo que já distingue o Futebol Clube do Porto dos demais. Ser suportado por quatro pilares: rigor, competência, ambição e paixão. Demonstração de um compromisso inabalável com o clube, tanto dentro como fora de campo. Preservação da identidade cultural e histórica do clube e da região. Assim, o clube tem conquistado prestígio internacional numa conjuntura internacional de investimentos de outro mundo até por muitos países.
ANDRÉ VILLAS-BOAS: Os valores que devem caracterizar o FC Porto são a transparência, a excelência, a paixão e a cultura de vitória. É essencial que o FC Porto seja transparente com os seus sócios e adeptos, que opere com total clareza em todas as suas ações e decisões. Depois, a excelência. No FC Porto, temos de ter o compromisso de alcançar a mais alta qualidade em todos os aspetos, desde o desempenho no campo até à gestão no dia a dia do clube. E a construção da minha equipa reete essa busca de excelência. São pessoas com um trajeto prossional notável e inatacável. Além disso, a paixão pelo futebol e pelo desporto no seu todo é o coração deste clube. Uma paixão que é demonstrada em cada jogo e treino. Por último, a cultura de vitória que está no ADN do FC Porto. Cultivamos uma mentalidade vencedora que é central à nossa identidade.
Que caminho deve seguir o FC Porto para se armar numa Europa dominada pelas grandes ligas e pelo poder do dinheiro?
ANTÓNIO OLIVEIRA: Um caminho bem delineado e fundamentado nos pilares da nossa candidatura que são transparência e boa governança, sustentabilidade e crescimento, modalidades e futebol feminino, experiência e relação com sócios e adeptos; ter os jovens no centro do futuro da formação e do scouting.
Os sócios estão desunidos com o ambiente criado por aqueles que se dizem ‘portistas’, mas que não se importam de prejudicar o clube
António Oliveira
ANDRÉ VILLAS-BOAS: Não há outro caminho que não uma estratégia multifacetada, centrada na modernização, na sustentabilidade e na independência nanceira. É fundamental sabermos equilibrar ecazmente a excelência desportiva com a saúde nanceira. No plano desportivo, é fulcral avançarmos com um projeto de renovação das infraestruturas do FC Porto – seja ele através da nossa proposta do Centro de Alto Rendimento no Olival, seja estudando a viabilidade para a construção de uma Academia do FC Porto na Maia. Precisamos também de um scouting de nível de elite, capaz de identicar e desenvolver talentos antes dos outros clubes europeus. Também é crucial implementar um gabinete de performance de última geração. Em termos nanceiros, a estratégia passa por instaurar uma gestão rigorosa e controlada, com especial foco no cumprimento das regras de fair play nanceiro. Este controlo não só fortalecerá a nossa posição competitiva a nível internacional, como também garantirá a nossa autonomia e a capacidade de resistir a inuências externas prejudiciais. Em resumo, é importante alinhar todas as operações do clube com uma visão estratégica de longo prazo, assegurando que o FC Porto não apenas regresse ao seu ADN de vitórias, mas que também se estabeleça como um modelo de gestão sustentável no futebol europeu.
Qual será a política de contratações e vendas da equipa prossional de futebol, tendo em conta a ambição desportiva e a gestão nanceira? ANTÓNIO OLIVEIRA: Num contexto internacional, mais global, o FCP tem de criar os seus talentos para poder valorizá-los, para receber investimentos elevados. Aposta na formação e nas vendas estratégicas. Em resumo, medidas que permitam ao FCP competir em alto nível no cenário europeu, enquanto se assegura uma gestão nanceira sustentável e responsável. ANDRÉ VILLAS-BOAS: A escolha de jogadores deve ser realizada com um critério extremamente rigoroso, valorizando não só o talento, mas também o compromisso e a identicação com os valores do clube. É impossível uma taxa de acerto a 100% nas contratações, reconheço e aceito isso, mas um clube de elite não pode acumular tantos erros naquele que é o seu “core”, a deteção de talento. Vamos implementar uma direção de scouting totalmente reformulada e mais ecaz, capaz de identicar, ltrar e selecionar talentos com maior rigor, através de um planeamento estratégico que abrange o curto, o médio e o longo prazo. Com esta abordagem, queremos que cada euro investido contribua para o futuro do clube, representando um verdadeiro investimento e não apenas um gasto. O nosso objetivo é captar imediatamente qualquer jogador de grande talento identicado, garantindo que o FC Porto continue a ser uma força dominante tanto no palco nacional como no internacional.
O que mais teme no futuro do clube se o seu adversário ganhar as eleições?
ANTÓNIO OLIVEIRA: O clube é dos portistas, dos sócios. O clube é o acionista maioritário da SAD. Se, porventura, a nossa candidatura não vencer estas eleições, temo vir a ver o clube a ser vendido a árabes, pois quem estará à frente do clube só tem em mente os negócios. Na candidatura Todos pelo Porto revemo-nos na missão de Jorge Nuno Pinto da Costa, que é defender os interesses do Futebol Clube do Porto até à morte. Já meditaram na quantidade de títulos de todas as modalidades que fazem de Pinto da Costa o presidente mais conquistador de títulos a nível mundial?
ANDRÉ VILLAS-BOAS: Existe um risco real de continuarmos a adotar uma gestão que já se mostrou ultrapassada e prejudicial para o FC Porto. Persistir em decisões que comprometem a nossa estabilidade nanceira, a competitividade e que podem deteriorar a nossa reputação e os valores que defendemos é algo que não podemos aceitar. Um clube que não tem resultados desportivos terá sempre mais diculdade em garantir a sua sustentabilidade enquanto instituição.
Se vencer a sua candidatura, como será a relação com os rivais Benca e Sporting?
ANTÓNIO OLIVEIRA: A relação será a mesma. São equipas rivais, adversários que queremos sempre vencer. O futebol nacional tem essa característica essencial que é tentar vencer sempre. Contudo, os clubes devem entender que são eles que denem o valor dos campeonatos e, além da qualidade desportiva, tem de haver comunhão entre todos para que a Liga portuguesa seja prestigiada e sem as tentativas de guerra entre clubes. O foco deve permanecer na busca de excelência desportiva e no sucesso do FCP, enquanto se reconhece a importância dos rivais na promoção do futebol português. ANDRÉ VILLAS-BOAS: O FC Porto tem de ser encarado como um motor essencial na evolução e no fortalecimento do futebol português. Estarei empenhado em promover diálogos construtivos estratégicos com qualquer clube. Temos na Liga Centralização um bem comum, em que as rivalidades têm de entender qual o ativo de todos – a nossa Liga. Se formos incapazes de fazer isso, estamos no caminho errado. Tenho isto em mente, mas sempre com o interesse do FC Porto em primeiro lugar, garantindo que lideramos o caminho para a criação de um produto de liga superior e mais competitivo.
Existe um risco real de continuarmos a adotar uma gestão que já se mostrou ultrapassada e prejudicial para o FC Porto
André Villas-Boas