Visão (Portugal)

“NÃO PEÇO POSES, NÃO DIRIJO NINGUÉM”

Marisa Martins, embaixador­a Canon, descreve-se como “fotógrafa documental de família”. Tenta captar a beleza da vida quotidiana, até nos momentos mais caóticos

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Rejeitando o caminho trilhado pelos fotógrafos de família, que convidam os clientes a entrar num estúdio e a sorrirem quando lhes é pedido, a abordagem natural de Marisa valeu-lhe muitos prémios, como Fotógrafa do Ano 2023, pela This is Reportage Family, e como Documentar­ista do Ano, pela Documentar­y Family Photograph­ers.

Nesta entrevista, dá-nos um vislumbre do seu processo e das suas perspetiva­s para 2024.

Como descreveri­a o seu estilo fotográfic­o?

Tento captar as famílias de forma honesta e real, com uma abordagem fotojornal­ística. Ao contrário das sessões fotográfic­as tradiciona­is, em que há uma pose preparada, quero que as famílias vejam refletidas nas imagens as suas verdadeira­s personalid­ades, e quero compreende­r a dinâmica de cada membro e que as minhas fotografia­s ofereçam uma representa­ção real da vida.

Há poucos anos, a fotografia de família era muito diferente – tudo perfeito e polido. Acha que agora estamos a ver mais o lado “real” da vida familiar?

Sem dúvida, pois a procura da autenticid­ade está a aumentar. Podemos ver nas redes sociais que as pessoas querem mostrar-se de uma forma mais autêntica, e penso que é por aí que vamos continuar.

Como se põe as pessoas à vontade em frente a uma câmara que está a invadir o tempo privado em família?

O segredo é a quantidade de tempo que passo com as pessoas. Costumo passar cerca de 12 horas com uma família. Primeiro, olham para mim de forma estranha, mas tento integrar-me nas conversas e começa a parecer que sou uma amiga que está de visita. Não peço poses, não dirijo ninguém, só estou ali a passar o dia – e após cerca de três horas, começam a descontrai­r. É o momento mágico, quando se esquecem do que estou a fazer.

Sai de cada sessão com milhares de fotografia­s, como faz a seleção?

Costumo entregar aos clientes cerca de 200 fotografia­s e um slide show de melhores momentos. Só publico as que são fortes do ponto de vista emocional, as que contam uma história. Olho primeiro para os momentos especiais, depois para a composição e, por fim, para as que têm uma luz fantástica.

Como entrou na área e o que a levou a apostar na fotografia de família?

Foi há cerca de 11 anos, quando a minha filha nasceu. Eu era engenheira civil, mas sempre gostei de fotografia e, quando tive a bebé, comecei a fotografá-la quando era muito pequena, e foi uma alegria. Deixei a engenharia, comprei uma Canon EOS 6D e tudo floresceu a partir daí.

Que equipament­o costuma levar para uma sessão?

Em sessões documentai­s de família, utilizo sobretudo a Canon EOS R6 Mark II, a objetiva prime EF 35mm f/1.4L II USM e a RF 28-70mm F2L USM. Para viagens pessoais, opto pela Canon EOS R8 com a RF 35mm F1.8 MACRO IS STM – é leve, pequena e ótima para fotografia de viagem e documental.

Há alguma coisa que gostaria de experiment­ar mais?

Adoro fotografia de rua, por isso quero fotografar famílias com mais frequência neste estilo, com luz dura, cores fortes, mais contraste, cenas mais reais. Inspirando-me nos grandes mestres, mas sempre com a minha visão e compreensã­o da história e dinâmica de cada família.

Por fim, tem alguma novidade entusiasma­nte a caminho que queira partilhar?

Tenho projetos a longo prazo em curso com algumas famílias que eu conheço. Todos os anos, fazemos pelo menos uma sessão e quero trabalhar com elas durante os próximos 10 a 15 anos – para ter um banco de bocadinhos de “um dia na sua vida” e mostrar como as crianças crescem. São os projetos da minha vida – estar com estas famílias durante décadas. Também estou a fazer workshops e a dar orientação a outros fotógrafos sobre este género de fotografia.

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MARISA MARTINS
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