Primavera sem alergias
Sabia que a rinite alérgica é uma das doenças crónicas mais comuns do mundo e que até 40% da população sofre desta patologia? E ainda assim é uma doença subdiagnosticada e subtratada.
Os sintomas característicos são frequentemente considerados “normais”, mas têm grande impacto na qualidade de vida dos doentes, nas atividades do dia a dia e no sono, e implicam menor aproveitamento escolar e menor produtividade no local de trabalho.
Os sintomas decorrentes da inflamação da mucosa nasal, quando exposta aos alergénios (como os pólenes), são habitualmente o prurido nasal (comichão), a rinorreia serosa (pingo no nariz), os esternutos (espirros) e a obstrução nasal e associam-se frequentemente a sintomas de conjuntivite alérgica, como o prurido ocular e o lacrimejo. Por vezes, são ainda acompanhados de outro tipo de queixas respiratórias, como a tosse persistente, a falta de ar, e/ ou a pieira, caracteristicamente sintomas de asma, que podem manifestar-se apenas na primavera e que devem motivar observação médica imediata.
Em Portugal, estas manifestações são prevalentes na primavera, sobretudo de maio a julho, e a sua presença alerta para o facto de a doença alérgica não estar controlada.
Mas é possível ser alérgico e conseguir passear por jardins na primavera ou dormir sem ter com um pacote de lenços ao lado da cama? De facto, pode ser possível, sim.
O primeiro passo para o controlo dos sintomas passa por procurar ajuda com um imunoalergologista, que, de acordo com uma colheita de história clínica criteriosa, fará o correto diagnóstico da doença. O segundo passo passará por identificar a que alergénios se é alérgico, nomeadamente se se trata de uma alergia a pólenes de gramíneas, de árvores ou de ervas, e se existe concomitantemente outro tipo de alergénio (como os ácaros, por exemplo) a agravar o quadro e, eventualmente, a manifestar sintomas noutras épocas sazonais.
A identificação dos alergénios é habitualmente realizada de forma rápida através de testes cutâneos, podendo em determinados casos ser necessária uma colheita de análises sanguíneas. São então explicados os cuidados a ter para que se evite o contacto com os pólenes (ou com outro alergénio), algo que nem sempre é possível, dado que a evicção total com os mesmos é extremamente difícil de ser conseguida. Alguns dos cuidados incluem evitar realizar atividades ao ar livre, em dias de maior concentração de pólenes (mediante consulta do Boletim Polínico da Rede Portuguesa de Aerobiologia, da Sociedade Portuguesa de Aerobiologia e Imunologia Clínica), proteger os olhos com utilização de óculos (se tiver sintomas oculares concomitantes) e ser portador de medicação de alívio.
O terceiro passo consiste numa abordagem terapêutica farmacológica, que deve ser recomendada de forma individual, de acordo com o tipo, a persistência e a gravidade dos sintomas. Esta abordagem pode ter como base a aplicação regular de corticoterapia intranasal e, como medicação de alívio, a toma de anti-histamínicos orais, entre outras opções. A abordagem terapêutica que visa a remissão clínica é realizada através da imunoterapia específica com estratos alergénicos, vulgarmente conhecida como vacina antialérgica. A imunoterapia específica deve ser prescrita em casos devidamente selecionados e é a única terapêutica capaz de modificar o curso natural da doença alérgica, permitindo a redução dos sintomas de alergia, reduzindo o uso de medicamentos, melhorando a qualidade de vida dos doentes, quer na rinite, quer na rinoconjuntivite, quer na asma.
Idealmente, a primavera deve ser vivida sem sintomas, para que os dias compridos e com bom clima sejam aproveitados em todo o seu esplendor. A correta orientação diagnóstica e terapêutica é fundamental para um bom controlo de sintomas de alergia, nesta época maravilhosa do ano.
A rinite alérgica é uma das doenças crónicas mais comuns do mundo e que até 40% da população sofre desta patologia