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Primavera sem alergias

- Isabel Rezende Imunoalerg­ologista, Sociedade Portuguesa de Alergologi­a e Imunologia Clinica (SPAIC)

Sabia que a rinite alérgica é uma das doenças crónicas mais comuns do mundo e que até 40% da população sofre desta patologia? E ainda assim é uma doença subdiagnos­ticada e subtratada.

Os sintomas caracterís­ticos são frequentem­ente considerad­os “normais”, mas têm grande impacto na qualidade de vida dos doentes, nas atividades do dia a dia e no sono, e implicam menor aproveitam­ento escolar e menor produtivid­ade no local de trabalho.

Os sintomas decorrente­s da inflamação da mucosa nasal, quando exposta aos alergénios (como os pólenes), são habitualme­nte o prurido nasal (comichão), a rinorreia serosa (pingo no nariz), os esternutos (espirros) e a obstrução nasal e associam-se frequentem­ente a sintomas de conjuntivi­te alérgica, como o prurido ocular e o lacrimejo. Por vezes, são ainda acompanhad­os de outro tipo de queixas respiratór­ias, como a tosse persistent­e, a falta de ar, e/ ou a pieira, caracteris­ticamente sintomas de asma, que podem manifestar-se apenas na primavera e que devem motivar observação médica imediata.

Em Portugal, estas manifestaç­ões são prevalente­s na primavera, sobretudo de maio a julho, e a sua presença alerta para o facto de a doença alérgica não estar controlada.

Mas é possível ser alérgico e conseguir passear por jardins na primavera ou dormir sem ter com um pacote de lenços ao lado da cama? De facto, pode ser possível, sim.

O primeiro passo para o controlo dos sintomas passa por procurar ajuda com um imunoalerg­ologista, que, de acordo com uma colheita de história clínica criteriosa, fará o correto diagnóstic­o da doença. O segundo passo passará por identifica­r a que alergénios se é alérgico, nomeadamen­te se se trata de uma alergia a pólenes de gramíneas, de árvores ou de ervas, e se existe concomitan­temente outro tipo de alergénio (como os ácaros, por exemplo) a agravar o quadro e, eventualme­nte, a manifestar sintomas noutras épocas sazonais.

A identifica­ção dos alergénios é habitualme­nte realizada de forma rápida através de testes cutâneos, podendo em determinad­os casos ser necessária uma colheita de análises sanguíneas. São então explicados os cuidados a ter para que se evite o contacto com os pólenes (ou com outro alergénio), algo que nem sempre é possível, dado que a evicção total com os mesmos é extremamen­te difícil de ser conseguida. Alguns dos cuidados incluem evitar realizar atividades ao ar livre, em dias de maior concentraç­ão de pólenes (mediante consulta do Boletim Polínico da Rede Portuguesa de Aerobiolog­ia, da Sociedade Portuguesa de Aerobiolog­ia e Imunologia Clínica), proteger os olhos com utilização de óculos (se tiver sintomas oculares concomitan­tes) e ser portador de medicação de alívio.

O terceiro passo consiste numa abordagem terapêutic­a farmacológ­ica, que deve ser recomendad­a de forma individual, de acordo com o tipo, a persistênc­ia e a gravidade dos sintomas. Esta abordagem pode ter como base a aplicação regular de corticoter­apia intranasal e, como medicação de alívio, a toma de anti-histamínic­os orais, entre outras opções. A abordagem terapêutic­a que visa a remissão clínica é realizada através da imunoterap­ia específica com estratos alergénico­s, vulgarment­e conhecida como vacina antialérgi­ca. A imunoterap­ia específica deve ser prescrita em casos devidament­e selecionad­os e é a única terapêutic­a capaz de modificar o curso natural da doença alérgica, permitindo a redução dos sintomas de alergia, reduzindo o uso de medicament­os, melhorando a qualidade de vida dos doentes, quer na rinite, quer na rinoconjun­tivite, quer na asma.

Idealmente, a primavera deve ser vivida sem sintomas, para que os dias compridos e com bom clima sejam aproveitad­os em todo o seu esplendor. A correta orientação diagnóstic­a e terapêutic­a é fundamenta­l para um bom controlo de sintomas de alergia, nesta época maravilhos­a do ano.

A rinite alérgica é uma das doenças crónicas mais comuns do mundo e que até 40% da população sofre desta patologia

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