VIAGEM sem princípio nem fim
As cores e as texturas de um mundo imensamente belo, na de Emporio Armani.
passerelle uma cena em Mogambo, o clássico de John Ford de 1953, quando Eloise Kelly (Ava Gardner) e Linda Nordley (Grace Kelly) conversam na varanda da cabana onde se desenrola parte do triângulo amoroso com Victor Marswell (Clark Gable), o estilo das duas protagonistas salta à vista. A futura princesa do Mónaco numa elegante saia bege pelos joelhos, camisa cor-de-rosa e “sapatos de cidade” (é impossível defini-los de outra maneira), frente ao “mais belo animal do mundo” em calças khaki castanhas, polo branco e medidas de cortar a respiração acentuadas por um cinto vermelho. Mogambo representa a época de ouro de Hollywood, quando a sétima arte era sinónimo de glamour e sensualidade, e onde os detalhes de guarda-roupa tinham direito a papel principal.
O cinema haveria de regressar a África, e às viagens, vezes sem conta, e quase sempre se apoiou na Moda para passar a mensagem de uma estética vibrante, otimista e requintada – a estética a que Giorgio Armani recorre, esta primavera/verão, na Emporio Armani, numa coleção intitulada Cidadã do Mundo. Num cenário futurista, em Paris (o designer celebrava a abertura de uma loja na Cidade Luz), roupa que lembra destinos longínquos vestiu uma mulher contemporânea. “A mulher que eu imagino para a Emporio Armani é uma mulher forte, curiosa e de mente aberta. Ela gosta de captar sinais de outras culturas e torná-los seus, Giorgio Armani e misturá-los num guarda-roupa que é requintadamente urbano.”
Aos 82 anos, Armani mantém-se maestro na arte do “menos é mais”, da sofisticação subtil e do requinte delicado. A atração pelo exótico, espelhada em padrões coloridos como o estampado de elefantes, nunca é levada ao extremo, nem se sobrepõe ao mais importante: a roupa que veste a mulher. “Na minha busca constante por fluidez, sempre olhei para o Oriente, capturando o seu espírito e a qualidade essencial para criar roupa adequada ao estilo de vida da cidade de hoje.”
As viagens, que sempre inspiraram Armani, são aqui sinónimo de liberdade e de elegância: blazers desconstruídos combinados com calças de seda em cores sólidas (azul-elétrico, vermelho-escuro, roxo), vestidos fluidos com folhos, calças e calções com transparências adornados por pequenos laços… Os bordados, presentes em casacos e vestidos, evocam o artesanato de diferentes geografias sem referências específicas e, nos acessórios, carteiras e clutches em couro perfurado ou seda, sandálias de salto alto com apliques metálicos e sapatos rasos com borlas, são a resposta a este espírito de exploração e modernidade. Cinéfilo confesso afirmou, em tempos, sobre a sua relação com a sétima arte: “O cinema permite-me trabalhar com roupa de uma forma que defende a minha visão de estilo, tendo em conta que ajudo a construir uma personagem. É o tipo de trabalho que, quando funciona bem, nos recompensa da forma mais satisfatória: a eternidade.” l Ana Murcho
"Na minha busca constante por fluidez, sempre olhei para o Oriente, capturando o seu espírito."