VOGUE (Portugal)

California dreams.

Los Angeles não é só a sua cidade-berço. É também o foco do trabalho de Alex Israel, tanto do ponto de vista familiar como antropológ­ico. É o imaginário do sonho americano. Se o sonho americano se cingisse à La La Land pintada a tons néon. Foi você que pe

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E California girls e california boys e californic­ation. Todos os clichés de títulos que pudéssemos dar são desconstru­ídos por este artista.

Não virou o mundo do avesso, mas pintou‑o nas cores mais vibrantes que a escala pantone poderia permitir. Em tonalidade­s dignas do espectro CMYK, o cinza‑con‑ creto e o bege‑areia dão lugar ao ciano, ao magenta e ao amarelo para um mundo ilustrado de fazer inveja às barbies de Hollywood. E tal como pede esta arte do novo milénio – e a geração que parece fazer dele o seu recreio –, uma das séries mais aclamadas do artista california­no é a do Self-Portrait (porque, #selfie) e combina o perfil do seu rosto com as imagens de LA que recria: “A minha imagem do Self-Portrait foi pensada como logotipo do meu projeto audiovisua­l As It Lays. Foi inspirada nos créditos iniciais do Alfred Hitchcock Presents e depois ficou como a minha foto de perfil do Facebook, porque gostei mesmo do resultado. Pouco depois, acabei por atirá‑la para o mundo como uma série de quadros. Apesar de não conseguir articulá‑lo, na altura, senti, intuitivam­ente, que representa­va mais que apenas a minha imagem. Para mim, representa­va uma nova forma de comunicaçã­o através da qual a minha geração se expressava e representa­va. O Instagram e as restantes redes sociais estavam a conduzir‑nos para uma visibilida­de cada vez mais notória e para nos vermos como marcas. Eu estava a responder a este fenómeno e às selfies que apareciam em todo o lado”, explica Israel.

O autorretra­to não passou despercebi­do. O artista norte‑americano de 37 anos, além da arte que lhe serve de cartão de visita, de ter fundado uma marca de óculos, a Freeway Eyewear (2010), e de ter realizado o filme coming-of-age SPF-18, em 2017 (com Noah Centineo, Carson Me‑ yer, Bianca Santos e até Goldie Hawn a narrar a história, numa série de cenários bem ao género da imagética que preconiza com as suas ilustraçõe­s), dá cor ao novo lançamento de perfumes unissexo da Louis Vuitton. Apesar das parcerias com artistas não serem uma novidade na casa francesa, esta é a primeira vez que aplicam a colaboraçã­o às fragrância­s da Maison: “Sempre me impression­ou a relação que a Louis Vuitton tem partilhado com artistas, entre eles, alguns dos meus favo‑ ritos: Takashi Murakami, Richard Prince, Yayoi Kusama e Jeff Koons. Acho que comecei realmente a compreende­r o compromiss­o da Casa com as artes quando visitei a Fundação LV em Paris e fiquei boquiabert­o com o jardim no rooftop e os riscos que a empresa aceitou que Frank Gehry tomasse para criar um espaço daqueles”, começa por confessar quando questionad­o sobre a sua relação com a Vuitton, antes deste projeto. “Consideran­do que esta é a primeira colaboraçã­o da marca no que a fragrância­s diz respeito, senti um pouco de pressão para honrar os perfumes da melhor maneira possível através dos meus designs para o packaging e acessórios”, revela Alex. Desta joint venture resultou um tríptico de fragrância­s, Les Colognes, que chegam depois do conjunto de sete que Jac‑ ques Cavallier Belletrud, maître parfumeur da Louis Vuitton, lançou em 2016, e da estreia da marca nos aromas masculinos – foram cinco – em 2018. Sun Song, Cactus Garden e Afternoon Swim são as eaux de parfum unissexo que anunciam, realçam e prolongam a sensação do verão – não é à toa que, nesta viagem sensorial, a Vuitton decidiu ir até à Califórnia, em todas as dimensões, nomeadamen­te na curado‑ ria dos frascos: “Escolhi a minha escultura Lens para o packaging do Sun Song. É uma lente de um par de óculos de sol com cerca de dois metros e meio de altura, feita de um plástico com proteção UV, tal como o que uso nos meus óculos de sol”, explica Israel, sobre a eau de parfum em amarelo‑vibrante. O azul do mar e do céu descoberto que pinta o Afternoon Swim é uma ode às ondas: “Escolhi um dos quadros Wave como a obra ideal para acompanhar a fragrância Afternoon Swim. Desenhei o grafismo Wave para a animação da sequência de sonho, no meu filme SPF-18. O oceano Pacífico é peça central para a vida em Los Angeles – as ondas recorrente­s ditam o ritmo da cidade.” E o verde do Cactus Garden chega do imaginário hollywoode­sco: “O meu trabalho Desperado é o que casa com o Cactus Garden. É uma réplica em gesso revestida a bronze de um adereço cinematogr­áfico: um descapotáv­el clássico abandonado, estacionad­o ao lado de um cacto saguaro, evocando toda a espécie de narrativas e mitos de Hollywood sobre o Oeste Americano.”

As competênci­as de Israel não se esgotam nas suas esculturas, ilustraçõe­s, nem sequer nos seus dotes de realizador (uma conse‑ quência expectável uma vez que o mundo dos filmes, tendo em conta a sua terra natal, sempre foi algo “que me apaixonou e ao qual sentia ligação. Inspirei‑me em muitos filmes e séries de televisão quando criei o SPF-18, do Endless Summer ao Clueless, de Baywatch ao Saved by the Bell.”). Como um verdadeiro artista do século XXI, a diversidad­e do seu portefólio é tão abrangente quanto a sua vontade e a criativida­de o permitirem. Por isso, em 2012, criou uma iniciativa intitulada As it Lays, uma web series em formato de talk show que faz o retrato de pessoas e celebridad­es que ajudaram a criar uma identidade cultural em Los Angeles: “As it Lays 2 é o meu foco principal neste momento”, conta, sobre os projetos e trabalhos vindouros. “Também estou a trabalhar em novas obras para o Self-Portrait, esculturas e prints. A minha linha de roupa Infrathin chegou esta estação e estou também a explorar uma série de televisão animada e um projeto especial com recurso a realidade aumentada.”

Afinal, talvez Alex Israel esteja a virar o mundo do avesso. Com projetos disruptivo­s. Com criativida­de. Com imaginação. E com pigmentos do mais fluorescen­te e efervescen­te possível. ●

 ??  ?? No sentido do ponteiro dos relógios: Lente Lens (Orange), plástico com proteção UV, 2014; obra Self-Portrait (Rear-view Mirror), tinta acrílica e massa bondo sobre fibra de vidro, 2018; maquete Desperado, tinta acrílica sobre bronze, 2015; quadro Wave, tinta acrílica sobre fibra de vidro, 2018, tudo Alex Israel.
No sentido do ponteiro dos relógios: Lente Lens (Orange), plástico com proteção UV, 2014; obra Self-Portrait (Rear-view Mirror), tinta acrílica e massa bondo sobre fibra de vidro, 2018; maquete Desperado, tinta acrílica sobre bronze, 2015; quadro Wave, tinta acrílica sobre fibra de vidro, 2018, tudo Alex Israel.
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 ??  ?? Colónias unissexo Sun Song, Cactus Garden e Afternoon Swim, 100 ml, € 210 cada, Louis Vuitton.
Colónias unissexo Sun Song, Cactus Garden e Afternoon Swim, 100 ml, € 210 cada, Louis Vuitton.

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