Doze badaladas.
Quanto tempo dura um segundo? Às vezes apenas um milésimo da sua medida. Outras, uma vida inteira.
Está na hora de mudar de relógio.
O tempo não é consensual. “Como assim?!”, pergunta a leitora, olhando para os dígitos do smartphone. São 18h47, diz o aparelho. Mais minuto, menos minuto. O horário pode estar estabelecido, mas o conceito, ou melhor, a perceção e o estudo do tempo (definido na sua forma simples enquanto uma grandeza física que representa a sucessão de eventos irreversíveis que vêm do passado para o presente em direção ao futuro) diferem, não só de indivíduo para indivíduo, como de área de estudo para área de estudo: se perguntar a um físico ou físico quântico sobre a noção do termo, a resposta não será tão linear quanto “são agora 10 para as 7h”. É também possível que fazer a pergunta a um historiador desencadeie uma resposta mais cronológica do que “perto das 19h”. Afinal, até quando “o tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem o tempo que o tempo tem”.
É que a indicação dos ponteiros do relógio pode até reunir consenso, mas a perceção da sua duração altera-se pela situação em si, mesmo que a sociedade ocidental o tenha quantificado em frames de segundos que se acumulam em minutos que se acumulam em horas, dias, meses e por aí fora… porque o segundo que demora a apaixonar-se não tem a mesma medida de tempo do segundo em que aguarda saber se conseguiu aquele emprego ou não. Não é à toa que dezenas de expressões surgiram a propósito do tema, ambíguas na temporalidade que a palavra “tempo” encerra: “o tempo passa mais depressa quando te estás a divertir”, ou mais devagar quando vês “tinta a secar”. “Matar o tempo” e “perder tempo” significam vontades diferentes – e nem vamos falar no impacto da expressão “dar um tempo” entre duas pessoas. “Ter tempo” é um manifesto cada vez mais apetecível. E não é à toa que, numa altura em que o consumismo atingiu talvez o seu pico, o bem mais valioso que temos seja ele mesmo: o tempo. É o elemento mais renovável e inesgotável que temos, se pensarmos que o tempo – ou a sua passagem – existirá sempre. Mas o tempo que é nosso, nesta vida, não só não é intemporal como é cada vez mais raro. Para um pai, tempo com os filhos é mais valioso que o ouro. Para quem perde um ente querido, tempo é medida que nunca foi suficiente. E para quem a vida muda num segundo, tempo é tudo o que agora tem pela frente.
É por isto que o mais recente lançamento do icónico J12 da Chanel, o relógio em cerâmica imaginado em 2000 por Jacques Helleu, diretor artístico da Maison, chega a 2019 com uma mensagem clara: “It’s all about seconds.” E para explicar porque é que, no fim de contas, a vida é uma questão de segundos e todos eles importam, há nove musas da Casa que dizem como os passam, o que mais gostam de fazer e que segundos foram cruciais nas suas vidas: “Acho que o momento decisivo na minha carreira foi quando me convidaram a fazer uma campanha para o Chanel Nº5”, conta Ali MacGraw, do alto dos seus 80 anos de uma jovialidade invejável, na campanha audiovisual que nos começa agora a entrar pelos ecrãs. “Um agente viu essa foto numa loja algures em Nova Iorque e perguntou-me se eu gostaria de entrar no Cinema, área para a qual eu tinha zero qualificações. Acho que o resto é história.”A atriz norte-americana da Era Dourada de Hollywood começou o namoro com a casa Chanel em 1965 e o seu caminho chegou a cruzar-se com o de Gabrielle, por alturas em que Ali trabalhava na imprensa de Moda, antes de optar pela representação – e se estes episódios não são tempo sagrado, não sabemos o que será. Anna Mouglalis tem também a sua história, tempestuosa, mas não menos feliz. A atriz
refere: “As primeiras transgressões foram as coisas mais decisivas para mim quando comecei a minha carreira profissional, queriam que fizesse uma operação porque achavam que tinha uma voz que não correspondia de todo ao meu corpo, e eu disse que não!” A colega de profissão, Keira Knightley é mais lata na sua escolha: “Acredito que tudo na minha vida é um momento decisivo, todos os trabalhos que aceito e todos os que recuso são momentos decisivos”, confessa, acrescentando: “Onde vou de férias, esse é um momento decisivo.” Naomi Campbell partilha desse sentimento abrangente – “Todas as ações com que me comprometi são segundos decisivos. Há coisas na vida que simplesmente têm de acontecer quando acontecem” –, mas a modelo Liu Wen, por exemplo, quase poderia especificar o seu life-changing second ao milésimo de segundo: “Um momento decisivo para mim foi quando, no outono de 2005, decidi comprar um bilhete de comboio só de ida da minha cidade-natal Yongzho para Pequim e começar a carreira de modelo. Esse era o meu sonho.” Similar ao de Claudia Schiffer: “Um segundo decisivo na minha vida foi talvez o momento em que um scout de modelos me abordou e me perguntou se eu queria ser modelo e eu quase disse não. Graças a Deus que disse que sim. Isso aconteceu numa discoteca em Dusseldorf, em 1987. Há muito tempo.” Vanessa Paradis, por sua vez, dá a resposta por todas nós: “Um segundo decisivo é quando te apaixonas.” Knightley corrobora: “O que é intemporal? O amor, o amor é intemporal, algo que te assusta, acho que é aí que os segundos parecem ser mais longos.”
ão é de estranhar que, com um conceito tão relevante em dimensões diferentes para toda e qualquer pessoa, a atualização do J12 seja um passo igualmente importante para a casa, mas a etiqueta fê-lo de uma forma tão subtil que a melhoria não afeta a experiência de quem se habituou a cronometrar a vida no mostrador laqueado – a preto ou a branco, as duas cores disponíveis da peça, porque para áreas cinzentas já basta as da vida – da peça emblemática. O mais recente J12 – assim batizado em tributo à categoria homónima de veleiros na America’s Cup, uma vez que a vela bem como o automobilismo sempre foram paixões de Helleu – ganha contornos que melhoram a sua performance e design, mas que são quase impercetíveis de forma a não adulterar o ícone. Afinal, numa era de tempos incertos em que tudo muda num segundo, ter uma constante é como ter um salva-vidas. Por isso, a sua atualização, sob a tutela de Arnaud Chastaingt, diretor do Watch Creation Studio da Chanel, incide sobre detalhes que fazem o todo maior – a começar pelo calibre 12.1, pelo novo movimento automático de manufatura desenvolvido pela suíça Kenissi Manufacture exclusivamente para a Chanel. O calibre, um cronómetro certificado pela COSC (Contrôle Officiel Suisse dês Chronomètres) permite 70 horas de reserva de energia. Outras mudanças acontecem no desenho da peça: no mostrador, ampliado, o aro foi repensado, e a circunferência, antes com 30 recortes, apresenta agora uma textura ainda mais trabalhada com 40 recortes, tendo os algarismos e a indexação na face sido redesenhados. A largura da coroa em aço foi reduzida para dois terços, bem como o cabochão em cerâmica que a segura. Em contrapartida, a caixa em cerâmica, claro, altamente resistente está ligeiramente mais robusta, mas como o perfil do relógio está mais arredondado, esse acréscimo de espessura tem um efeito visual contrário: o J12 parece mais fino. A bracelete, com mais elos, acentua esta ilusão ótica, bem como incrementa a sua elegância. Os ponteiros das horas e dos minutos têm agora a mesma largura com um ajuste dimensional das áreas que brilham no escuro (cortesia da Super-LumiNova). O melhor? A caixa em cerâmica, que é uma peça única, tem no fundo um vidro de safira para que possa admirar o movimento mecânico de corda automática.
Um objeto ideal para ver o tempo a passar. Melhor: para usufruir do tempo a passar. “Adoro aquele momento depois do jantar em que toda a gente se junta em frente à lareira, com família e amigos”, diz Schiffer. “Não sou daquelas pessoas que querem que o tempo pare”, Naomi também sabe aproveitá-lo. “O meu momento preferido do dia é o pôr do sol, a golden hour; tudo é lindo nessa luz dourada, toda a gente fica linda iluminada por ela, ninguém fica mal.” Lily-Rose Depp partilha do sentimento, gosta de “pores do sol com as pessoas com quem gosto de passar tempo”.
E talvez não dê para voltar atrás, por mais que se gire a coroa do J12 no sentido inverso, mas o tempo passado a recordar também é carpe diem: “Uma das minhas primeiras memórias é a experimentar os pumps Chanel da minha mãe quando tinha um ano e meio ou dois”, partilha Depp, confirmando que há momentos no tempo que nos acompanham até ao futuro. “Nunca pensei muito sobre tempo, quando tinha 18 anos, não pensava que em cinco anos estaria a fazer isto, que em dez estaria a fazer aquilo… nunca!”, lembra Carole Bouquet. “Voltamos sempre ao tempo, infelizmente, com o passar dele perdi a capacidade – e era mesmo dotada nisso – de viver o momento.” “Sentia que o tempo, quando era mais nova, passava tão devagar e agora… não tenho tempo a perder”, confessa Campbell. Nostálgico? Não há tempo para isso: “Não tenho a certeza se quero que o tempo pare porque…”, Vanessa Paradis a criar mantras, “é tão bonito quando corre”. Tão poético quanto a confissão de Keira: “Dormir. Adoro perder tempo a fazê-lo.”
São 21h21. Uma boa hora para recordar que o tempo que passa a ler a Vogue é tempo precioso. ●