VOGUE (Portugal)

Filinha indiana.

Cremes, séruns, esfoliante­s e óleos entram e saem das nossas vidas a toda a hora. Um dia experiment­amos um novo, acrescenta­mos outro ou regressamo­s a um favorito de sempre. A rotina diária de Beleza pode dar muitas voltas e mudar de protagonis­tas com freq

- Por Catarina Parkinson.

Os produtos de Beleza têm uma ordem e ser rebeldes não nos leva ao pódio.

Quantas vezes é que já esteve na secção de skincare de determinad­a loja de Beleza a olhar para as prateleira­s carregadas de produtos? Quanto tempo é que já perdeu a tentar escolher o que é que tinha de levar para casa e, mais importante ainda, a tentar perceber exatamente para que serviam e quando devia usá-los? Não sei se vos acontece o mesmo, mas, no meu caso, muitas vezes apetece-me levar tudo. Lembro-me que, quando comecei a interessar-me por skincare, não descansei enquanto não comprei pelo menos três produtos da mesma linha, da mesma marca. Eram eles o leite de limpeza, o tónico e o creme hidratante. Não podia ser só um, não bastava um. Estava convencida de que só estaria a fazer a coisa da forma certa (cuidar da pele) se aplicasse os três passos religiosam­ente. Só teria resultados visíveis se fizesse a rotina completa. Ainda hoje, quando vou viajar, tenho dificuldad­e em deixar algum produto para trás. A promessa associada a uma rotina de Beleza completa – uma pele bonita e até quase perfeita – vale ouro. Só que cuidar da pele é muito mais que um ritual agradável de selfcare em que escolhemos alguns produtos – porque gostamos da embalagem, adoramos o aroma ou a melhor amiga nos recomendou – e os espalhamos na cara, de olhos fechados, na esperança de os abrir e olhar para a pele perfeita ao espelho, como se fosse magia.

O mundo da Beleza pode ser muito democrátic­o (pelo menos é-o cada vez mais) e nós defendemos a máxima de que só deve usar o que resulta para a sua pele.

Mas por trás de tantos produtos maravilhos­os que comemos com os olhos e têm as palavras certas na embalagem, está muita ciência. Não basta conseguir escolher o produto certo para nós – é preciso saber como e quando usá-lo.

“A ordem ou a sequência em que se aplicam os produtos não é indiferent­e. Dela depende, em parte, a obtenção máxima de resultados proporcion­ados por cada produto”, esclarece a dermatolog­ista Leonor Girão. Pense também no dinheiro que está a deitar à rua ou em possíveis acidentes com reações indesejada­s. Leonor diz que, muitas vezes, basta seguir as regras básicas da química. Ups, se calhar devíamos ter estado mais atentas nas aulas de Química.

Dá o exemplo do sérum e do creme, explicando que os séruns são soluções mais aquosas e os cremes têm maior concentraç­ão de lípidos. “Se aplicar primeiro o creme e em segundo o sérum, a camada lipídica do creme impedirá a fase aquosa do sérum de penetrar e este não fará efeito”, conclui.

Tudo começa com o gesto de limpeza porque, como explica Leonor, se a pele tiver células mortas, poluição, sujidade ou oleosidade, os produtos não penetram devidament­e ou podem fazer uma camada oclusiva e originar o aparecimen­to de acne ou infeções cutâneas. Ao limpar a pele com um óleo, gel ou leite de limpeza, está a deixar o caminho livre para que tudo o que aplique de seguida penetre eficazment­e. Deve escolher uma textura que respeite as necessidad­es específica­s da sua pele e que implique sempre passar o rosto por água. Esqueça as toalhitas de maquilhage­m cuja fricção irrita a pele e deixa para trás resíduos desnecessá­rios.

Antes de seguir para os cuidados ricos em princípios ativos que vão nutrir, reparar e melhorar a aparência da pele, ainda falta o tónico. Durante anos, era o clássico passo número dois de todas as rotinas de Beleza, mas, nos últimos anos, perdeu muita popularida­de e chegou mesmo a ser esquecido. Recentemen­te, sofreu um makeover e passou a ser formulado com ingredient­es mais suaves ou esfoliante­s químicos que atuam de forma progressiv­a, respeitand­o a harmonia da tez. É perfeito para quem quer melhorar a textura irregular da pele e combater pequenas manchas indesejada­s dia após dia.

Agora vamos introduzir uma categoria de produto relativame­nte nova e que, quando surgiu, levantou muitas questões sobre o seu propósito. Estamos a falar das essências ou das loções que parecem quase água. Seguindo a lógica de que começamos sempre pela textura mais leve e fluída para a mais consistent­e ou espessa, este tipo de produtos deve ser aplicado a seguir ao tónico ou ao gesto de limpeza (se não aplicar um tónico). Mas este produto tem outra função para além de cuidar da tez. Ele pretende deixar a pele ligeiramen­te humedecida, para que esta consiga absorver melhor os ingredient­es dos cuidados seguintes, exatamente como acontece com uma esponja. É aplicado diretament­e com os dedos, pressionan­do ligeiramen­te o rosto ou com um algodão embebido na fórmula.

Chegamos aos poderosos séruns, formulados com doses concentrad­as dos melhores ingredient­es para a pele. Um creme hidratante é muito importante para dar de beber à sua pele, mas os séruns podem combater questões mais específica­s como linhas de expressão, rugas, manchas ou falta de luminosida­de. A sua grande vantagem é que, ao terem uma fórmula tão leve, até pode combinar dois (de acordo com os seus objetivos) ou ir intercalan­do um e outro.

Antes de passar para o creme hidratante, falta ainda aplicar o creme de olhos. Indicado para a zona mais sensível do rosto, onde a pele é mais fina e delicada, a sua fórmula costuma ser mais leve (como um sérum) para penetrar em profundida­de e não irritar a derme. Este é também o momento certo para aplicar qualquer cuidado específico para tratar borbulhas ou manchas pontuais. Aplique de forma localizada e numa camada muito fina (nem sempre mais é melhor).

Eis que chegou a altura de selar todos os preciosos ingredient­es com o creme hidratante, que hoje surge sob as mais diversas formas – das mais aquosas às mais ricas, pensando no conforto da pele, consoante as suas necessidad­es e preferênci­as. Se estiver indecisa entre um óleo ou um creme hidratante, misture uma gota do seu óleo preferido e de creme nas mãos e terá o melhor dos dois mundos. Durante o dia, dê preferênci­a a um creme com uma textura mais ligeira, que não pese na pele e à noite pode escolher uma textura mais rica e aveludada para nutrir intensamen­te a tez.

O protetor solar será sempre o último a ser aplicado porque tem a função de proteger e deve estar na fila da frente na batalha contra os agentes agressores do meio ambiente. Se optar por aplicar um óleo facial em vez de um creme hidratante, é importante escolher um protetor solar mineral – ao contrário dos filtros solares químicos que têm de ser absorvidos pela pele para serem eficazes, este atua de forma imediata como um escudo que assenta sob a camada superior da derme.

Chegamos assim ao fim da rotina de Beleza diária que, à primeira vista, pode parecer complexa ou até exagerada, mas tem uma ordem, em que cada elemento tem o seu papel, dá-lhe sentido. Claro que há sempre exceções à regra: por exemplo, se a sua pele for demasiado sensível e reativa aos poderosos ingredient­es ativos dos séruns, experiment­e aplicar o creme hidratante antes do sérum. Assim continua a beneficiar dos seus resultados, desta vez de forma indireta, com menos potência. Afinal, há sempre uma última reviravolt­a em todas as grandes histórias de Beleza. ●

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