Filinha indiana.
Cremes, séruns, esfoliantes e óleos entram e saem das nossas vidas a toda a hora. Um dia experimentamos um novo, acrescentamos outro ou regressamos a um favorito de sempre. A rotina diária de Beleza pode dar muitas voltas e mudar de protagonistas com freq
Os produtos de Beleza têm uma ordem e ser rebeldes não nos leva ao pódio.
Quantas vezes é que já esteve na secção de skincare de determinada loja de Beleza a olhar para as prateleiras carregadas de produtos? Quanto tempo é que já perdeu a tentar escolher o que é que tinha de levar para casa e, mais importante ainda, a tentar perceber exatamente para que serviam e quando devia usá-los? Não sei se vos acontece o mesmo, mas, no meu caso, muitas vezes apetece-me levar tudo. Lembro-me que, quando comecei a interessar-me por skincare, não descansei enquanto não comprei pelo menos três produtos da mesma linha, da mesma marca. Eram eles o leite de limpeza, o tónico e o creme hidratante. Não podia ser só um, não bastava um. Estava convencida de que só estaria a fazer a coisa da forma certa (cuidar da pele) se aplicasse os três passos religiosamente. Só teria resultados visíveis se fizesse a rotina completa. Ainda hoje, quando vou viajar, tenho dificuldade em deixar algum produto para trás. A promessa associada a uma rotina de Beleza completa – uma pele bonita e até quase perfeita – vale ouro. Só que cuidar da pele é muito mais que um ritual agradável de selfcare em que escolhemos alguns produtos – porque gostamos da embalagem, adoramos o aroma ou a melhor amiga nos recomendou – e os espalhamos na cara, de olhos fechados, na esperança de os abrir e olhar para a pele perfeita ao espelho, como se fosse magia.
O mundo da Beleza pode ser muito democrático (pelo menos é-o cada vez mais) e nós defendemos a máxima de que só deve usar o que resulta para a sua pele.
Mas por trás de tantos produtos maravilhosos que comemos com os olhos e têm as palavras certas na embalagem, está muita ciência. Não basta conseguir escolher o produto certo para nós – é preciso saber como e quando usá-lo.
“A ordem ou a sequência em que se aplicam os produtos não é indiferente. Dela depende, em parte, a obtenção máxima de resultados proporcionados por cada produto”, esclarece a dermatologista Leonor Girão. Pense também no dinheiro que está a deitar à rua ou em possíveis acidentes com reações indesejadas. Leonor diz que, muitas vezes, basta seguir as regras básicas da química. Ups, se calhar devíamos ter estado mais atentas nas aulas de Química.
Dá o exemplo do sérum e do creme, explicando que os séruns são soluções mais aquosas e os cremes têm maior concentração de lípidos. “Se aplicar primeiro o creme e em segundo o sérum, a camada lipídica do creme impedirá a fase aquosa do sérum de penetrar e este não fará efeito”, conclui.
Tudo começa com o gesto de limpeza porque, como explica Leonor, se a pele tiver células mortas, poluição, sujidade ou oleosidade, os produtos não penetram devidamente ou podem fazer uma camada oclusiva e originar o aparecimento de acne ou infeções cutâneas. Ao limpar a pele com um óleo, gel ou leite de limpeza, está a deixar o caminho livre para que tudo o que aplique de seguida penetre eficazmente. Deve escolher uma textura que respeite as necessidades específicas da sua pele e que implique sempre passar o rosto por água. Esqueça as toalhitas de maquilhagem cuja fricção irrita a pele e deixa para trás resíduos desnecessários.
Antes de seguir para os cuidados ricos em princípios ativos que vão nutrir, reparar e melhorar a aparência da pele, ainda falta o tónico. Durante anos, era o clássico passo número dois de todas as rotinas de Beleza, mas, nos últimos anos, perdeu muita popularidade e chegou mesmo a ser esquecido. Recentemente, sofreu um makeover e passou a ser formulado com ingredientes mais suaves ou esfoliantes químicos que atuam de forma progressiva, respeitando a harmonia da tez. É perfeito para quem quer melhorar a textura irregular da pele e combater pequenas manchas indesejadas dia após dia.
Agora vamos introduzir uma categoria de produto relativamente nova e que, quando surgiu, levantou muitas questões sobre o seu propósito. Estamos a falar das essências ou das loções que parecem quase água. Seguindo a lógica de que começamos sempre pela textura mais leve e fluída para a mais consistente ou espessa, este tipo de produtos deve ser aplicado a seguir ao tónico ou ao gesto de limpeza (se não aplicar um tónico). Mas este produto tem outra função para além de cuidar da tez. Ele pretende deixar a pele ligeiramente humedecida, para que esta consiga absorver melhor os ingredientes dos cuidados seguintes, exatamente como acontece com uma esponja. É aplicado diretamente com os dedos, pressionando ligeiramente o rosto ou com um algodão embebido na fórmula.
Chegamos aos poderosos séruns, formulados com doses concentradas dos melhores ingredientes para a pele. Um creme hidratante é muito importante para dar de beber à sua pele, mas os séruns podem combater questões mais específicas como linhas de expressão, rugas, manchas ou falta de luminosidade. A sua grande vantagem é que, ao terem uma fórmula tão leve, até pode combinar dois (de acordo com os seus objetivos) ou ir intercalando um e outro.
Antes de passar para o creme hidratante, falta ainda aplicar o creme de olhos. Indicado para a zona mais sensível do rosto, onde a pele é mais fina e delicada, a sua fórmula costuma ser mais leve (como um sérum) para penetrar em profundidade e não irritar a derme. Este é também o momento certo para aplicar qualquer cuidado específico para tratar borbulhas ou manchas pontuais. Aplique de forma localizada e numa camada muito fina (nem sempre mais é melhor).
Eis que chegou a altura de selar todos os preciosos ingredientes com o creme hidratante, que hoje surge sob as mais diversas formas – das mais aquosas às mais ricas, pensando no conforto da pele, consoante as suas necessidades e preferências. Se estiver indecisa entre um óleo ou um creme hidratante, misture uma gota do seu óleo preferido e de creme nas mãos e terá o melhor dos dois mundos. Durante o dia, dê preferência a um creme com uma textura mais ligeira, que não pese na pele e à noite pode escolher uma textura mais rica e aveludada para nutrir intensamente a tez.
O protetor solar será sempre o último a ser aplicado porque tem a função de proteger e deve estar na fila da frente na batalha contra os agentes agressores do meio ambiente. Se optar por aplicar um óleo facial em vez de um creme hidratante, é importante escolher um protetor solar mineral – ao contrário dos filtros solares químicos que têm de ser absorvidos pela pele para serem eficazes, este atua de forma imediata como um escudo que assenta sob a camada superior da derme.
Chegamos assim ao fim da rotina de Beleza diária que, à primeira vista, pode parecer complexa ou até exagerada, mas tem uma ordem, em que cada elemento tem o seu papel, dá-lhe sentido. Claro que há sempre exceções à regra: por exemplo, se a sua pele for demasiado sensível e reativa aos poderosos ingredientes ativos dos séruns, experimente aplicar o creme hidratante antes do sérum. Assim continua a beneficiar dos seus resultados, desta vez de forma indireta, com menos potência. Afinal, há sempre uma última reviravolta em todas as grandes histórias de Beleza. ●