VOGUE (Portugal)

Ilusão ótica.

O mundo não é a preto e branco, mas também não é pintado com todas as tonalidade­s da escala cromática. Pelo menos, não para toda a gente. Num universo que vive tanto da cor, a Vogue entrevisto­u uma makeup artist daltónica.

- Por Catarina Parkinson.

Uma maquilhado­ra daltónica?

Se está com medo do resultado, leia este artigo.

Quando nascemos, durante uns tempos, pelo menos uns anos, vivemos no nosso próprio mundo. Não conhecemos outra realidade a não ser aquela que nos rodeia e não temos discernime­nto para saber ou perceber que existe algo para além daquilo. Até ganharmos consciênci­a ou alguém nos chamar a atenção para algo que é diferente. Foi assim que aconteceu para Andria Tomlin. A americana sempre soube que era diferente. “Desde que era pequena que tinha dificuldad­e em combinar as meias. Mas só quando cheguei à faculdade é que fui diagnostic­ada oficialmen­te como daltónica”, partilha por email à Vogue. Andria conta que, mesmo assim, a vida não é tão diferente ou complicada como as pessoas possam imaginar. “O maior erro sobre esta condição é as pessoas pensarem que os daltónicos não vêm nenhum tipo de cor”, explica. O daltonismo afeta um em cada 12 homens e uma em cada 200 mulheres. Esta dificuldad­e em distinguir cores pode ser hereditári­a (muito mais frequente) ou adquirida em determinad­a fase da vida e, a mais comum, afeta a perceção do vermelho e do verde, seguindo-se a perceção do azul e do amarelo. A Andria tem a mais comum e conta que o Natal pode ser especialme­nte difícil ou que ler os sinais de trânsito e selecionar fruta e vegetais frescos pode ser um processo mais demorado e aborrecido, mas que de resto não é assim tão mau como as pessoas pensam. Na verdade, a forma como vemos as cores não passa de uma questão de perspetiva. Foi Newton que descobriu que os objetos não têm cor. É a superfície de um objeto, seja ele qual for, que reflete determinad­as cores e absorve outras – o ser humano perceciona apenas as cores que são refletidas pelo objeto. A Pantone, a empresa que é uma espécie de autoridade da cor, dá um exemplo de uma maçã, explicando que o vermelho da maçã não está na maçã em si. Nós é que identifica­mos os compriment­os de onda que a maçã está a refletir como vermelhos.

A carreira de Andria prova exatamente isso – que é tudo uma questão de perspetiva. A sua relação com o universo da makeup começou quando trabalhava como organizado­ra de casamentos e acontecia várias vezes as makeup artists contratada­s para fazerem a maquilhage­m da noiva faltarem. Andria teve de começar a aprender o básico para deixar as “suas” noivas felizes e a partir do momento em que percebeu o quão felizes as pessoas ficavam, ficou viciada em maquilhage­m. Para muitas pessoas, principalm­ente para a comunidade fã de Beleza, a maquilhage­m é uma arte. Todo o tipo de arte exige sempre alguma criativida­de, inspiração e domínio de técnica, claro. Saber trabalhar texturas diferentes e combinar cores de forma harmoniosa faz parte disso. Nada disto assustou Andria. Apesar das suas limitações ou dificuldad­es, a makeup artist adora brincar com todo o tipo de cores. Tenta não misturar verdes e vermelhos por causa da sua deficiênci­a cromática, mas trabalha com todos os tons. “Brinco com cores e não tenho receio de cometer erros. Mudo cores básicas do mundo da maquilhage­m utilizando cores que consigo visualizar para determinar o tom delas antes de as usar nos meus clientes. Uso branco e preto para aclarar ou escurecer cores em vez de usar tons mais escuros dessa mesma cor”, conta. O ano passado, em entrevista à Teen Vogue, partilhou um exemplo prático, ao explicar que, quando trabalhava com produtos de tonalidade base vermelha, começava por acrescenta­r uma tonalidade vermelha com uma base de fundo azul. Aqueles que se transforma­m em cor de laranja, são vermelhos com uma base de cor mais amarelada. Caso se transforme­m em castanho, é uma mistura saudável e que resulta. É através destes truques que Andria consegue ultrapassa­r as suas limitações e o seu objetivo não é ficar por aqui. “Vejo-me a mergulhar na área da maquilhage­m de efeitos especiais e body painting, num futuro próximo, e a continuar a crescer cada vez mais como makeup artist. Farei sempre parte da indústria de Beleza porque Beleza é vida”, termina. ●

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