Ilusão ótica.
O mundo não é a preto e branco, mas também não é pintado com todas as tonalidades da escala cromática. Pelo menos, não para toda a gente. Num universo que vive tanto da cor, a Vogue entrevistou uma makeup artist daltónica.
Uma maquilhadora daltónica?
Se está com medo do resultado, leia este artigo.
Quando nascemos, durante uns tempos, pelo menos uns anos, vivemos no nosso próprio mundo. Não conhecemos outra realidade a não ser aquela que nos rodeia e não temos discernimento para saber ou perceber que existe algo para além daquilo. Até ganharmos consciência ou alguém nos chamar a atenção para algo que é diferente. Foi assim que aconteceu para Andria Tomlin. A americana sempre soube que era diferente. “Desde que era pequena que tinha dificuldade em combinar as meias. Mas só quando cheguei à faculdade é que fui diagnosticada oficialmente como daltónica”, partilha por email à Vogue. Andria conta que, mesmo assim, a vida não é tão diferente ou complicada como as pessoas possam imaginar. “O maior erro sobre esta condição é as pessoas pensarem que os daltónicos não vêm nenhum tipo de cor”, explica. O daltonismo afeta um em cada 12 homens e uma em cada 200 mulheres. Esta dificuldade em distinguir cores pode ser hereditária (muito mais frequente) ou adquirida em determinada fase da vida e, a mais comum, afeta a perceção do vermelho e do verde, seguindo-se a perceção do azul e do amarelo. A Andria tem a mais comum e conta que o Natal pode ser especialmente difícil ou que ler os sinais de trânsito e selecionar fruta e vegetais frescos pode ser um processo mais demorado e aborrecido, mas que de resto não é assim tão mau como as pessoas pensam. Na verdade, a forma como vemos as cores não passa de uma questão de perspetiva. Foi Newton que descobriu que os objetos não têm cor. É a superfície de um objeto, seja ele qual for, que reflete determinadas cores e absorve outras – o ser humano perceciona apenas as cores que são refletidas pelo objeto. A Pantone, a empresa que é uma espécie de autoridade da cor, dá um exemplo de uma maçã, explicando que o vermelho da maçã não está na maçã em si. Nós é que identificamos os comprimentos de onda que a maçã está a refletir como vermelhos.
A carreira de Andria prova exatamente isso – que é tudo uma questão de perspetiva. A sua relação com o universo da makeup começou quando trabalhava como organizadora de casamentos e acontecia várias vezes as makeup artists contratadas para fazerem a maquilhagem da noiva faltarem. Andria teve de começar a aprender o básico para deixar as “suas” noivas felizes e a partir do momento em que percebeu o quão felizes as pessoas ficavam, ficou viciada em maquilhagem. Para muitas pessoas, principalmente para a comunidade fã de Beleza, a maquilhagem é uma arte. Todo o tipo de arte exige sempre alguma criatividade, inspiração e domínio de técnica, claro. Saber trabalhar texturas diferentes e combinar cores de forma harmoniosa faz parte disso. Nada disto assustou Andria. Apesar das suas limitações ou dificuldades, a makeup artist adora brincar com todo o tipo de cores. Tenta não misturar verdes e vermelhos por causa da sua deficiência cromática, mas trabalha com todos os tons. “Brinco com cores e não tenho receio de cometer erros. Mudo cores básicas do mundo da maquilhagem utilizando cores que consigo visualizar para determinar o tom delas antes de as usar nos meus clientes. Uso branco e preto para aclarar ou escurecer cores em vez de usar tons mais escuros dessa mesma cor”, conta. O ano passado, em entrevista à Teen Vogue, partilhou um exemplo prático, ao explicar que, quando trabalhava com produtos de tonalidade base vermelha, começava por acrescentar uma tonalidade vermelha com uma base de fundo azul. Aqueles que se transformam em cor de laranja, são vermelhos com uma base de cor mais amarelada. Caso se transformem em castanho, é uma mistura saudável e que resulta. É através destes truques que Andria consegue ultrapassar as suas limitações e o seu objetivo não é ficar por aqui. “Vejo-me a mergulhar na área da maquilhagem de efeitos especiais e body painting, num futuro próximo, e a continuar a crescer cada vez mais como makeup artist. Farei sempre parte da indústria de Beleza porque Beleza é vida”, termina. ●