Jean‑Paul Gaultier
Há mais de 40 anos na indústria, aquele que todos reconhecem como o enfant terrible da Moda permanece um símbolo de provocação – uma segunda natureza tanto de Jean-Paul Gaultier como das suas criações, tão influentes como imaginativas, irónicas e políticas. “O meu design não é sobre a minha própria fantasia, é mais sobre aquilo que eu sinto que as pessoas querem e sentem”, explicou Gaultier à Dazed.
“No início, costumava ler as críticas dos grandes couturiers, como Yves Saint Laurent ou Cardin, e tentava imaginar o porquê de alguns deles serem descritos como ‘controversos’ ou ‘chocantes’. Mas, sabes, o
Yves Saint Laurent estava muito atento àquilo que as pessoas queriam e eu tenho esse mesmo espírito – eu adoro ouvir, sentir e, mais importante, ser espontâneo.” Interpretando o vestuário, tanto feminino como masculino, com uma perspetiva incomum e um desejo de recusar aquilo que é esperado, Gaultier foi responsável por criações que impactaram o sistema, não apenas por serem “provocadoras”, mas também por questionarem clichés, códigos e tradições, estereótipos de género e imagens preconcebidas de feminilidade e beleza. Da saia masculina ao corpete com cones pontiagudos, o criador francês atreveu-se a brincar com elementos escondidos no guarda-roupa interior, transferindo-os para o exterior, convidou mulheres andrógenas para desfilarem as suas criações, abordou o hipersexual e o transgénero, e estabeleceu-se como um sinónimo de transgressão social na indústria da Moda. Na Alta--Costura – em 2015, o criador deixou de produzir as suas linhas de pronto-a-vestir e vestuário masculino para se dedicar inteiramente a ela, alegando que “demasiada roupa mata a roupa” e que “o sistema não funciona” –, Gaultier introduziu o fétiche, o bondage, a borracha e o PVC, elementos que seriam totalmente impensáveis, não estivéssemos a falar de Jean-Paul. “Basta olhares para qualquer coleção hoje para sentires a influência”, disse Gonçalo Velosa, um dos maiores colecionadores de Jean Paul Gaultier, à i-D. “Ele nunca se levou demasiado a sério, e nunca perdeu a noção daquilo que se passava na vida real.
Usou o humor camp e estéticas extremas para desafiar ideias de orientação sexual, género e beleza. Mas nós levamos as mensagens filosóficas e políticas dele a sério por causa do nível de craftsmanship e sofisticação das suas coleções. Tal como o seu mentor Pierre Cardin, o trabalho dele relembra-nos a todos que podemos encontrar o nosso próprio caminho.”