Alexander McQueen
“Deem-me tempo, e eu dou-vos uma revolução.” O tempo pode ter sido reduzido, ingrato até, mas a revolução de Lee Alexander McQueen, o miúdo-prodígio do grupo prodígio da Central Saint Martins, foi uma verdadeira epopeia de Deuses e Homens. No decorrer dos seus 18 anos de carreira, McQueen transcendeu não só aquilo que um desfile de Moda devia ser, com uma teatralidade tão fascinante quanto visionária, mas também aquilo que a própria Moda significava – e talvez seja por isso que o criador, o homem que encontrava beleza no grotesco e queria que as pessoas tivessem medo da mulher que ele vestia, foi uma das figuras menos consensuais da indústria. Do amor-ódio que começou em
1992, aquando da coleção Jack the Ripper Stalks His Victims – uma coleção que incluía um casaco estampado com espinhos e fios de cabelo do próprio McQueen cosidos nas peças – nasceu uma obra tão desafiante como concetualmente brilhante. De Highland Rape, um comentário sobre o abuso da Inglaterra sobre a Escócia, a Dante, o desfile de outono de 1996 que viu um esqueleto sentar-se na front row, sem esquecer Untitled, a coleção originalmente intitulada The Golden Shower – McQueen viu-se obrigado a mudar o nome, mas isso não o impediu de usar água e luz amarela para criar o efeito pretendido –, o designer nunca comprometeu a sua visão em nome de algo que não era. Para Joan, a coleção para o outono de 1998 inspirada em Joana d’Arc, o designer trocou a água pelo fogo e terminou o desfile com uma modelo numa máscara vermelha, rodeada por um círculo de chamas. Em No. 13, uma das mais aclamadas coleções de McQueen, a atleta paraolímpica Aimee Mullins desfilou com pernas protéticas criadas a partir de madeira de olmo, enquanto Shalom Harlow protagonizou uma das finais mais memoráveis da história – aquela em que dois braços robóticos pulverizaram tinta para pintar o vestido branco imaculado, enquanto a modelo rodopiava como uma bailarina. Isto tudo, claro, sem contar com o facto de McQueen ter usado um holograma de Kate Moss na passerelle, muito antes de a indústria musical ressuscitar o hype, e ter sido um dos primeiros designers a fazer um livrestream de um desfile. “Se existe uma forma de resumir o legado de McQueen é que ele perdura”, escreveu a jornalista Aria
Darcella num artigo publicado no CR Fashion Book. “Em todas as temporadas, ele criava peças que deixavam a indústria a querer mais. Foi um sentimento que se amplificou com a sua morte, em 2010. Aquilo que resta é uma obra tão fascinante, que desafia a própria definição de constante mudança da Moda.
Ele transformou-se numa figura mítica, muito à semelhança daqueles que o inspiraram.”